Se os fuscas da oficina do Atila falassem...

Se os fuscas da oficina do Atila falassem...

Átila Fontoura, 51 anos, tem uma vida que se mistura com a paixão por fuscas, que o acompanham desde guri

Por
Christian Büeller

Fuca. Fusqueta. Besouro. Pulga. Corcunda. Tartaruguinha. Herbie. Chame como quiser. Carro mais popular do Brasil, mesmo quase 30 anos depois da sua última linha de produção no país, o Volkswagen Fusca segue no imaginário tupiniquim como um dos representantes de tempos que não voltarão mais. Muitos motoristas deram suas primeiras voltas neste modelo, criado na Alemanha e que chegou por aqui em 1950. Quem ainda mantém um exemplar do simpático veículo em casa, costuma tratá-lo não apenas como um meio de transporte, mas como um ente especial. A expressão “paixão” se aplica com correção para descrever o sentimento do proprietário deste tipo de carro que já foi até personagem de filme. Um destes enamorados – parafraseando a película de 1977 da série “Se meu fusca falasse” – tem uma oficina especializada em manutenção e customização de Volkswagens refrigerados a ar. Passam por lá Brasílias, Variants, Pumas e Kombis que não são “a água”, entre outros. Mas, literalmente, o carro-chefe da Air Blower Garage, localizada no bairro Sarandi, é o fusca. “Cada um que mexo parece um filho, todos são muito prazerosos de fazer. A alegria de ver na rua rodando é algo surreal”, conta Atila Israel Machado Fontoura, 51 anos, que gerencia a oficina com o filho mais velho, Atila da Rosa, 31. 

O proprietário com nome de imperador tem uma forte atração por carros antigos desde a pré-adolescência. “Ia para escola em uma kombi verde e branca, a ‘Vovó’, depois o seu Aristeu, que nos levava, a trocou por uma kombi clipper, eu achava legal o barulho. Meu pai, militar, trabalhava como taxista nas folgas, em um fusca. Saíamos para comer cachorro-quente, eu sentado no banco de trás, sem o assento ao lado do motorista”, recorda, com riqueza de detalhes. O ronco do motor chamava a atenção do jovem, principalmente em um fusca branco com roda cruz de malta que passava na rua. “Eu ficava no portão, via ele acelerando, achava demais. Mais para frente, um tio me chamou para trabalhar com ele em sua oficina, que era especializada em Volkswagen e Decave (DKW). Lá, aprendi muito sobre mecânica”, diz Atila.

Após o primeiro grande desafio, de trocar, sozinho, um cabo de acelerador de fusca, já era fácil de ver que o apreço por este modelo era um caminho sem volta. A constituição da sua família se mistura com o gosto pelo “beetle”. “Este ano, faz 35 anos que comecei meu namoro com a minha esposa, Rubiane. Eu a levava para sair em um fusca, do meu tio, com o qual tirei carteira de habilitação. O meu primeiro carro também foi um fusca branco, também com roda cruz de malta que havia ficado na minha lembrança. Todas as gravidezes dela foram com este carro”, relembra.

Frequentador assíduo de encontros de automóveis antigos, Atila fundou o primeiro clube de fuscas do Rio Grande do Sul. Após anos de empregos em concessionárias, o sonho de ter uma oficina especializada nos carros que fizeram a sua cabeça de menino, nasceu em sua garagem em 2018, a Air Blower Garage. Atualmente localizada na avenida Francisco Silveira Bitencourt, a oficina, com quase 400 clientes, entrega uma média de oito carros por semana e promoverá, no dia 25 de março, uma festa open day comemorativa aos cinco anos de inauguração. “Três destes anos foram ao lado do meu filho Atila, que se criou dentro de um fusca. Ensinei a profissão a ele”, se orgulha o pai zeloso, ainda, de Alef, 27 anos, e Anna. Aliás, a filha de Alef, Aurora, é responsável por uma das histórias mais bonitas que vêm à mente do especialista quando pensa em sua trajetória. “Em dezembro, fui ao Rio de Janeiro com o meu fusca, o Cheiroso, para conhecer minha neta. Ela pôde passear nele que, aliás, é invendável. É um carro que faz parte da família. Foram 3,6 mil quilômetros de estrada”, se emociona. 

A paixão virou negócio. No entanto, segundo Atila, o lucro não é o mais importante. “A gente precisa de dinheiro, mas este não é o principal objetivo. O melhor é ver este modelo se perpetuar. Buscar o melhor para que estes carros se conservem”, frisa.

 

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895