Safra de frutas do Litoral do RS deve ser menor

Safra de frutas do Litoral do RS deve ser menor

Produtores relatam que a sequência de estiagens no Estado prejudicou cultivos como os da banana e do maracujá, enquanto que extensionista da Emater/RS-Ascar indica que a fruticultura da região sofre também com os ventos

Por
Lucas Keske*

A proximidade do verão movimenta o setor de produção de frutas na região litorânea do Rio Grande do Sul. Mas neste ano o veranista verá uma oferta menor dos itens que costuma encontrar no Litoral. Isto porque, de acordo com o extensionista rural agropecuário da Emater-RS/Ascar, Luis Bohn, a região vive ainda sob os efeitos do ciclone-bomba de 2020 e da estiagem que atingiu o Estado nos últimos dois anos. Segundo Bohn, desde o evento climático as culturas litorâneas vem sofrendo com os ventos. Somado a isso, a demora para que o calor chegasse fez com que as produções não alcançassem seu pleno "potencial de desenvolvimento”. Bohn afirma que, em média, a produtividade de todas as frutas do Litoral terá um volume menor no próximo verão. 

Entre as frutas mais procuradas na estação, uma tem a fama de mais doce do Brasil: o abacaxi de Terra de Areia. As condições de clima e solo do Litoral gaúcho proporcionam na maturação do abacaxi um brix (índice de açúcar), em muitos casos, superior a 16 ( média das demais variedades cultivadas no país fica dentro deste limite). A popularidade desse tipo de abacaxi é tanta que, segundo Bohn, a fruta tradicional “se vende sozinha”, mesmo em safras não tão boas. Contudo, além do abacaxi de Terra de Areia, o Litoral do Estado também tem vastas produções de outras frutas tropicais, como banana e maracujá, frutas que estão sofrendo com o clima.

Para o agricultor Evanildo Mesquita, de Três Cachoeiras, que planta oito hectares de banana, “os preços melhoraram muito do ano passado pra cá”. Tanto ele, quanto Luis, creditam esse aumento de preço a diferença entre oferta e procura causada pela produção insuficiente deste ano. Ou seja, o pequeno volume de banana disponível faz com que o consumidor pague mais caro para comprar as frutas de maior qualidade, o que aumenta o preço por quilo. Conforme a cotação da Coopangal (Cooperativa de Produtores Agrícolas do Nordeste Gaúcho), da cidade de Três Cachoeiras, a média de preços da banana prata foi 75,5% (de R$1,43 o quilo para R$ 2,51 o quilo) maior neste ano e, da caturra, 143,5% maior (de R$0,97 o quilo para R$ 2,51 o quilo), em comparação com os preços do mesmo período do ano anterior. Mesmo assim, segundo Evanildo, “esse aumento não foi suficiente para empatar”, se referindo ao fato de que, mesmo com a subida do preço por quilo, o acréscimo de valor não cobriu os custos de produção e nem recuperou o prejuízo da baixa produtividade dos bananais. Em 2020/2021, os bananais gaúchos perderam 69 mil toneladas de fruta, volume que diminuiu para 29 mil toneladas em 2022 e que deve ficar em 26 mil toneladas em 2023. 

Diana Justo, presidente do Sindicato do Trabalhadores Rurais de Torres, região conhecida pela produção de maracujá, informa que o plantio da fruta está atrasado. “A seca teve um impacto grande e deve seguir tendo efeito por alguns meses”, afirma Diana. Ela recorda que o plantio de maracujá acaba de acontecer, ou seja, está atrasado em relação ao período tradicional, início da primavera. As recentes chuvas, além de algumas iniciativas de irrigação, podem melhorar o resultado. Segundo Diana, a maior parte da produção de maracujá é vendida para São Paulo, mas ressalta que um sucesso turístico no Litoral, durante o verão, pode ajudar na arrecadação dos produtores.

*Sob supervisão de Nereida Vergara.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895