Uma saudade ‘monumental’

Uma saudade ‘monumental’

Há dez anos, o Grêmio jogava pela última vez no Estádio Olímpico, palco de inúmeras memórias para o torcedor do Tricolor

Por
Mauri Dorneles

Não há um gremista na casa dos 30 anos que não sinta saudades do Velho Casarão. Há 10 anos, em 17 de fevereiro de 2013, os tricolores entraram no bairro do Monumental, a Azenha, sentindo-se em casa pela última vez. Pela oitava rodada da Taça Piratini, o primeiro turno do Gauchão daquele ano, o time, à época treinado por Vanderlei Luxemburgo, venceu o Veranópolis por 1 a 0.

Assim que os portões foram fechados após a partida, milhares de órfãos do Olímpico tiveram que aprender o caminho de outro lugar que, só anos mais tarde, se tornaria, de fato, a nova casa do clube: a Arena do Grêmio, do outro lado da cidade. Até mesmo o transporte público da capital precisou de adaptar. A linha Futebol, que pegava a Érico Veríssimo, mudou a rota e agora transita pela Castelo Branco. Tudo mudou na última década. Menos a saudade. Essa não passa. Às vezes menor, às vezes maior, mas todo aquele que cruza por ali, pertinho da rótula do Papa, lembra o que viveu naquele espaço. Até porque as lembranças ainda estão lá, menos a aura do Monumental, que pelo descaso dos antigos e atuais donos, transformou o “casarão” em um terreno praticamente abandonado. 

O nem tão novo lar assim é motivo de nariz torcido até hoje. Não pelo sentimento. Passados dez anos e alguns títulos depois, a Arena e a nova alma criada parecem ser insuficientes para preencher o vazio deixado pelo velho estádio. O estádio, com o passar do tempo, construiu sua cultura. Aos poucos, a rotina dos jogos e de quem trabalha no equipamento alicerçou o novo lar gremista. 

Na zona central, pertinho da zona sul, ali colado no Menino Deus, foram 1.766 jogos, 21 voltas olímpicas nos seus 58 anos de história. A decisão de deixar o senhor Olímpico pela jovem Arena foi da gestão da época, de 2011/2012, do presidente Paulo Odone, em razão das necessárias reformas e modernidades que precisariam ser colocadas em prática no Olímpico para adaptar-se à evolução do futebol. A festa de despedida oficial foi o último dos inúmeros Gre-Nais que o estádio recebeu, em dezembro de 2012. Porém, no início do ano seguinte em razão de a Arena apresentar problemas na estrutura, o Olímpico voltou a receber jogos. Até o derradeiro e melancólico adeus oficial em fevereiro de 2013. Quem estava em campo naquela oportunidade não se esquece de como foi ir embora de casa. A partida contra o Veranópolis terminou em 1 a 0, com gol do zagueiro Werley, o responsável por fazer as redes da goleira do lado da avenida Carlos Barbosa gremista balançarem acompanhadas de uma sonora avalanche pela última vez. 

“Fiz alguns importantes, só que esse acaba que ficou marcado, por ser o último do estádio, num estádio com tantas glórias e tantos títulos. Era uma jogada que a gente trabalhava muito, o Zé Roberto batendo o escanteio fechado, era uma jogada que sempre fui feliz, fazia o gol no primeiro pau”, contou o ex-jogador gremista. O dia 17 de fevereiro de 2013 assistiu à derradeira comemoração de um gol em azul, preto e branco, no Olímpico.

A mudança para a Arena

A troca do Olímpico pela Arena não se deu sem uma série de discussões e divisões. Afinal de contas, deixar para trás uma casa emblemática não era uma questão simples para a torcida.

À época, o presidente Paulo Odone escolheu por um novo estádio para modernidade e melhorias do clube. De acordo com o ex-dirigente, o antigo Olímpico não tinha condições de ser reformado. Embalado pelo boom da Copa do Mundo que seria sediada no Brasil em 2014 e a tendência de reformas e construções de estádio, a direção queria deixar um legado futuro: “Se falava muito na capacidade de recursos internacionais que se tinha para investir no futebol brasileiro, principalmente em estádios, pela Copa do Mundo. Não poderíamos perder essa oportunidade, quem me ponderou isso foi inclusive o presidente Fábio Koff”.

De acordo com Odone, na época, o terreno do Olímpico foi avaliado em R$ 50 milhões. No Conselho, foi votada a mudança, aprovada por ampla maioria, e, posteriormente, escolheu-se a proposta da construtora OAS. Só um se opôs à mudança: o ex-presidente Hélio Dourado. Desde a inauguração, em 8 de dezembro de 2012, o contrato foi mudado, segundo Odone, mas o clube cumpriu com suas responsabilidades. No entanto, o futuro do estádio é de entendimento da prefeitura e da Meta, nova administradora da OAS.

Segundo o prefeito Sebastião Melo, o descaso com o Olímpico representa quatro problemas para a cidade: urbanístico, estético, social e de segurança pública. Melo garante, no entanto, que a questão será resolvida ainda em seu governo e garantiu que o clube não tem responsabilidade sobre o caso.

A situação presente 

O presidente Alberto Guerra, eleito em novembro do ano passado, pegou a reta final do Olímpico enquanto dirigente. Hoje, no comando do clube, administra o que o Tricolor ainda tem de responsabilidades com a antiga residência. De acordo com o vice-presidente eleito, Eduardo Magrisso, o Tricolor arca com custos de segurança do Monumental.

Segundo o vice, o Grêmio cumpriu toda sua obrigação com o antigo estádio. “O Olímpico está absolutamente desonerado. O Grêmio contratou uma equipe de dez vigilantes, o que custa, pelo menos de R$ 100 mil por mês, para que o Grêmio cumpra rigorosamente as suas obrigações contratuais em relação ao Olímpico”, explicou. 

O dirigente tratou de tranquilizar o torcedor sobre a situação do estádio, garantindo que o clube ainda trabalha para a resolução do abandono. “O Olímpico é como se fosse a casa da vó, aquela lembrança, aquele vínculo, tu sabe que o tempo passou, sabe que não é mais a mesma casa, mas está lá. Eu me emociono quando eu falo do Olímpico porque minha casa por mais de 35 anos foi lá.”

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895