Veja como foram as primeiras semanas do Censo 2022 no RS

Veja como foram as primeiras semanas do Censo 2022 no RS

IBGE deve apresentar nos próximos dias dados parciais da coleta de dados no Estado

Censo 2022

Por
Felipe Samuel

Coletar informações atualizadas e precisas é tarefa árdua para os recenseadores do Censo Demográfico 2022. Uniformizados com coletes azul-marinho com o logo do IBGE, eles voltaram a atuar no país após 12 anos. No Rio Grande do Sul, os agentes têm a missão de visitar 4 milhões de domicílios até o final do ano e reunir informações sobre nossa população. No Estado, as primeiras visitas começaram em 1º de agosto. Com três semanas de apuração, o IBGE deve apresentar nos próximos dias dados parciais da coleta no Estado.


No primeiro dia, no bairro Cidade Baixa, Geneci contou com a companhia de um supervisor para percorrer parte do setor que está sob suaresponsabilidade. No segundo dia, seguiu sozinha pelo bairro para coletar os dados. Foto: Mauro Schaefer

A recenseadora Geneci Teixeira Marques, 61, é exemplo de esforço e dedicação. Natural de Encruzilhada do Sul e com a experiência de quem já atuou como recenseadora na terra natal “há muito tempo”, quando estava terminando o ensino médio e depois na Capital, Geneci se realiza com o trabalho de agente do IBGE. “Eu estava de férias, fiz o concurso, passei e fiz nas minhas férias o IBGE. Gosto de trabalhar, mas minha área é recursos humanos, departamento pessoal. Eu gosto de pessoas, então está sendo maravilhoso.” Conforme Geneci, que tem formação como técnica contábil, o dia a dia como recenseadora não tem maiores percalços. “Estou sendo bem recepcionada, os moradores estão me acolhendo ‘superbem’, principalmente os idosos”, destaca.

No primeiro dia, no bairro Cidade Baixa, ela contou com a companhia de um supervisor para percorrer parte do setor que está sob sua responsabilidade. No segundo dia, seguiu sozinha pelo bairro e parou em um prédio na rua Coronel Genuíno. “A síndica é uma pessoa gente fina, me passou todos os dados, já ligou para todos os moradores do condomínio avisando que eu estaria, deu meu nome e telefone. Então, todas as pessoas que estavam em casa eu já entrevistei, faltam aquelas que estavam trabalhando, estudando, chegando tarde em casa. Elas estão me ligando e agendando horário para eu vir no sábado à noite.”

Mesmo prestes a dar entrada no pedido de aposentadoria, no próximo mês, Geneci nem pensa em parar de trabalhar. “Com a pandemia eu parei porque era do grupo de risco. Minha filha Anelise não deixou eu seguir trabalhando no departamento pessoal de um escritório contábil. Fiquei todos esses dois anos, quase três, só em casa”, afirma. “De qualquer forma pretendo continuar trabalhando como recenseadora ou na minha área mesmo, de recursos humanos”, explica.

No que depender da vontade e disposição de Geneci, os gaúchos podem ter certeza de que os dados do Censo serão coletados com a maior agilidade possível. Nas abordagens, ela reforça a importância do trabalho dos recenseadores e da coleta de dados para a formação de políticas públicas. “A gente bate sempre em cima desses tópicos”, salienta, destacando que as informações servem, entre outras coisas, para apresentar um panorama das principais carências da população e subsidiar políticas públicas.
Ela garante que, na maioria das vezes, as pessoas são bem acessíveis. “O pessoal não está resistente, está bem legal”, afirma. A rotina de bater perna pelas ruas da Cidade Baixa, mesmo bairro que reside, também não incomoda. “Gosto de caminhar, tenho prazer”, ressalta. 

Recenseadores relatam suas experiências


Proprietária de um bar, Deonila Carlesso ressalta que responder ao questionário não toma tempo e é importante para se avaliar as necessidades da população. Foto: Mauro Schaefer

Cursando o último semestre da faculdade de Pedagogia, o recenseador Gabriel Rosa Sangenido, 33, viu no trabalho uma forma de engrossar o orçamento da família. É a primeira vez que atua como agente do IBGE. “O nosso trabalho é muito importante. Temos que ter o mapeamento das pessoas para saber também o que elas precisam. E, mais do que isso, as pessoas também têm que estar dispostas a informar, a prestar essas informações, porque às vezes tu chegas na casa e a pessoa fica com medo de que vai demorar, mas não demora, é rapidinho”, afirma.

Após concluir a quinta entrevista do dia, no Menino Deus, ele comemorava a disposição e a receptividade da proprietária com a equipe do Censo, composta ainda pela supervisora Tatiana Sampaio dos Santos. “É uma experiência bem legal, as pessoas estão sendo bem receptivas”, avalia. 

Para Sangenido, o segredo para fazer a entrevista é abordar “a pessoa com carisma”. “Começo a conversa com ela, depois abordo o tema da pesquisa mesmo e informo que vai ser rapidinho. Às vezes dou uma conversadinha e informo que o tempo que conversei é mais ou menos o tempo da pesquisa. A própria pessoa acaba se abrindo um pouco mais assim, fazendo a pesquisa bem tranquilamente.”

O uso do uniforme com o logo do IBGE também atrai atenção de quem passa na rua. Em muitos casos, as pessoas buscam informações sobre como responder ao questionário e se colocam à disposição para responder na rua mesmo, o que é vetado pelo IBGE. Para responder ao questionário, o morador precisa ser entrevistado no domicílio, conforme percurso definido pelo IBGE. “Um senhor de moto que estava vindo aqui na rua fez questão de dar a volta e parar perto de mim para justamente me perguntar o que seria o Censo, para que seria e qual seria a importância dele”, destaca. Expliquei que era para a gente saber para onde direcionar as verbas, para poder ajudar especificamente talvez em algo que precise e ele ficou bem contente. E até perguntou se não podia fazer agora. Mas aí eu informei que o recenseador vai passar na casa dele quando for a data.”
Antes de atuar como recenseador, Sangenido procurava trabalho. “O trabalho como recenseador é temporário, mas dá uma ajuda boa na economia de casa”, destaca, acrescentando que reside com a esposa, Andressa, e o sogro, Carlos. Conforme Sangenido, a missão de coletar as informações pode durar até o fim do ano. “A princípio, a gente tem três meses para fazer, mas acredito que dê para fazer essa pesquisa de forma mais rápida”, garante.

A supervisora Tatiana acompanhava com olhar atento o atuação de Sangenido durante o percurso pelo bairro Menino Deus. Era o quinto dia de trabalho de campo, que é como chamam as entrevistas em domicílio. “Estou achando a receptividade das pessoas bem tranquila. Em cerca de 80% dos casos, nesses cinco dias que estou em campo, fomos bem recebidos”, avalia.

Em Porto Alegre, ela supervisiona dez recenseadores. Tatiana é responsável por avaliar o desempenho de cada um durante o trabalho. “Cada um tem as suas dificuldades, até porque o nervosismo e a ansiedade varia muito de pessoa para pessoa. Mas, a princípio, está tudo bem, até porque foi realizado treinamento de cinco dias para eles. E a gente como supervisora tem a tarefa de tranquilizar os que são mais ansiosos e nervosos.” Ela reforça que muitos recenseadores têm dúvidas sobre abordagem. “Tem muita gente que nunca trabalhou nessa parte de entrevista. Então a abordagem é bem importante também porque já deixa o entrevistador mais tranquilo”, observa. “Na quarta, quinta entrevista eles já conseguem fazer sem ter o nosso auxílio.”

Tatiana ressalta que as matérias publicadas na imprensa colaboram com o trabalho dos recenseadores e servem para conscientizar a população sobre a importância do Censo. Conforme Tatiana, os idosos são os mais atenciosos com os recenseadores. “As pessoas que têm mais tempo, com mais idade, estão sendo bem recíprocas conosco”, alerta. 
Proprietária de um bar, que também é domicílio, na rua Marcílio Dias, Deonila Carlesso, 52, deixou o atendimento do local com um funcionário para poder responder ao questionário do IBGE. Para quem acha que o trabalho dos recenseadores pode tomar muito tempo do entrevistado, Deonila afirma: “Não toma tempo nenhum, cinco minutos é suficiente para responder ao questionário.” Ela ressalta que o trabalho de recenseador é importante para avaliar as principais necessidades dos municípios. 

Formada em Direito, a recenseadora Luana Girardi Pinheiro, 29, aproveitava o sol e o tempo firme de uma sexta-feira para coletar informações de moradores da rua Múcio Teixeira, no bairro Menino Deus. Era o primeiro dia de visitas a prédios da região. Nas primeiras vezes, contou com a companhia de uma supervisora, mas em seguida ganhou confiança e seguiu o trabalho sozinha. “Fui bem recebida na casa que visitei, mas no prédio seguinte não consegui entrevistar ninguém. Inclusive, dois não quiseram me atender. Há algumas pessoas que ainda estão desconfiadas ou não receberam a informação de que nós estamos passando para entrevistar os moradores, mas vou fazer meu percurso e depois volto ali para tentar de novo”, afirma. As dificuldades enfrentadas por Luana simbolizam o desafio que os agentes têm para apurar as informações para o IBGE. Segundo Luana, por conta da ação de golpistas, muitas pessoas ainda desconfiam da atuação dos agentes, mesmo que estejam uniformizados e identificados. 

É a primeira vez que Luana atua como recenseadora. E, como trabalha por conta própria, tem horários flexíveis, o que é uma boa oportunidade para completar a renda. Mesmo com os contratempos do dia a dia, ela atua em uma região que conhece bem. “A gente pediu para ficar perto de onde a gente mora, porque daí fica mais fácil”, afirma. O desafio do primeiro setor destinado a Luana envolve entrevistar 230 domicílios. Mas a supervisora ainda vai definir as metas do grupo. “A princípio, nosso contrato é de um mês renovável por mais dois, até 31 de dezembro. Na verdade a gente espera que as pessoas possam responder o quanto antes. E a gente até pode pegar mais de um setor. Se eu conseguir terminar esse aqui, eu posso pegar outro setor, mas só depois que todo mundo responder.”

Censo Demográfico 2022

O Censo Demográfico produz informações atualizadas e precisas fundamentais para o desenvolvimento e implementação de políticas públicas e para a realização de investimentos, tanto do governo quanto da iniciativa privada. De acordo com o IBGE, com base nas informações apuradas, é possível executar ações imediatas e planejar o futuro do país. Entre os principais desafios, está o de retratar o Brasil que está entrando em uma nova década e apurar, entre outras coisas, qual é o tamanho da população brasileira, em que condições vive, como se distribui no território nacional, qual é o nível de escolaridade de nossas crianças e jovens, quais as condições de emprego e renda da população, entre outras coisas que serão respondidas a partir do Censo. Abaixo, alguns dados sobre o Censo:

  • O Censo 2022 começou em 1º de agosto.
  • O objetivo é visitar 75 milhões de domicílios nos 5.570 municípios do país.
  • Os recenseadores visitarão 89 milhões de endereços sendo 75 milhões de domicílios.
  • A estimativa é que sejam contadas cerca de 215 milhões de pessoas.
  • Ao todo, são 452.246 setores censitários urbanos e rurais, 5.972 localidades quilombolas, 632 terras indígenas, 11.400 aglomerados subnormais e 5.494 grupamentos indígenas.
  • O custo da operação é de R$ 2,3 bilhões.
  • Serão aplicados dois tipos de questionário: o básico, com 26 quesitos, leva em torno de 5 minutos para ser respondido. Já o questionário ampliado, com 77 perguntas e respondido por cerca de 11% dos domicílios, leva cerca de 16 minutos.
  • O questionário pode ser respondido presencialmente, por telefone e pela internet. Agentes da Central de Atendimento ao Censo (0800 721 8181) responderão dúvidas, prestarão auxílio no preenchimento do questionário via internet e, mediante autorização, poderão preencher o questionário em entrevista.
  • Dados do portal do IBGE mostram que até 16 de agosto, 0,4% do trabalho havia sido concluído no RS. Outros 30,8% estavam em andamento.

O recenseador não pode mudar seu trajeto


O recenseador precisa cumprir o trajeto previamente estabelecido e só pode fazer a entrevista de acordo com o percurso do setor que está atuando. Foto: Mauro Schaefer

Coordenador operacional do IBGE no RS, Luís Eduardo Azevedo Puchalski explica que três semanas após o início das ações de campo “nada de anormal” aconteceu. “Isso não quer dizer, em absoluto, que a gente não vá ter dificuldade. Pelo contrário, as dificuldades são normais nesse processo de Censo. Claro que os recenseadores enfrentam resistência de parte da população, mas, na maioria das vezes, isso ocorre por desconhecimento”, observa. Conforme Puchalski, o IBGE também reforçou ações de divulgação na TV e na Internet para tentar fazer a informação chegar até a população. “Mesmo com esse esforço, inclusive com o apoio que a imprensa tem dado, as pessoas ainda assim não tomam conhecimento e se surpreendem com a chegada do recenseador. Mas isso é normal e o recenseador é orientado para retornar quando a pessoa não quer atender, isso faz parte do processo. A gente está nessas duas últimas semanas ainda colocando recenseadores em campo.”

Puchalski destaca que as primeiras visitas são acompanhadas de um supervisor, até que o agente compreenda a lógica do percurso dentro do setor censitário. “O supervisor verifica se o recenseador está fazendo a abordagem às pessoas de forma correta, falando pausadamente para as pessoas entenderem. Isso leva um turno, às vezes um dia. Dependendo do recenseador, pode chegar a um dia, porque alguns têm mais dificuldade. É normal isso também”, ressalta.

No RS, conforme o IBGE, 11,2 mil recenseadores devem atuar até o final do ano e visitar mais de 4 milhões de domicílios. “A gente pretende completar a coleta até próximo do prazo, que é 31 de outubro. Claro que é muito difícil, as dificuldades de campo são enormes. Nos Censos anteriores, a gente nunca terminava todos os municípios nos três meses, sempre ficava um ou outro. A gente não sabe qual (município) vai ficar para depois, mas uma coisinha sempre passa. É normal”, frisa. Como o processo seletivo se estendeu, outras equipes seguem em treinamento e alguns recenseadores devem ser chamados. “A pleno mesmo devemos estar em setembro. O mês de agosto é de aumentar gradualmente a equipe até chegar ao teto de recenseadores.” De acordo com Puchalski, a maioria dos agentes trabalha na região que reside, o que evita deslocamentos mais longos. “Conhecer o território é importante para não se perder. Na periferia tem setores com muitos becos, ruas com curva, por isso é importante, porque a chance de ele se perder, de deixar alguma coisa de fora é muito menor. Também tem outro aspecto importante, se eu estou morando perto da área onde trabalho é fácil para eu ir à noite, no domingo, no sábado.” 

Puchalski ressalta que o aumento da circulação de agentes uniformizados do IBGE nas ruas da Capital chama atenção da população. “As pessoas os veem e os abordam, tentam fazer entrevista naquele momento, mas não é assim que funciona. O recenseador vai explicar isso. Eles têm que seguir o percurso, que é uma questão bem importante por conta da cobertura do território. O recenseador vai registrar domicílios na ordem que ele caminha, vai passando pelos locais e vai registrando.” Puchalski lembra que o recenseador precisa cumprir o trajeto previamente estabelecido. “Ele não pode fazer a entrevista na hora que o cidadão quer fazer, tem que fazer na hora correta, conforme o percurso do setor”, frisa.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895