Simulações embalam sonhos de estudantes

Simulações embalam sonhos de estudantes

Alunos gaúchos descobrem grande paixão ao viver papéis de juízes, diplomatas ou jornalistas

Grupo de alunos do Colégio Rosário, em Porto Alegre, inicia preparativos para a experiência no exterior

Por
Bárbara Niedermeyer*

Jovens gaúchos têm adquirido grande bagagem de aprendizados para levar pelo resto da vida – como em geopolítica, idiomas e relações internacionais –, por meio da participação em simulações das Organização das Nações Unidas (ONU). Para quem é novo neste mundo, as atividades ficaram populares ao redor do planeta e também no Brasil nos últimos anos. De modo geral, permitem que estudantes interpretem papéis, como de juízes, diplomatas, jornalistas ou políticos, em reuniões de grandes organizações internacionais. 

Aos 17 anos, Fernanda Boeira Vargas, aluna do Colégio Marista Rosário, em Porto Alegre, já coleciona participações e certificados nas ações. Quando entrou na escola, em 2018, lembra que foi estimulada por seu professor de História a participar do Clube de Relações Internacionais e Simulações Diplomáticas (Crisd) do Rosário. E, de acordo com ela, foi paixão à primeira simulação. “Desde criança, eu gostava muito de história, nunca fui muito boa com números. Logo que conheci o Crisd, eu já queria fazer parte, porém, por causa da minha turma, tive que esperar dois anos, pois estava no 7º ano e só poderia participar no 9º”, explica. Entretanto, ao atingir o nível escolar necessário, um novo desafio surgiu. “Quando, finalmente, chegou a minha vez, começou a pandemia. Então, em 2021, entrei no clube, mas ainda de forma on-line. Desde aí, me apaixonei pela ideia e participei de várias simulações. Naquele mesmo ano, ocorreram umas sete”, assinala ela. 

Para Fernanda, um dos aspectos positivos da participação está na evolução que sente no seu dia a dia e, até mesmo, dentro do clube. “Entrei no Crisd sem saber nada sobre o assunto, e hoje sou secretária-geral.” Das portas do Rosário para fora, conta que a experiência a fez desenvolver mais empatia e conhecer culturas, além de auxiliar em momentos importantes de sua vida. “Um exemplo prático do impacto é que me ajudou muito com vestibulares e o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Tenho certezade que muitas questões eu só soube por causa das simulações. Participar delas faz perceber coisas que não enxergaríamos de fora. Quantos conflitos há no mundo que nem sabemos que existem?”, indaga. 

Futuro

Para Fernanda, participar das simulações é sinônimo de comprometimento com o mundo que se vive e com o futuro. “Gastamos fins de semana para poder viver essas experiências. Acho legal termos uma juventude que se importa com mais do que a vida apresenta. Conforme adquiro conhecimentos nas simulações, olho para o mundo que vivo e para o que estou construindo para o futuro dos meus filhos.”

A jovem afirma que pensa em continuar nas simulações, mas as tornando parte do seu cotidiano real, ingressando em curso de Relações Internacionais. No entanto, não descarta totalmente o Jornalismo, função preferida para simular. “Gosto de ouvir o que estão discutindo, escrever uma matéria e fazer postagens. Tudo que um jornalista pode fazer”, argumenta.

Ensino Superior

Além de auxiliar na preparação para provas, as simulações podem ser importantes para graduandos do Ensino Superior, como ressalta Júlia de Oliveira, de 24 anos, que cursa Relações Internacionais na Universidade Federal do RS (Ufrgs). Atualmente, ela é secretária-geral do UfrgsMundi, projeto de extensão feito por universitários para que jovens do Ensino Médio possam realizar simulações ao estilo ONU e também conhecer espaços das instituições e adquirir conhecimentos. “Eu vejo o UfrgsMundi como uma porta de entrada, pois dá possibilidade de alcançar alunos de baixa renda e permitir que possam ter acesso a essa oportunidade e à própria universidade” relata. A última edição do evento, neste ano, reuniu cerca de 300 jovens, incluindo Fernanda. Uma nova edição acontecerá em 2023 e, no momento, está sendo feita a escolha da equipe organizadora.

Harvard

Após terem participado de simulações do Rosário, UfrgsMundi e Colégio Pan American, Fernanda e os colegas se preparam para alçar novos voos, desta vez no exterior, depois de serem selecionados para a Harvard Model United Nations (HMUN), que ocorre na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Esta é uma das mais prestigiadas simulações para alunos de todo mundo e conta com cerca de 4 mil jovens líderes de 50 países.

Junto com nove colegas, a jovem embarcará para os EUA em 22 de janeiro de 2023. As simulações vão começar em 26/1 e o processo seletivo para participar iniciou em abril. “A iniciativa de ir para Harvard foi minha, gosto muito dessas simulações, acho que são uma possibilidade de crescimento. Tivemos, inclusive, apoio de alunos do Colégio Leonardo Da Vinci Alfa (em Porto Alegre), que foram até a nossa escola para dar um panorama sobre o assunto”, cita Fernanda. 
Animada, a jovem deseja agregar imensa aprendizagem com a experiência. “Eles simulam um modelo diferente do nosso, que é europeu. Então, espero trazer conhecimentos para aplicar aqui, além de melhorar o inglês”, finaliza. 

Jovens Embaixadores

Aluna gaúcha foi selecionada para programa internacional | Foto: Kelly Ramos / Divulgação / CP

Assim como Fernanda e colegas, outra estudante gaúcha embarca para os Estados Unidos no próximo mês. Ela vai representar o RS em atividade que também envolve relações internacionais, geopolítica e culturas mundiais: o programa “Jovens Embaixadores”, promovido pela Embaixada e Consulados dos Estados Unidos no Brasil. Kelly Ramos (foto), de 18 anos, aluna da Escola Estadual de Ensino Médio Professor Júlio Grau, em Porto Alegre, será a única gaúcha participante no evento. Uma das 50 selecionadas nessa proposta, ela conta que a oportunidade é a realização de um sonho pessoal. “Sempre tive o desejo de viajar, sair do país, e comecei a pesquisar oportunidades que pudessem realizar meus sonhos. Eu não tinha dinheiro para viajar, sou de escola pública. Quando encontrei o “Jovens Embaixadores” e vi que tinha os requisitos – que incluíam inglês, boas notas e um projeto de empreendedorismo social – eu me inscrevi. No começo, não achava que iria conseguir, já que são só 50 selecionados. Então, foi um choque saber que fui escolhida. Não caiu a ficha ainda”, relata. O evento ocorrerá entre os dias 10 e 29 de janeiro de 2023, em Washington, nos Estados Unidos. 

*Sob supervisão de Maria José Vasconcelos

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895