RS tem autorização para produção artesanal

RS tem autorização para produção artesanal

Agroindústria Barbaquá Machadinho, de Machadinho, polo ervateiro da Região Noroeste do Rio Grande do Sul, processa a erva-mate usando método de secagem de origem indígena, o qual confere sabor levemente defumado ao chimarrão

Por
Camila Pessôa

Em 2022, o Rio Grande do Sul conseguiu a segunda autorização, em todo o Brasil, para a produção de erva-mate para chimarrão a partir do sistema barbaquá, concedida à agroindústria Barbaquá Machadinho, do município de Machadinho. O método consiste em uma secagem artesanal, de origem indígena, em que a erva-mate, depois de “sapecada” (exposta ao fogo múltiplas vezes por curtos espaços de tempo), é colocada a um metro de altura do chão em uma câmara conectada por um túnel a uma fornalha. As folhas são mantidas numa temperatura de 85°C durante um dia inteiro, o que dá um sabor característico e levemente defumado ao chimarrão. 

A Barbaquá Machadinho também é responsável pela produção das folhas, em três hectares ainda pouco produtivos. “Inauguramos a agroindústria em setembro de 2022, por isso, a produção está abaixo do ideal, por enquanto”, diz Débora da Fonseca, uma das proprietárias. A habilitação foi uma conquista para a família de Débora, possibilitada a partir de um caminho que começou em 2016, com a atuação da Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sil em conjunto com o Programa Gaúcho para a Qualidade da Erva-Mate. O esforço culminou em 2019, quando a primeira agroindústria, pertencente a uma família do município de Seberi, foi habilitada para o método, relembra o coordenador do programa e extensionista da Emater/RS-Ascar, Ilvandro Barreto.

“Em 2016 foi criado o Programa Gaúcho para a Qualidade da Erva-Mate, que integra todas as instituições da cadeia produtiva da erva-mate do Rio Grande do Sul, e havia também a necessidade de se cumprir uma legislação da Secretaria Estadual de Saúde, que é a vigilância sanitária, com relação aos cuidados sanitários para a produção da erva-mate”, conta Barreto. Ele relata que, com isso, foi aprovada a Portaria Estadual 194/16, que torna obrigatório que toda a indústria ervateira no Rio Grande do Sul tenha uma pessoa responsável pela fabricação da erva-mate e que essa pessoa seja capacitada em um curso de boas práticas. 

Após a regulamentação das capacitações para o processo industrial moderno, o setor buscou, também, a regularização dos sistemas de produção artesanal. “À medida que o industrial passou a se adaptar às exigências da portaria, houve necessidade também de fazer um trabalho de legalização do sistema de produção barbaquá, porque ele estava fora desse processo sanitário, e a partir daí se iniciou todo a organização”, descreve Barreto. Existe também, dentro do Programa Gaúcho para a Qualidade e Valorização da Erva-mate, um movimento para a adequação das demais empresas que utilizam o barbaquá no processamento da erva para consumo. “Na medida em que o tempo vai avançando nós vamos ter aí novos barbaquás tendo a sua estrutura regulamentada e adequada às questões sanitárias de produção de erva-mate nesse sistema artesanal”, completa o extensionista.

Produção de folhas diferenciadas em sistema de estufa criado pela embrapa

A erva-mate é um produto versátil. Além de ser planta nativa e auxiliar as cadeias produtivas onde está inserida na manutenção da biodiversidade, pode ser usada na fabricação de inúmeros produtos que vão além do tradicional chimarrão, ou mesmo do tererê, o mate gelado. Durante 12 anos, a Embrapa pesquisou formas de ampliar o cultivo da planta, mesmo em áreas onde ela não se desenvolve naturalmente e em períodos de entressafra. O resultado do trabalho foi o sistema Cevad-estufa, lançado no início de março, que permite a produção de 10 safras da erva num período de 18 meses, espaço de tempo em que tradicionalmente apenas uma safra é obtida. 

Composto por calhas suspensas numa estufa, preenchidas com areia e que recebem irrigação por gotejamento, onde é plantada a erva, o sistema é projetado para colheita de folhas jovens, adequadas ao fabrico de diferentes tipos de chás. No Brasil, 90% da produção de erva-mate é destinada ao chimarrão, o qual deriva de folhas maduras. O pesquisador da Embrapa Florestas Ivar Wendling, que coordenou a pesquisa por mais de uma década, afirma que a intenção é criar novos nichos de comercialização para a folha, que tem em torno de 800 substâncias identificadas em sua composição, ao ponto de ser considera por estudiosos como “ouro verde”. Wendling destaca que ao longo do estudo se identificou que a erva em brotos novos apresenta mais antioxidantes, proteínas e cafeína, sendo possível agregar valor às bebidas e alimentos que a usem como ingrediente. 

O novo sistema permite que sejam alocadas mais de 300 mil plantas de erva-mate em um hectare, enquanto que no sistema de produção em campo são instaladas em torno de 2,2 mil plantas por hectare. Com isso, a produção pode chegar a 90 toneladas em um hectare no período de um ano. “A cada 60 dias, em média, é possível coletar novas brotações e folhas. Resultados mostraram que é possível produzir em um ano até 90 toneladas de biomassa por hectare no novo sistema, enquanto a média da produtividade nacional por hectare é de 7,5 toneladas por ano”, ressalta.

A Embrapa busca agora empresas privadas interessadas em validar o sistema, que tem um custo alto de implantação. O pesquisador acredita que, após a validação, o produtor deve buscar empresas interessadas em processar a folha diferenciada, garantindo a compra de sua produção antes de instalar o Cevad-estufa.

Correio do Povo
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