Um ano na história da dupla Ca-Ju

Um ano na história da dupla Ca-Ju

Acessos para a Série C e A, respectivamente, recolocam os times da Serra em evidência

Por
João Paulo Fontoura

Fora de Porto Alegre, nenhuma outra cidade no Rio Grande do Sul comporta dois clubes estruturados, com torcida e projeção como Caxias do Sul. Na serra gaúcha, Caxias e Juventude mobilizam a comunidade, mas nem sempre conseguem transformar em fruto a semente desta mobilização. Um dos centros econômicos do estado, a região encerra o ano comemorando os feitos obtidos em conjunto pelos dois no cenário do futebol brasileiro. 

“Foi uma temporada única para a dupla Ca-Ju. Se a gente voltar para o final da década de 1990 com os títulos estaduais e a Copa do Brasil, os resultados se alternaram. E dessa vez embora sejam situações diferentes, eram muito necessárias”, avalia Gilberto Júnior, narrador e coordenador da rádio Caxias.

O lado grená da cidade comemorou mais cedo. Após o vice campeonato do Gauchão no primeiro semestre, no início de setembro, depois de oito anos, sendo os últimos batendo na trave no último passo para deixar a Série D, o time finalmente conquistou o acesso para a Série C. A classificação e o alívio vieram no sufoco com uma vitória no Rio de Janeiro sobre a Portuguesa carioca nas quartas de final. Ano que vem será a 16ª participação do time gaúcho na Terceirona nacional. 

O lado verde e branco sofreu também até semana passada na reta final da Série B do Campeonato Brasileiro. Após desperdiçar uma sequência de jogos dentro do Alfredo Jaconi na reta final da competição, a equipe teve que buscar fora de casa o acesso. E foi de forma dramática, de virada, com um jogador a menos, nos minutos finais contra o Ceará.

Em comum nas duas trajetórias, além dos resultados proveitosos, a capacidade de administrar os problemas no caminho, algo corriqueiro para clubes do interior e apostas certeiras. Não ter sido campeão da Série D ou da B não altera o proveito que será tirado ali na frente. “O Caxias tinha até uma necessidade até financeira e de calendário, por isso a Série C é muito importante. E o Juventude voltando para a elite com um quadro de projeção de marca muito maior. Sem dúvida foi um ano histórico e também pela recondução do público aos no Centenário e no Jaconi. Foram atingidos objetivos dentro em fora do campo, sendo então 2023 um ano marcado na história”, completa Gilberto.


Pensando em 2024, o Caxias larga em vantagem em relação ao rival. O calendário lhe permite dar início nesta segunda-feira à pré-temporada, ao contrário do Ju que recém deu férias ao grupo de jogadores. Na página ao lado, o Correio do Povo traz uma entrevista com os dois presidentes. Eles relembram como foi 2023, as mudanças de técnico, o desafios pela frente agora com perspectiva de maiores recursos depois do ano marcado na história desportiva da cidade da Serra. 


A torcida do Caxias vibrou muito com o acesso à Série C | Foto: Luiz Erbes / S.E.R. Caxias / CP 

Cinco perguntas para Mario Antônio Werlang, presidente do Caxias


Mario Antônio Werlang, presidente do Caxias | Foto: Luiz Erbes / S.E.R. Caxias / CP 

Como o senhor define a temporada de 2023?
Muito boa, conseguimos atingir todos os nossos objetivos. Nada a reclamar, só felicidade. Agora é organizar o clube para 2024 e se conseguirmos repetir os mesmos níveis em 2024, vamos estar em outro patamar em 2025.
 
Logo depois do Gauchão houve a troca de comando técnico e não demorou muito para uma segunda mudança. Esse foi o momento de maior necessidade da diretoria ser assertiva?
Perdemos vários jogadores e a comissão técnica, o que é normal no interior. E aí precisamos fazer a troca. Como o Thiago Carvalho tinha um estilo de jogo bem diferente do que é o costume no futebol gaúcho, foi uma transição difícil. Tivemos que nos adaptar a uma nova realidade e o Tcheco veio, fez um grande trabalho, mas a transição estava um pouco demorada. Tivemos que tomar uma outra atitude e trazer o Gerson Gusmão. E acho que foi certo pelo momento. Aí partimos para um futebol mais competitivo e conseguimos atingir o objetivo de subir.
 
A Série C era um objetivo antigo que tinha ‘batido na trave’ mais de uma vez. Qual o tamanho da mudança de expectativa agora?
Agora é outro campeonato, com nível mais alto do que a D. Estamos nos preparando para esse objetivo que é chegar na B em 2025. Realmente a série C era o objetivo do ano assim como a conquista da vaga na Copa do Brasil. Esse patamar está trazendo o Caxias para novas experiências. Eram anos sem conseguir o acesso e isso estava complicando o clube e a torcida. Veio no momento certo em que o clube está organizado.
 
Com maior aporte financeiro a ideia é direcionar os investimentos para saldar eventuais dívidas, concentrar no futebol ou em estrutura?
O Caxias está estruturado e sem dívidas atrasadas. Estamos fechando o ano com recursos a buscar para completar o mês de dezembro, mas vamos terminar a temporada com déficit zero. Isso vai permitir o orçamento do ano que vem boa parte para o futebol. Esse ano investimos em reformas no vestiário, em bares, o gramado está muito cuidado. Ano que vem queremos melhorar a iluminação e quem sabe conseguir um aporte.
 
Qual a expectativa para o Gauhcão 2024?
A tradição do Caxias é entrar forte no Gauchão e não vai ser diferente. O time já começa a treinar dia 4 e é o grupo que vai jogar Gauchão, Série C e Copa do Brasil, talvez com alguns ajustes. O objetivo é terminar entre os quatro como vem acontecendo nos últimos anos. Isso dá projeção pois o Gauchão sempre foi muito importante para os clubes do interior pelo fôlego financeiro que dá. O Caxias vem forte. 

Cinco perguntas para Fábio Pizzamiglio, presidente do Juventude


Fábio Pizzamiglio, presidente do Juventude | Foto: Gabriel Tadiotto / E.C. Juventude/ CP

Como o senhor define a temporada de 2023?
Muito positiva. Nosso principal objetivo, que era o acesso, foi alcançado e isso nos traz mais segurança e uma perspectiva ainda mais sólida para a próxima temporada. Tivemos bons resultados também em outras esferas, como no departamento feminino, onde também subimos de divisão nacional e fomos campeões do interior gaúcho. Além das questões extracampo, na esfera administrativa por exemplo, onde também nos mantivemos com uma importante estabilidade, algo muito difícil para clubes do porte do Juventude.
 
Na Série B houve uma mudança de rota a partir da troca de comando com a troca do Pintado, com história no clube, pelo Thiago Carpini que havia feito grande Paulistão no Água Santa. Aquele foi o momento da diretoria ser assertiva?
O Pintado é um grande profissional, de muita competência e um personagem identificado com o clube, mas infelizmente o trabalho não encaixou. É um grande amigo nosso e mantemos contato sempre, mas tivemos que optar pela troca. A chegada do Carpini, mudou o rumo da equipe e foi sim fundamental para a retomada no campeonato. É um profissional que identificou muito bem o cenário e soube trabalhar as peças que estavam a disposição.
 
Agora que o clube volta para a Série A, o mais difícil é permanecer?
Permanecer na primeira divisão é muito difícil para um clube do tamanho do Juventude. Então, logicamente, nosso grande objetivo será o de nos mantermos na Série A. Isso não nos impede, porém, de sonhar com algo maior como uma sul-americana por exemplo, já que a diferença de pontuação não é tão grande entre permanecer e buscar uma vaga na competição.
 
Com maior aporte financeiro a ideia é direcionar os investimentos para saldar eventuais dívidas, concentrar no futebol ou em estrutura?
Nossas dívidas estão sempre equacionadas. Há alguns anos temos uma dívida estável, então boa parte do valor da verba será destinada ao futebol, mas sempre mantendo nosso objetivo de melhorar a estrutura física do estádio Alfredo Jaconi e do nosso CT. 
 
Qual a expectativa para o Gauchão 2024?
Pretendemos entrar com um time já pensado para jogar a Série A. Esperamos chegar, no mínimo, às semifinais, e a partir daí, entrar na briga pelo título. Sabemos que é um campeonato muito difícil porque vamos iniciar a preparação de campo apenas no início de janeiro, respeitando as férias dos atletas, que encerraram as atividades no final de novembro. Então, teremos pouco tempo de preparação e o começo tende a ser mais complicado, com a equipe sendo montada, mas temos boas expectativas apesar dessa dificuldade.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895