Setembro alerta para a saúde mental
Por
Maria José Vasconcelos

Campanha nacional trata sobre a prevenção ao suicídio. Mas, no âmbito escolar, alerta para reflexão e atenção a dificuldades ligadas ao atendimento em educação especial e transtornos diversos, junto a professores e alunos.

Este mês nos remete ao Setembro Amarelo, campanha brasileira, iniciada em 2015, de prevenção ao suicídio. Mas a data amplia o espectro, contemplando problemas emocionais, que afetam a população de todos os continentes e idades. E, no âmbito escolar, alerta para a reflexão e atenção a dificuldades ligadas ao atendimento em educação especial e transtornos diversos, como deficiência intelectual e de desenvolvimento, com casos de autismo, depressão, ansiedade, hiperatividade, déficits de atenção, alimentar, afetivo bipolar, esquizofrenia e outros.

Entre professores e alunos, relatos de ansiedade ou depressão são cada vez mais frequentes no Brasil, principalmente com o retorno das aulas presenciais, após dois anos de restrições com a Covid-19. No período pandêmico, o trabalho remoto já exigiu recursos, equipamentos e esforços próprios para dar aula e cumprir o calendário escolar, além do enfrentamento de problemas na estrutura educacional, que se arrastam bem antes da crise sanitária. Marilda Facci, da Associação Brasileira de Psicologia Escolar Educacional, afirma que precarização do trabalho, pouco investimento e desvalorização da educação no país motivam o adoecimento de educadores, conforme pesquisas. Assinala que tal constatação é confirmada no estudo “Novas formas de trabalhar, novos modos de adoecer”, da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), junto a 714 trabalhadores da educação, no final de 2021. Problemas nas cordas vocais, distúrbios osteomusculares, lesão por esforço repetitivo e doenças do aparelho respiratório foram danos físicos mais notificados pelos docentes. Em danos psicológicos, destacam-se estresse crônico, ansiedade, depressão e síndrome de Burnout. E sociais, relacionam-se a sobrecarga, hiperatividade, solidão e assédio moral. Para Marilda, é importante fazer um trabalho coletivo para ajudar a saúde física e psicológica dos professores.

Alunos também enfrentam crise. Estudos revelam que, com a pandemia e as novas formas de ensinar, surgem problemas gerados pelo isolamento, e mais casos, como ansiedade, insegurança, falta de ar, tremor e crise de choro. 

Legislações

Tramita, em caráter conclusivo e será analisado pelas comissões de Educação e Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei (PL) 542/21, já aprovado pelo Senado. A proposta determina a realização, nos estabelecimentos de Educação Básica e Superior, de atividades de esclarecimento sobre a saúde mental durante uma semana. O texto delibera que os estabelecimentos públicos e privados poderão decidir, de acordo com a proposta pedagógica e o público específico, a semana mais adequada para promover suas ações no evento. Conforme o autor do PL, senador Jorge Kajuru (GO), “essa medida poderá ajudar pais, alunos e professores a superar os preconceitos que envolvem a saúde mental, incentivando essa discussão com naturalidade e empatia”.

Já a psicóloga Helena Scarparo lembra que o Movimento da luta antimanicomial aconteceu a partir da necessidade de desenvolvimento de uma política nacional de saúde mental que pudesse fortalecer processos de mudança do imaginário social sobre a loucura. Assim, a Reforma Psiquiátrica brasileira é instituída pela Lei 10.216/2001. No entanto, adverte que, nos últimos cinco anos, se verificam desmontes sistemáticos, que revertem a lógica de fechamento de leitos em “manicômios”, para que sejam oferecidos atendimentos multidisciplinares asilares adequados, com Serviços Residenciais Terapêuticos, em trabalho em direção ao lar.

Cientes da importância da escola na sociedade e da relevância da campanha do Setembro Amarelo, que trata sobre saúde mental, a rede nacional de Educação Santa Marcelina vem promovendo diversas ações gratuitas e campanhas de apoio, com objetivo de fornecer apoio emocional à comunidade escolar.

Data: O mês foi escolhido porque, desde 2003, 10/9 é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Mas a data teve origem nos EUA, em setembro de 1994, quando Mike Emme, 17 anos, cometeu suicídio. Como ele tinha um Mustang 68 amarelo, no velório, seus pais e amigos distribuíram cartões amarrados em fitas amarelas, com frases de apoio a pessoas que pudessem estar enfrentando problemas emocionais.

OMS: No mundo, a Organização revela que, anualmente, mais de 700 mil pessoas tiram a própria vida (principal causa de morte entre 15 e 29 anos, em 2019). No Brasil, o Datasus aponta que o total de óbitos por lesões autoprovocadas dobrou, de cerca de 7 mil para 14 mil, nos últimos 20 anos. Nas Américas, está na frente de Colômbia e México. E o RS é o estado que ocupa o topo do ranking, com o maior número de casos do país.

Pandemia: Houve um aumento de 25% na prevalência de ansiedade e depressão, no mundo.

Lei Antimanicomial: A legislação, com 21 anos, traz regras de proteção e define direitos das pessoas com transtorno mental.

Ação: “Bem Me Quer, Bem Me Quero: Cuidar da sua saúde mental é um exercício diário”, da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos, visa conscientizar sobre depressão, ansiedade e prevenção ao suicídio, por meio da valorização do autocuidado e equilíbrio na rotina. Clique aqui para ver.

Campanha: “Seja luz. Guie caminhos”, do Serviço Social da Indústria (Sesi-RS), busca levar o tema do Setembro Amarelo ao setor e à sociedade, para que todos tenham um olhar especial e percebam quem precisa de ajuda. Clique aqui para ver.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895