Vinte e dois pontos para se pensar 2022

Vinte e dois pontos para se pensar 2022

Confira as principais perspectivas para o próximo ano

Por
Correio do Povo

Neste especial serão apresentados, em 22 itens, as principais perspectivas para o próximo ano. Temas como a pandemia continuam bastante presentes em todo o mundo e seguirão trazendo consequências para 2022, na economia ou na política, que será marcada no Brasil pela realização de eleições para a presidência da República, para governos estaduais e para os legislativos estaduais e federal .

Covid-19: os cuidados continuam

A pandemia da Covid-19 alterou a maneira de viver de muita gente no mundo. Em Porto Alegre, a situação não foi diferente, com pessoas isoladas dentro de casa por períodos extensos e com receio de dividir espaços com outras pessoas. Houve aqueles que se contaminaram e outros enfrentaram os desafios de uma internação. Mais de 36 mil gaúchos perderam a vida para o vírus. Entretanto, com o avanço da campanha de vacinação, a luz no fim do túnel parece um pouco mais próxima. A tendência para 2022 é que o cenário melhore. Porém, acreditar na ciência e manter uma boa dose de cautela serão importantes para superar de vez os riscos do novo coronavírus. “Se conseguirmos sensibilizar a população para fazer a terceira dose e conscientizar as pessoas de que, mesmo com o relaxamento das medidas, elas precisam usar máscaras quando estiverem juntas, vejo com bons olhos para que não passemos por uma nova onda e não aconteça o comprometimento do sistema de saúde”, observa o infectologista do Hospital Nossa Senhora da Conceição, André Luiz Machado. “As palavras que me vêm à cabeça são cautela e conscientização. As pessoas precisam ter a consciência de seguir fazendo a sua parte e ainda cautela de evitar estádios de futebol lotados e festas de final de ano com muitas pessoas. Precisamos desse controle para não termos novo aumento no número de casos”, completa.

Muitos hábitos adquiridos durante a pandemia deverão permanecer por mais algum tempo, como o uso de máscaras em locais fechados, o respeito ao distanciamento social, a ventilação adequada dos ambientes e a higienização correta das mãos com água e sabão. O álcool em gel 70% também virou importante acessório na luta contra o vírus e deverá estar sempre por perto das pessoas. Em termos de flexibilização, é provável que a máscara de proteção facial não seja mais exigida em locais abertos, como acontece em São Paulo desde 11 de dezembro. A medida levou em consideração a vacinação e melhora no cenário epidemiológico. Mas o uso segue obrigatório em ambientes fechados e no transporte público do estado paulista. “Vai depender fundamentalmente da velocidade da vacinação e da adesão do povo à vacina. A gente percebeu neste ano que somente depender do comportamento preventivo não será suficiente. Precisamos ter unidade no processo de proteção e imunização da população”, avalia o chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Eduardo Sprinz.

Em relação à flexibilização da máscara em locais públicos, Sprinz, que também é professor de Infectologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), destaca a relevância da imunização. “Onde houver vacinação efetiva podemos pensar em flexibilizar. Esse é o ponto fundamental. Sabemos que 70% da população vacinada não é o suficiente. Precisamos vacinar em uma proporção ainda maior”, argumenta. Nada deve ser feito de forma repentina. “É uma doença de transmissão essencialmente respiratória. Essa flexibilização da máscara, desde que estabelecida de uma maneira criteriosa, é o que acabará acontecendo”, diz André Luiz Machado, que estima o retorno da vida ao normal apenas a partir do segundo semestre de 2022. “Tudo passa pela conscientização da população”, reitera.

A secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, também demonstra cautela em suas avaliações para 2022. “A melhora depende do comportamento da população em relação às recomendações feitas pelo governo do Estado, pois é muito importante que as pessoas continuem tomando cuidados para que a transmissão do vírus não volte a ocorrer de forma intensa. Por outro lado, há a eficácia da vacina como proteção coletiva. Se as pessoas procurarem a segunda dose – e há muitos em atraso – e a dose de reforço, teremos possibilidade de enfrentar um 2022 com estabilidade e até diminuição de casos no Estado.”

Ômicron

Um dado novo nesse tabuleiro é a presença da variante Ômicron do coronavírus. A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o risco global era “muito alto”, em função da rápida transmissibilidade e da possibilidade de a nova cepa escapar ao sistema vacinal desenvolvido até agora. Por enquanto, a orientação é para os países acelerarem a vacinação, em especial das pessoas integrantes dos grupos de risco e com alguma comorbidade. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou durante agenda no Rio Grande do Sul que a Ômicron “é uma variante de preocupação, mas não de desespero”.

Para Arita Bergmann, é preciso estar alerta com essa nova variante. “As melhoras estão atreladas, obviamente, a mutações do vírus. Não sabemos como essa nova cepa, por exemplo, vai se comportar no Brasil e, em especial, no Estado. Precisamos estar vigilantes, monitorando não só essa nova cepa como outras que ainda poderão vir. O que se sabe é que o vírus vai sofrendo mutações e espera-se que também vá enfraquecendo. Mas, tratando-se de Covid, tudo é muito novo e nem sempre dispomos de todas as evidências em tempo real, o que depende de estudos e avaliações”, relata.

Apesar da melhora no cenário para 2022, alguns pontos são determinantes para que aconteça um distensionamento no sistema de saúde. Ampliar a vacinação para quem ainda não foi imunizado e àqueles que têm direito a receber a terceira dose serão importantes medidas para que tudo volte a ser como um dia já foi.

Trânsito: Capital congestionada

As obras no trecho 1 da rua Voluntários da Pátria, no Centro, foram retomadas em setembro depois de uma espera de meia década. O investimento no trecho é de R$ 600 mil. Com 98% de conclusão até o início de dezembro, a expectativa era de que estivesse pronta até o final de 2021. Já o trecho 2 da Voluntários da Pátria, que seria a duplicação da rua até a avenida Sertório, teve o vínculo encerrado na gestão municipal anterior. Em novembro, o secretário Pablo Mendes Ribeiro esteve no Ministério do Desenvolvimento Regional, em Brasília, e garantiu a aprovação da carta-consulta para captação de recursos para retomada do projeto junto ao programa “Avançar Cidades - Mobilidade Urbana”. Conforme a Prefeitura de Porto Alegre informou, a situação está sendo analisada pelos financiadores e a expectativa é que o trecho 2 seja retomado em 2022.

Todos os dias é a mesma coisa no trânsito de Porto Alegre, filas, tranqueiras e muito estresse. Ramiro Barcelos, Vicente da Fontoura, Assis Brasil, Bento Gonçalves, Plínio Brasil Milano, Vicente Monteggia, Terceira Perimetral, Júlio de Castilhos, Castelo Branco, Mauá e o entorno da Estação Rodoviária são pontos de costumeiros problemas. “Nossas propostas de ações envolvem intervenções pontuais de curto e médio prazo que sejam efetivas na redução dos ‘nós’ e também ações estruturantes de longo prazo, com duplicação e estruturação completa, quando os estudos assim apontam”, explica a diretora de Mobilidade Urbana da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana da Capital, Carla Meinecke. Segundo a pasta, os principais gargalos a serem focados são o acesso norte do Porto Seco, Protásio Alves (diversos trechos), Vicente Monteggia, Oscar Pereira, Plínio Brasil Milano e Bento Gonçalves. “Essas são as vias onde já foram iniciadas avaliações e estudos de alternativas. As intervenções pontuais estão sendo iniciadas em algumas interseções da Protásio Alves e Vicente Monteggia. Também já iniciamos avaliação e vistoria na Oscar Pereira. Além dessas, pretendemos avaliar ainda a Edgar Pires de Castro e a Juca Batista”, acrescentou Carla.

Atrair mais passageiros para o transporte público é uma das medidas que pode ajudar na diminuição de veículos nas ruas. Questionada sobre como isso pode melhorar, a diretora enumera alguns pontos: “Serviços com pontualidade, sistema de informação dinâmica aos passageiros, integração com outros modais, tarifas mais atrativas e melhoria da frota”. Segundo a EPTC, para 2022 a ideia é “fortalecer o serviço de transporte coletivo para aumentar a atratividade do sistema e, com isso, reduzir o volume de veículos particulares”.

As operações do novo corredor de ônibus da Sertório, que iniciaram em outubro, atenuaram os impactos do crescente aumento da frota de carros na cidade. O projeto de 1,9 mil metros, entre a avenida Panamericana e a Assis Brasil, inclui duas novas estações e faz ligação ao trecho de corredor já existente na Sertório, a partir da avenida Farrapos. O projeto ainda incluiu melhorias para a segurança viária em um trecho de mais de sete quilômetros da Sertório, desde a avenida Farrapos até a avenida Gen. Raphael Zippin, no bairro Sarandi.

A autorização da obra de prolongamento da rua Anita Garibaldi também já acontece. O novo trecho terá 900 metros de extensão, entre a rua Carlos Legory e a avenida João Wallig, e permitirá a conexão da Anita com a avenida Tulio de Rose.

No acesso à Capital, a nova ponte do Guaíba ainda não está concluída. A construção foi inaugurada em 10 de dezembro de 2020 sem a entrega de quatro das sete alças da travessia. Questionado sobre as perspectivas da nova ponte para 2022, o Dnit respondeu que aguarda a definição do Ministério da Infraestrutura. Por sua vez, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, afirmou, no final de agosto, que a conclusão das alças de acesso integrarão um programa de concessão de Porto Alegre a Camaquã na BR 116 e BR 290, seguindo até Caçapava do Sul. A licitação deve sair em 2022.

Pobreza: mais gente nas ruas

Não é preciso caminhar muito longe para perceber como houve aumento no número de pessoas em situação de rua em Porto Alegre. A desigualdade cresceu e, desde o começo da pandemia da Covid-19, mais gente sobrevive sem a certeza de um teto e de um prato de comida. Conforme a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), estima-se que atualmente 2,5 mil pessoas estejam em situação de rua na Capital, além de 1,6 mil acolhidas em instituições de apoio. A região do Centro Histórico concentra a maior parte dessa população, seguida pelos bairros Glória, Cristal, Cruzeiro e Restinga. O desafio para 2022 será reduzir drasticamente esses dados.

Engana-se, porém, quem pensa que tirar alguém dessa situação seja tarefa simples. “Para reduzir dramaticamente esse problema social é necessário uma sociedade que inclua as pessoas, com equidade. A saber: economia em desenvolvimento, formação e emprego, habitação, famílias saudáveis e redução do consumo demasiado de substâncias psicoativas”, enumera o secretário de Desenvolvimento Social de Porto Alegre, Léo Voigt. Desemprego, afastamento da família e da comunidade, problemas psicológicos, falta de moradia ou abuso de drogas são fatores que contribuem para a decisão de alguém ir viver nas ruas. “Não basta ter espaços para acolher, é necessário cativá-los a aceitar. O morador de rua é uma pessoa que tem suas vontades também. E esse é o desafio das políticas públicas e de toda a sociedade. Se a rua se mantém lugar atraente a ele, com esmolas e quentinhas abundantes, o processo de adesão a algum serviço de proteção da rede fica mais difícil”, avalia Voigt.

Existe uma estrutura em movimento para tentar minimizar o impacto do crescimento do número de pessoas em situação de rua. A Fasc possui quatro albergues que somam 256 vagas. Também conta com 16 equipamentos socioassistenciais como abrigos, casas-lares e repúblicas, o que representa mais 1,6 mil vagas. Em 2020, cerca de 400 pessoas adultas foram acolhidas. Entre 2018 e 2020 houve o aumento de 69% no acolhimento institucional. As 12 equipes de abordagem social da Fasc atenderam, no primeiro semestre de 2021, 1,5 mil solicitações de abordagem social, entre crianças, adolescentes e adultos. A região central e o entorno da Estação Rodoviária estavam entre os locais com maior circulação de pessoas em situação de vulnerabilidade e risco social nessas ocasiões.

O programa Ação Rua Adultos, com a proposta de reduzir em até 80% o número de pessoas em situação de rua em quatro anos, convidando a sociedade a atuar como parceira, foi apresentado em agosto pela Prefeitura. A ação funciona de maneira intersetorial, agrupando assistência social, trabalho, saúde, educação, habitação, segurança, esporte, cultura e sociedade civil. Após identificadas as necessidades, as pessoas são encaminhadas para atendimento até obter a reinserção social ou acolhimento institucional. O problema acontece em todo o Brasil. O último estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), publicado em março de 2020, exibia que o número de pessoas nessa situação era de 222 mil e, agora, com a crise econômica acentuada pela pandemia, deve ser maior.

Obras da Copa: ainda inacabadas

Cinco partidas da Copa do Mundo de 2014 foram realizadas em Porto Alegre. Milhares de pessoas dos mais variados países estiveram na Capital. Mas isso aconteceu há muito tempo e ainda hoje existem algumas obras da competição de sete anos atrás inacabadas. Das 18 melhorias planejadas, apenas as construções no entorno do Beira-Rio, estádio que recebeu os cinco jogos do torneio, e o viaduto da avenida Júlio de Castilhos, que integra o Complexo da Estação Rodoviária, foram terminadas até o início da disputa. “Neste ano tivemos grandes avanços destas intervenções e até o final de 2022 cumpriremos com o nosso compromisso: virar, de uma vez por todas, a página das obras da Copa em Porto Alegre”, garante o secretário da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (SMOI), Pablo Mendes Ribeiro.

Outra obra inacabada está na Severo Dullius, na zona norte, onde os trabalhos chegaram aos 76% de conclusão em dezembro. Os serviços ocorrem no prolongamento da região do Aeroporto Salgado Filho até a avenida Sertório, mas foram paralisados devido ao despejo de toneladas de lixo em partes da Severo Dullius. Dejetos são deixados ilegalmente no local, geralmente durante o período da madrugada, por carroceiros e caçambas de entulho. Equipes do Departamento Municipal de Limpeza Urbana promovem limpezas frequentes na região.

A SMOI informou aos órgãos financiadores sobre a atualização do cronograma de execução da obra, que tem o mês de outubro de 2022 como limite. A mudança de prazo se justifica pela complexidade na execução, análise e aprovação dos projetos relacionados ao desvio do Passo da Mangueira. A Severo Dullius envolve, além da pavimentação, o desvio de canais e a construção de pontes, que representam mais de 20% do total da obra.

As obras mais atrasadas em Porto Alegre correspondem aos trechos 1 e 2 (65% concluída) e 3 e 4 (81%) da avenida Tronco, na zona Sul. A previsão de conclusão é para dezembro de 2022. O atraso ocorre pelos inúmeros processos de reintegração, desapropriações e remoções de habitações ao longo da via. Pavimentação, drenagem, implantação de corredores de ônibus, ciclovia, acessibilidade, sinalização e nova iluminação pública estão sendo implementadas ao longo da obra, que se estende por 6,5 quilômetros e conta com investimento de R$ 129 milhões.

Famurs: foco na educação

O próximo ano será carregado de desafios para a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), especialmente pela paralisação verificada em diversos setores da economia desde o começo da pandemia da Covid-19, há quase dois anos. Composta por 27 associações regionais, a entidade representa as 497 cidades gaúchas e busca o fortalecimento do municipalismo. O prefeito de São Borja, Eduardo Bonotto, é o atual presidente da gestão 2021-2022. “Nossas preocupações para o próximo ano são de os alunos estarem 100% em sala de aula, as demandas vindas da área da saúde dos municípios e os custos”, afirma o dirigente. Conforme antecipa o mandatário, uma discussão que deve ser proposta é sobre o turismo, em função do grande potencial das cidades nessa área e a cautela com os custos. “Os prefeitos salientam que o receio deles são as pautas discutidas em Brasília, o que gera reflexos nos cofres dos municípios. Não dizem para os prefeitos de onde virão os recursos para as cidades”, diz Bonotto.

Além da pauta do turismo, a próxima temporada deverá ser marcada pela sequência das discussões nas comissões temáticas da Famurs e em debates para a retomada do desenvolvimento econômico. “Agora, com a possibilidade do retorno das atividades, precisamos discutir os problemas da saúde e debater a educação. Porque nem temos como precisar ainda o gargalo no ensino que ficou para trás com as aulas tendo sido híbridas”, reconhece o presidente.

Na questão da saúde, a Famurs e o governo estadual trabalham em uma proposta de aporte financeiro com intuito de sanar a demanda reprimida de média complexidade dos municípios. O objetivo é reduzir a extensa fila de espera por atendimento especializado proveniente do fechamento dos serviços pela Covid-19. O governador Eduardo Leite deve anunciar a proposta de pagamento dos valores não empenhados pelo Estado no período entre 2014-2018, referente a participação estadual na manutenção dos programas municipais de saúde.

Outro fator importante para o futuro foi a aprovação na Assembleia Legislativa de projeto que muda a distribuição do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) aos municípios do Rio Grande do Sul. A proposta do governo permite que indicadores ligados ao desempenho em educação sejam incorporados ao cálculo de divisão do ICMS no Estado. As duas iniciativas buscam garantir aprendizagem de qualidade para todos de forma inclusiva e equitativa no RS, na tentativa de recuperar a aprendizagem pós-pandemia e a qualificação do ensino público.

O futuro do saneamento nos municípios também deverá ser discutido no próximo ano. Durante a realização da Assembleia Geral da entidade, em novembro, a Famurs orientou pela “autonomia de cada município” quanto à assinatura de aditivo da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) sobre o tema.

Rio Grande do Sul: corrida ao Piratini

Ao contrário do que ocorre no cenário nacional, na eleição estadual os analistas políticos apontam que, neste final de 2021, o quadro para a disputa ao governo do Estado, e mesmo para o Senado, segue bastante aberto, sendo uma das principais diferenças a ausência de polarização. Enquanto nacionalmente sucessivas sondagens eleitorais reafirmam a centralização do pleito entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula, no Rio Grande do Sul essa polarização não existe por enquanto. No bloco à direita, duas pré-candidaturas se apresentam como representantes do bolsonarismo: a do senador Luis Carlos Heinze (PP) e a do ministro Onyx Lorenzoni (de saída do DEM rumo ao PL). Ambos se mobilizam para ter a exclusividade do apoio de Bolsonaro, mas, conforme os analistas políticos, é concreta a possibilidade de que o presidente utilize os dois palanques e ela se tornará realidade caso ocorra uma coalizão nacional do PL e do PP.

No centro e centro-direita, a situação também é complexa. O MDB está convicto da candidatura própria ao governo, mas enfrenta um confronto de bastidores entre o grupo que prioriza uma aliança com o PSDB e aquele que não deseja se vincular de forma ostensiva ao governador Eduardo Leite (PSDB) na corrida. Internamente, enquanto parte das lideranças, para justificar a aproximação, tenta vender a ideia de que o governo Leite é uma continuidade da administração José Sartori (MDB), uma parcela da velha guarda refuta a identificação e acusa o tucano de estar tentando escolher o candidato emedebista. A questão também não é pacífica no PSDB, já que uma fração de tucanos tem dificuldade em assimilar a ideia de abrir mão de uma candidatura própria em um cenário no qual o governo ostenta bons índices de aprovação e mais de um nome da sigla se apresentou para sua sucessão. “No caso do PSDB, o governador não concorrer à reeleição, não ocupar nenhum outro cargo para seguir na vitrine, sair do poder e não ter um sucessor de seu partido é uma estratégia bem ‘diferente’, que muitos entendem como um ‘tiro no pé’”, explica a professora Maria Lúcia Moritz, chefe do Departamento de Ciência Política da Ufrgs.

Do centro para o bloco da esquerda o contexto não é menos nebuloso. O PDT, que até bem pouco tempo sonhava com a candidatura do ex-dirigente do partido e atual presidente do Grêmio, Romildo Bolzan, foi prejudicado pelas sucessivas derrotas do time e seu rebaixamento para a Série B: elas impactaram bastante a popularidade de Romildo. O PT apresentou a pré-candidatura do deputado estadual Edegar Pretto, mas há descrédito entre partidos e analistas sobre sua densidade. O PSB lançou o nome do ex-deputado Beto Albuquerque, que trabalha para conseguir o apoio do PT a partir das negociações nacionais entre as duas legendas, mas enfrenta resistência entre petistas gaúchos.

“É preciso unir um candidato que desempenhe e um partido com capilaridade. Para o Beto, conta muito a estrutura petista. Não adianta juntar vários pequenos partidos”, aponta Moritz. “Neste momento, não há nenhum candidato natural na esquerda. O Beto abre espaço para uma candidatura mais moderada, mas sofre o peso de algumas escolhas que fez no passado. O PT esgotou suas possibilidades, a não ser que tire velhos jogadores da aposentadoria. E o PDT, por enquanto, desapareceu do cenário. Sem Romildo, não tem grandes alternativas”, elenca o professor Rodrigo González, do Departamento de Ciência Política da Ufrgs.

Brasil: polarização continua

Principal vitrine das eleições gerais de 2022, a corrida pela presidência da República deverá ser marcada por três fatores principais, conforme as avaliações de analistas e cientistas políticos. O primeiro é que haverá uma disputa muito acirrada pelo eleitorado denominado de direita e centro-direita. O segundo, que uma candidatura da chamada ‘terceira via’ terá dificuldade em romper a polarização entre o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL). E, o terceiro, que as questões econômicas se tornarão ainda mais determinantes do que em pleitos anteriores.

“Vai ter terceira, quarta, quinta via. Porque existe um eleitorado importante, assumidamente de direita, mas Bolsonaro não organizou uma legenda que arrebanhasse este campo. E, como já foi governo, não tem o bônus da expectativa de 2018. Os que são, grosso modo, chamados de bolsonaristas arrependidos, se mostram dispostos a votar em outros. Por isso a proliferação de pré-candidaturas do mesmo espectro político”, explica o professor Glauco Peres, do Departamento de Ciência Política da USP. Ele ressalva, contudo, que o eleitor arrependido hoje pode não manter sua posição em 2022 e que há uma forte tendência de que uma parcela significativa esconda sua escolha. “Em resumo, enquanto Lula vai monopolizar o voto da esquerda, a disputa pelo voto da direita deve acirrar bastante a corrida no início do jogo. E a eleição vai ser pesada, do tipo que chamamos ‘briga de rua’”, estima.

O coordenador do curso de Ciência Política da ASCES/Unita e professor da UFPE, Vanuccio Medeiros Pimentel, explica a dificuldade de candidaturas alternativas em um pleito tão polarizado, o que também contribui para o acirramento. “É difícil imaginar que alguém, até mesmo (Sergio) Moro, com a alta exposição que teve, conseguirá vencer as duas maiores lideranças que surgiram no país do ponto de vista popular, de identificação com as massas. São duas figuras carismáticas e com seguidores muito fiéis. Por isso a polarização já se mostra tão acentuada e a tendência é de que, conforme nos aproximemos da eleição, o voto útil só cresça”, projeta.

Pimentel lembra que, apesar de ter antecipado bastante a eleição no sentido da disputa política, o presidente não organizou uma estratégia para 2022, e agora precisa correr para viabilizar iniciativas como o Auxílio Brasil. Mas ainda é uma incógnita o tamanho do resultado que terão. “A eleição de 2022 mostrará se a de 2018 foi ‘fora da curva’ ou se estabeleceu um novo padrão. Porque em 2018 o presidente se elegeu sem alinhar palanques estaduais, o que até então era fundamental, e sem tempo de TV. Agora, parece seguir a mesma lógica. Resta saber se funcionará.”

Os analistas são unânimes em apontar ainda que, em um cenário de inflação e dólar em alta, desemprego, aumento da miséria e contexto internacional pós-pandemia também desfavorável, a economia vai ajudar a deixar o debate ainda mais agudo. “A questão econômica vai ser o centro da discussão em 22”, resume Peres. Para Pimentel, todas as projeções colocam a economia em uma situação difícil no próximo ano, e o aumento na taxa básica de juros não é eficiente para conter o tipo de inflação que o país apresenta, porque ela está atrelada a demandas internacionais diversas e ao dólar e não ao excesso de dinheiro ou de consumo. “A receita atual acaba gerando movimentação grande de recursos do setor produtivo para o sistema financeiro. É bom para quem já tem dinheiro. Mas este não é o caso da maioria expressiva do eleitorado”, alerta.

STF: temas em disputa

A exemplo do que ocorre em todos os anos eleitorais, as pautas de 2022 devem influenciar e serem influenciadas pelas disputas que vão definir o nome do presidente da República, dos governadores, dos senadores e dos deputados. Além da grande polarização entre os campos políticos aguardada para estas eleições, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso podem votar temas que têm potencial para virar munição entre os candidatos. A participação ativa do STF em discussões de impacto nacional deve se intensificar no ano que vem. Na lista dos temas sobre os quais o Supremo vai se debruçar, estão a retomada da análise do marco temporal para as demarcações de terras indígenas, a reforma tributária, a taxação das grandes fortunas e a proibição da chamada “linguagem neutra” nas escolas. Questões relacionadas à pandemia da Covid-19 e à atuação do governo federal na gestão da crise sanitária também permanecerão em pauta.

Na esfera eleitoral, em fevereiro será discutida a validade das federações partidárias. Mesmo antes da decisão do Supremo, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já editou resoluções administrativas de acordo com a liminar vigente. A lei que autoriza as federações é questionada no Supremo pelo PTB.

A poucos dias do recesso do Judiciário, o ministro Alexandre de Moraes abriu novo inquérito para investigar o presidente Jair Bolsonaro, desta vez por uma transmissão ao vivo em que o candidato à reeleição associou a vacina contra Covid-19 ao desenvolvimento da Aids. Apesar de recurso da Procuradoria-Geral da República para tentar encerrar o caso, Moraes manteve a decisão de levar adiante a investigação, o que coloca nova polêmica na pauta da campanha eleitoral. A live de Bolsonaro que deu origem ao inquérito foi retirada do ar por Facebook, YouTube e Instagram, também atores importantes no cenário eleitoral de 2022.

Com a indicação de Kassio Nunes Marques e André Mendonça para o Supremo, Bolsonaro alterou a correlação de forças no plenário da Corte, o que pode acirrar as discussões em curso e outras que vão derivar da disputa eleitoral no decorrer do ano. Apesar de acusar os integrantes do Supremo de “ativismo político” em decisões que lhe desfavorecem, Bolsonaro fez questão de afirmar que suas escolhas para a Corte foram determinadas pelo alinhamento ideológico que os dois novos ministros teriam com ele.

Entre os assuntos que podem ser motivo de polêmica durante a campanha, a taxação de grandes fortunas terá relatoria de Mendonça. Compromisso histórico no discurso de candidatos socialistas e trabalhistas, o tema é rechaçado por Bolsonaro.

O marco temporal para demarcações de terras indígenas é outro assunto polêmico. Para ser votado em plenário, agora depende somente do presidente do Supremo, Luiz Fux. Em mais de uma ocasião, Bolsonaro disse ser favorável à tese de que indígenas só poderiam reivindicar território caso ali estivessem quando a Constituição de 1988 foi promulgada. A delimitação, porém, é criticada por defensores da causa indígena.

Mundo: pandemia prolongada

Após dois anos de pandemia, a Covid-19 pode estar sob controle, mas a incapacidade da comunidade internacional de distribuir vacinas pode prolongar ou agravar em 2022 uma pandemia que já custou milhões de vidas. Muitos especialistas em saúde pública acreditam que o mundo agora tem as ferramentas e o conhecimento para dominar o vírus. Mas as autoridades públicas e a sociedade devem tomar decisões difíceis e, às vezes, contestadas.

“A evolução dessa pandemia está em nossas mãos”, insiste Maria Van Kerkhove, responsável pelo combate à Covid-19 da Organização Mundial da Saúde (OMS). Podemos “chegar a um estágio em que controlaremos a transmissão em 2022? Com certeza!”, exclama. “Poderíamos já ter chegado, mas não chegamos”, completa. Um ano após a sua chegada, as vacinas demonstraram eficácia contra as formas mais graves da doença, embora não interrompam totalmente a sua transmissão, o que permite o aparecimento de novas variantes como a Delta ou a recente Ômicron.

A produção mundial deve chegar a 24 bilhões de doses em junho, quantidade em teoria mais do que suficiente para imunizar toda a população mundial. Por enquanto, já foram administradas 7,5 bilhões de doses, mas principalmente em países ricos que, apesar dos discursos de solidariedade, distribuem vacinas para crianças e doses de reforço enquanto as nações menos favorecidas continuam tendo grandes percentuais de população desprotegida. Em todo o mundo, tem se repetido cenas de pacientes intubados ou acamados em corredores por falta de espaço, atendidos por médicos exaustos, além de filas intermináveis de parentes em busca de oxigênio.

Oficialmente, foram 5,3 milhões de pessoas mortas no mundo, embora a OMS calcule que podem ser duas ou três vezes mais. Nenhum país registrou tantas vítimas quanto os Estados Unidos, com 800 mil mortes. E a Europa, que parecia ter virado esta página, voltou à realidade pandêmica no final de 2021 com uma virulenta quinta onda que forçou os governos a retomarem as restrições. Nesta época, o movimento antivacina e antirrestrições radicalizou-se, com protestos na Holanda, França ou Bélgica.

Ou todos ou ninguém

A desigualdade no acesso às vacinas continua sendo um desafio, aumentando os desequilíbrios entre os países ricos, que vacinaram em média 65% da população, e os pobres, que não chegaram a 7%, segundo dados da ONU. Como o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, repete: “Ninguém está seguro se todos não estiverem”. Quanto mais o vírus circula, é mais provável que surja uma variante mais contagiosa, mortal ou resistente à vacina.

Um exemplo são os receios gerados pela Ômicron, identificada pela primeira vez na África Austral e que a OMS descreveu como “preocupante”. Embora a Organização considere um “risco muito alto”, ela também reconhece que há muitas dúvidas sobre sua periculosidade e, principalmente, sua resistência às vacinas. Os países ricos demonstrariam “miopia pensando que, ao serem vacinados, se livrariam do problema”, alerta Gautam Menon, professor de biologia e física da Universidade Ashoka, na Índia.

Economia: esperança de retomada

Em um ano ainda incerto também sob o ponto de vista econômico em virtude da pandemia, praticamente todos serviços e atividades ensaiaram uma retomada, muitos deles presenciais. A consolidação da vacinação contra a Covid-19 em 2021 possibilitou que vagas de empregos fossem reabertas e estabelecimentos comerciais pudessem se manter, em um cenário de quebra para muitos negócios.

Segundo o CEO da Bateleur, Fernando Marchet, o avanço da economia este ano estava atrelado à velocidade das imunizações e, nesse aspecto, correspondeu às expectativas. “O ano de 2021 vai apresentar crescimento como era estimado, por conta do ‘carrego estatístico’, já que houve queda no início de 2020 devido à pandemia”, lembrou. No entanto, o também vice-presidente e coordenador do Núcleo de Economia da Federação de Entidades Empresariais do RS (Federasul) pontua que a alta não será com a potência esperado, devido a outros fatores.

“Tirando questões pontuais de cada setor, há o nível de taxa de juros global, principalmente nos Estados Unidos, onde há uma inflação histórica. O ajuste lá é esperado, mas esperamos de que forma isso impactará no mundo e no Brasil”, diz. Nacionalmente, o fator eleições será fundamental para definir o caminho da economia. “Sou otimista, acho que podemos andar melhor no ano que vem em relação a 2021, mas a expectativa de crescimento se reduziu muito. Diria 1,3% para o Brasil e 2,4% para o RS”, projeta. Entre os setores que podem ser influenciados positivamente, estão o de comércio e serviços, se a taxa de juros conseguir controlar o avanço da inflação, a partir da melhora na renda dos consumidores, e do setor industriário, devido à normalização do fornecimento de componentes, algo interrompido durante pandemia. “Temos, ainda, o agronegócio, mas que depende do comportamento do clima”, acrescenta.

O presidente do Conselho Regional de Economia do RS (Corecon-RS), Mario de Lima, acredita que a projeção de inflação fechando em torno de 10,05% para 2021 força a uma estimativa de taxa de juros próxima a 10%. “Tudo isso, para reduzir a inflação para próximo de 5% em 2022, em um esforço que poderá levar a Selic próxima dos 12% em 2022. Com este cenário, as estimativas são de crescimento econômico inferior a 1% no ano que vem, pois a taxa de juros elevada inibe investimentos”, diz. “No caso do âmbito federal, o crescimento dos gastos públicos é péssimo para as expectativas da economia. Nos âmbitos estaduais e municipais, aqueles que se colocam em uma situação mais cômoda, com capacidade de pagamento e com superávit primário e fiscal, poderão fazer gastos com maior folga, ainda que não seja indicado.”

Lima entende que a vacinação e um comportamento responsável da população poderão trazer normalidade à economia e garantir a retomada sustentável do crescimento. “Ainda, as reformas administrativa, fiscal e até política se tornam fundamentais para garantir a recuperação da confiança da economia brasileira em relação ao mundo, combinada com a retomada da responsabilidade fiscal do governo federal e dos entes subnacionais”, acrescenta o presidente do Corecon-RS.

Combustível: preços devem baixar

comentados do ano foi o aumento dos combustíveis. A média nacional do litro da gasolina nos postos no início de dezembro de 2021 foi de R$ 6,966, cerca de 50% a mais do que o pago no mesmo período em 2020 (R$ 4,699), segundo dados do Índice de Preços Ticket Log (IPTL). Com o diesel, a situação não mudou muito: os consumidores brasileiros pagam R$ 5,603 o litro ao final deste ano, quase R$ 2 a mais em relação aos R$ 3,813 desembolsados em dezembro de 2020.

Para o economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL-POA), Oscar André Frank Junior, apesar de o preço dos combustíveis depender de uma série de fatores, o Rio Grande do Sul terá uma boa notícia para 2022. “Vamos iniciar janeiro com queda do ICMS de 30% para 25%. Isso deve baratear a gasolina, por exemplo, em R$ 0,40 por litro.” Frank ressalta que outro importante vetor é a cotação do barril de petróleo. “Analisar tanto a retomada pelo lado da demanda, quanto os ofertantes de nações de fora da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), disponibilizando ou não mais produto no mercado. Se houver excesso de oferta, a tendência é que os preços caiam”, projeta.

As incertezas relacionadas à economia brasileira, segundo o economista, desvalorizam o real no âmbito da taxa de câmbio, mantendo o cenário atual nos próximos meses. “A tendência é que continuemos, ao longo de 2022, com uma taxa mais depreciada, o que impede um barateamento mais relevante nos combustíveis”, pontua. Além da política de preços da Petrobras, que leva em consideração a cotação internacional do barril de petróleo e a taxa de câmbio, e os impostos, há ainda, segundo Frank, a margem dos postos, que diferencia os valores entre os estabelecimentos. “Se é mais caro importar esse insumo em reais, na nossa moeda doméstica, o preço dos combustíveis acaba subindo. As forças de oferta e demanda também exercem influência no preço para o consumidor.”

O economista lembra que o aumento dos combustíveis produz uma série de impactos. “Reverberam em toda a cadeia logística a partir do encarecimento nos custos dos fretes. E as altas recentes certamente diminuem as rendas das famílias e resultam em efeitos negativos sobre o comércio varejista, por exemplo”, observa Frank, lembrando os preços chegaram a baixar nos primeiros meses da pandemia. “No entanto, com o passar do tempo, os governantes em nível global concederam estímulos que aqueceram significativamente a demanda, enquanto a oferta de petróleo não acompanhou esse movimento. Além disso, o dólar ficou mais caro por conta de riscos políticos e fiscais.”

O economista Paulo Feldmann também acredita em uma baixa de preços em 2022. “Essa questão é muito complexa e depende de vários componentes, mas analisando todos os cenários, a minha aposta é que sim”, afirma. Para ele “o petróleo é o único setor da economia mundial onde existe um cartel (oficial). Isso quer dizer que os produtores não competem entre si: eles combinam os preços entre si e cobram o que querem. Só que eles estão sendo pressionados a diminuírem o valor”, pondera, arriscando numa queda de preço de 10%.

Carne: mais aumento de preço

O mercado da carne bovina no Brasil deve começar 2022 ainda sob o impacto da recente suspensão do embargo da China. Maior comprador do produto brasileiro, o gigante asiático alegou razões sanitárias para interromper as aquisições, no início de setembro de 2021, e só foi retomar em meados de dezembro. Porém, os quatro meses de interrupção das exportações aos chineses provocaram reação também no mercado interno. Segundo o professor Júlio Barcellos, coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o preço da carne bovina permanece praticamente estável no país desde o mês de setembro.

Desde o anúncio do embargo até a primeira quinzena de dezembro, o aumento na carne bovina foi calculado em 3,5% a 4%. “Vínhamos tendo aumentos de 3% a 4% ao mês”, observa Barcellos. Ainda assim, 2021 deve se encerrar com alta expressiva no preço do produto, na ordem de 28%, segundo o especialista. “Foi isso (o embargo da China) que segurou um pouco os preços até o final do ano, senão teríamos mais de 30% de aumento.” Mesmo assim, a alta nos preços é inferior ao que foi verificado em 2020.

Ainda que o consumo da carne bovina esteja em baixa, em função da queda no poder aquisitivo da população, o preço da carne deve voltar a subir no começo de 2022. Barcellos observa que, com a suspensão do embargo chinês, o impacto na cadeia produtiva deve ocorrer primeiro no Brasil Central e de forma mais lenta no Rio Grande do Sul. A volta da China ao mercado poderá fazer com que os frigoríficos de menor porte, que não exportam, antecipem suas compras nos próximos dias com receio de que em janeiro ocorra um aumento expressivo de preços por conta da exportação. "Naturalmente, esse preço será repassado ao consumidor", observa o especialista.

O reajuste previsto para 2022 também irá ocorrer em função da valorização do boi e da perspectiva de escassez no mercado. Soma-se a isso o crescente interesse da Rússia pela aquisição de carne bovina, além do déficit de produção nos países que são grandes produtores. “Isso vai fazer com que o aumento da demanda global, associado à situação de redução de rebanho no Rio Grande do Sul em particular, gere um movimento altista”, explica Barcellos.

Uma alternativa mais em conta para o consumidor que pretende manter o hábito de consumir carne bovina são os cortes do dianteiro, que ganharam em qualidade nos últimos anos. Barcellos afirma também que o momento é de fazer um "pequeno estoque", utilizando o freezer doméstico para armazenar cortes que estão mais acessíveis, como o coxão de dentro, patinho e o próprio filé.

Agropecuária: produtores em alerta

O ano de 2022 para a agropecuária gaúcha deve ser de maior desafio, projetam entidades representativas dos produtores no Rio Grande do Sul. Embora ainda persista a perspectiva de uma safra de grãos "cheia", com o Estado produzindo acima dos 38 milhões de toneladas, conforme dados sustentados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e pela Emater (RS), a planilha de custos de produção e um cenário de estiagem que já produziu estragos na safra de milho são sinais de alerta para agricultores e pecuaristas de qualquer porte.

A Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) no Estado cresça 0,58% em 2022, contra os 9,49% que estimou para o fechamento de 2021, ano em que o setor se recuperou da frustração da safra 2019/2020, com o prejuízo na colheita da soja beirando os 50%. Os custos, afirma o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, cresceram muito, enquanto os preços, muito bons na safra passada, não acompanharam este crescimento, o que impactará nas margens de comercialização.

A entidade também alerta para a necessidade de se solucionar em 2022 questões fundamentais para a produção, como o acesso à irrigação. "Há anos que estamos trabalhando a respeito do tema irrigação e, lastimavelmente, nós não conseguimos evoluir por questões com o Ministério Público Estadual, que impetrou uma ação e levou uma liminar que nos impede de fazer reserva de água tanto na Metade Sul, quanto na Metade Norte", observa o presidente da Farsul, Gedeão Pereira.

Na agricultura familiar, a situação dos custos não foi diferente em 2021, da mesma forma que a previsão de redução de margens de rentabilidade para o segmento. Um dos grandes debates da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag), que se deu no final deste ano e deve seguir em 2022, é quanto às mudanças necessárias no relacionamento da cadeia leiteira. A federação decidiu retirar-se das reuniões do Conselho Paritário Produtores/Indústria de Leite do Estado (Conseleite) por discordar da metodologia de cálculo do preço referência do leite. "Os custos do leite subiram mais de 40% em 2021 e estamos ainda usando os custos de 2019 (em fase de atualização) para calcular os preços", diz Carlos Joel da Silva, presidente da Fetag.

Para organizar a luta dos agricultores, a entidade anuncia para o dia 3 de março, em Ijuí, o 10º Grito de Alerta, movimento que vai alinhar as pautas sindicais de 2022. "A agricultura e a pecuária familiares precisam ser vistas pelas esferas governamentais como setores estratégicos de desenvolvimento", comenta Joel. Ele ressalta que, enquanto os governos pensarem apenas nos investimentos para favorecer o meio urbano, o meio rural vai seguir convivendo com a ausência de políticas públicas. "Estamos cansados de promessas, queremos ação”, finaliza.

Ensino público: retomada de metas

Uma crescente proximidade com a escola que tínhamos antes da pandemia, com retomada de metas educacionais já traçadas e reforço de conteúdos desenvolvidos em estudos remotos, é perspectiva para 2022 na rede pública e privada gaúcha. A atenção à demanda por vagas em Educação Infantil deve seguir mobilizando, especialmente as redes municipais de ensino; enquanto o novo Ensino Médio, que começa a ser implantado de modo efetivo, será foco das escolas estaduais e particulares. Além disso, o atendimento a protocolos e cuidados sanitários ainda serão necessários e alvo de atenção da comunidade escolar, na avaliação dos dirigentes de ensino no Estado. Com calendários letivos assemelhados, ensino público e privado preparam a retomada 2022 com formações docentes e aulas, em geral, começando na segunda quinzena de fevereiro.

Na Secretaria Estadual da Educação, o planejamento para 2022 prevê continuidade das ações estratégicas definidas e que resultaram nas iniciativas do programa “Avançar na Educação”. A secretária Raquel Teixeira explica que segue a bolsa dos cursos para professores, a formação em gestão aos diretores eleitos e o programa “Aprende Mais”, voltado à aceleração e recuperação de aprendizagem, vai até dezembro/2022.

Raquel aponta que a grande novidade pedagógica será a implementação do novo Ensino Médio em todas as escolas com esta etapa. Serão 800 horas de Formação Geral Básica e 200 horas divididas entre os componentes curriculares de Projeto de Vida, Mundo do Trabalho e Cultura Digital. Terá, ainda, oferta do 4 ano do Ensino Médio para alunos que não se sentem preparados para a universidade ou mundo do trabalho. E, conforme a secretária, “daremos atenção especial à Educação Especial, Educação Antirracista e trabalharemos na expansão da educação em tempo integral”. E acrescenta: “em 2022, avançaremos no que já foi iniciado e ampliaremos as ações, sempre visando à garantia de melhor aprendizagem para os alunos”.

Na rede municipal de Porto Alegre (Smed), a secretária de Educação, Janaina Audino, aponta ainda desafios, como a implementação do projeto de compra de vagas em creches privadas, que busca diminuir a lista de espera nesta etapa, e a educação em tempo integral, que já será realidade em quatro escolas, a partir de 2022.

Ensino privado: ano do Ensino Médio

O 2022 será o ano do Ensino Médio no país, com a largada oficial do novo currículo, composto por Formação Geral Básica, de aprendizados obrigatórios; e Itinerários Formativos, voltados a aprofundar conhecimentos e direcionar os estudos em focos de interesse do aluno. O presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Privado do RS (Sinepe/RS), Bruno Eizerik, explica que o novo Ensino Médio já é realidade em grande parte das particulares, com as escolas prontas e trabalhando com projetos de vida e itinerários, apesar de faltarem algumas definições do Conselho Estadual de Educação. O protagonismo do aluno, enfatizado na nova proposta do Médio e também verificado no ensino remoto nesses tempos de Covid-19, deve continuar e ser reforçado, na avaliação de Eizerik. Da mesma maneira, o desenvolvimento de estudos com uso de multimídias e virtuais – que avançou nesse período, em razão da necessidade de distanciamento e cuidados sanitários – terá seguimento, aproveitando investimentos feitos pelas escolas e famílias em práticas de aprendizagem que apresentaram bons resultados.

Há previsão de retorno de alunos à rede privada, que registra certa queda especialmente nos ensinos Infantil e Superior. Ajustes federais em critérios do ProUni (programa de bolsas acadêmicas) ou compra de vagas infantis por administrações públicas, por exemplo, são bem vistos para o melhor aproveitamento da oferta disponível nas particulares. Mas Eizerik destaca que o período de final de ano, festas e Carnaval requer cautela, lembrando o repique de Covid verificado nessas datas, e alertando para a importância de um começo de ano escolar seguro e tranquilo.

Com escolas abertas, ensino presencial, protocolos eficazes, infraestrutura para trabalho remoto, reforço pedagógico e propostas curriculares atualizadas, as escolas privadas planejam um ano letivo mais próximo ao normal, na visão do Sinepe. O dirigente destaca que 2022 será ano eleitoral, com a educação em plataformas de candidatos, porém, em muitos casos, com discursos e práticas distantes. “É importante enxergar a Educação como condição para que o resto aconteça. Mais do que falar, precisamos ações eficientes, com inovação e tecnologia mantidas, junto a tenaz empenho na busca pelos melhores índices de qualidade educacional”, resume Eizerik.

Presídios: superlotação na mira

A superlotação do sistema prisional é um problema que já se arrasta há anos. Não é raro ver pessoas algemadas a viaturas, no lado de fora das delegacias, por falta de vagas. Segundo a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), são mais de 42 mil homens e mulheres atrás das grades atualmente no RS. O governo do Estado busca alternativas para tentar diminuir o déficit de 16 mil vagas em 2022.

Para isso, o Piratini se baseia em dois pilares. O primeiro focaliza a criação de vagas, a partir da construção de novas unidades prisionais e da reforma e ampliação das já existentes. Do programa Avançar, R$ 312,5 milhões serão destinados, além de contribuir para implementar novas tecnologias com intuito de modernizar o monitoramento eletrônico. Uma verba provida pelo Departamento Penitenciário Regional (Depen) também mira este objetivo. O repasse de quase R$ 100 milhões visa a construção de duas penitenciárias, que ainda não foram anunciadas, para 1,6 mil vagas.

A Cadeia Pública Feminina de Passo Fundo terá 286 novas vagas, a Cadeia Pública de Alegrete, 286 vagas, a Penitenciária de Charqueadas, 1.656 vagas. Além disso, estão previstas a conclusão da Penitenciária de Guaíba I (672 vagas) e a ampliação da Penitenciária Estadual de Canoas I (188 vagas). “Esse conjunto de medidas, com a criação de quase 6 mil vagas, se não dirimir a questão da superlotação, permitirá, com certeza, melhora significativa no sistema prisional”, destaca o secretário de Justiça e Sistemas Penal e Socioeducativo (SJSPS), Mauro Hauschild. A demolição da atual Cadeia Pública de Porto Alegre, que será substituída por um prédio novo, com 1.856 vagas, é outra aposta do governo do Estado. O atual déficit no local é de 1.632 vagas.

A SJSPS prevê, ainda, a conclusão do Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional, que pretende qualificar o sistema prisional. Com espaço para 708 detidos na região metropolitana, será um centro de triagem para procedimentos básicos, como registro policial, triagem e audiência de custódia, até o encaminhamento final compatível ao perfil do preso.

A liberdade monitorada é o segundo pilar discutido pela secretaria. Atualmente, o RS conta com 5,5 mil monitorados. Hauschild entende que as tornozeleiras eletrônicas são uma alternativa para enfrentar a superpopulação do sistema prisional.

PRF: presença nas estradas

Em 2020, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Rio Grande do Sul apreendeu mais de 30 toneladas de drogas. Com isso, o crime organizado deixou de lucrar cerca de meio bilhão de reais com entorpecentes, como maconha, cocaína e crack, retirados de circulação. A instituição nunca havia registrado tais números. O último recorde tinha sido em 2018, quando foram apreendidas 16,6 toneladas de drogas. Mas a tendência é que, até o final de 2021, essa métrica seja batida.

A projeção é do superintendente da PRF no RS, Luís Carlos Reischak Júnior. Segundo ele, os serviços da PRF visam atender à sociedade da melhor forma possível e, nesse período de pandemia, não foi diferente. “Seguimos desenvolvendo nossas ações de enfrentamento à criminalidade e de segurança viária e, em razão de um conjunto de fatores, como a consolidação do modelo de policiamento orientado por inteligência e a capacidade técnica aliada ao comprometimento dos nossos policiais, a PRF no Estado alcançou significativos resultados neste período”, observou. Ele lembra que grandes apreensões de drogas e armas, que significam “não só menos ilícitos que chegariam até os mercados consumidores, mas grandes prejuízos ao crime organizado”.

O atual efetivo do órgão conta com 740 policiais rodoviários, ao longo de uma malha viária federal de 5.800 quilômetros. Cerca de 1,5 mil candidatos do último concurso estão na última etapa, que tem a previsão de se encerrar no final de dezembro deste ano. “Em seguida, os alunos aprovados estarão habilitados para serem nomeados para lotação em qualquer estado do Brasil”, adianta.

Assim como nos anos anteriores, a PRF já elaborou o seu planejamento para o verão de 2021/2022 guiada pela missão de garantir a segurança dos motoristas. “Nesse período, temos as festas de fim de ano, carnaval, deslocamentos nos fins de semana para o Litoral, famílias visitando seus entes queridos em outras cidades. Ou seja, situações que provocam alterações significativas no fluxo ordinário e que demandam uma atuação especializada”, frisa o superintendente. A ação da PRF, conforme Reischak, é sempre orientada por estudos e modelos estatísticos. “Envolve atuar nos segmentos que apresentam os maiores índices de acidentalidade e também nas causas que mais influenciam a violência no trânsito”, reitera.

Shows: a retomada plena

Se em 2020 tudo parou por causa da pandemia, 2021 teve uma retomada tímida a partir do segundo semestre com shows locais e nacionais no último trimestre. Já o ano de 2022 será da retomada plena, com apresentações internacionais de grande porte na capital gaúcha. O primeiro é de reggae de qualidade, que vem direto da fonte, da Jamaica. The Wailers voltam ao Brasil com a turnê do álbum “One World”. A apresentação será em 20 de janeiro no Auditório Araújo Vianna. O novo trabalho é o primeiro disco da banda em 25 anos, que foi indicado ao Grammy 2021 na categoria Melhor Álbum de Reggae. No final de 2020, eles lançaram o primeiro single do álbum, “One World, One Prayer”, faixa focada na união, amor e inclusão. A música apresenta Farruko, o astro jamaicano Shaggy, e continua o legado de Bob Marley ao lado dos filhos Cedella Marley e Skip Marley.

Em abril, no dia 26, a Arena do Grêmio vai presenciar o show de lendas vivas do hard rock e que perfazem a derradeira turnê. O show “KISS, End Of The Road World Tour” vai mostrar o quarteto norte-americano dez anos depois da última apresentação na Capital. O Kiss deu início à sua turnê de despedida no dia 31 de janeiro de 2019, na Rogers Arena, em Vancouver, no Canadá. A turnê teria 174 shows, porém acabou sendo suspensa por conta da pandemia. O último show da banda antes do surto de Covid-19 foi em 10 de março de 2020. A volta aos palcos da banda formada por Paul Stanley, Gene Simmons, Eric Singer e Tommy Thayer se deu no dia 18 de agosto, no Xfinity Center, em Mansfield (EUA). O repertório inclui “Lick it Up”, “I Love it Loud”, “I was made for lovin’you”, “Rock and Roll All Nite” e “Detroit Rock City”.

Em maio, será a vez de o Metallica voltar à América do Sul, no dia 5, no estacionamento da Fiergs. Para esta apresentação, a banda tem como convidado especial Greta Van Fleet e a abertura será da Ego Kill Talent. O show faz parte da turnê “WorldWired Tour”, anteriormente previsto para ocorrer em 2020, mas adiado duas vezes por conta da pandemia. A turnê ainda trabalha o décimo álbum de estúdio da banda norte-americana, “Hardwired... to Self-Destruct”. Esta turnê iniciada em 2016 e paralisada no segundo semestre de 2019 foi realizada seis anos após a grandiosa “World Magnetic Tour”. A banda tem a formação básica com James Hetfield, Lars Ulrich, Kirk Hammett e Robert Trujillo.

Porto Alegre também entra na rota do giro da “The Neon Tour” pela América Latina do duo inglês Erasure (Andy Bell e Vince Clarke). A apresentação será no dia 27 de julho, às 21h, no Araújo Vianna. A dupla recentemente lançou seu 18 álbum de estúdio, “The Neon”.

Cinema: nas telonas de 2022

Se os últimos dois anos foram complicados para a indústria cinematográfica, 2022 vem com esperança de retomada de salas no mundo inteiro, com estreias para todos os gostos. No universo brasileiro, já teremos no início de janeiro “Eduardo e Mônica”, inspirado na música homônima do Legião Urbana. Nele se ficcionaliza a história do casal da canção com o amor entre os dois, que floresce em uma Brasília da década de 1980. Nos papéis principais, estão Gabriel Leone (“Dom”) e Alice Braga (“Cidade de Deus”). Já “Tarsilinha”, voltada para o público infantil, é a animação de Célia Catunda e Kiko Mistrorigo em homenagem à Tarsila do Amaral (1886 - 1973), uma das grandes artistas do modernismo brasileiro.

Fortalecendo a agenda de estreias mundiais, em março chega “The Batman”, um dos mais aguardados filmes de super-heróis de 2022, com Robert Pattinson no papel do famoso superdetetive da DC Comics. O principal vilão será Charada (Paul Dano), um homem obcecado por enigmas que infringe a lei com essa estratégia.

Ainda em março estreia “Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore”, o novo filme dentro do universo de “Harry Potter”. Nele, Newt Scamander (Eddie Redmayne) é um magizoologista que carrega sua coleção de animais do mundo da magia em viagens. No elenco tem ainda Jude Law e Mads Mikkelsen, que substituirá Johnny Depp, que se envolveu em polêmicas relacionadas à violência contra a mulher.

Em maio, o encontro é com “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”, que acompanhará a trajetória do feiticeiro vivido pelo talentoso Benedict Cumberbatch, depois de muitos eventos que aconteceram em obras como “Vingadores: Ultimato” (2019), “WandaVision” (2021) e “Loki” (2021).

O spin-off de “Toy Story” chega em junho com “Lightyear”, focando na história de Buzz Lightyear, um dos personagens mais famosos da Pixar. Em julho é hora de “Thor: Love and Thunder”, novo momento do super-herói dentro do Universo Cinematográfico da Marvel. Depois de muitas tragédias e lutas, Thor foi para o espaço com os “Guardiões da Galáxia” com o objetivo de aproveitar um longo período de férias, sem a perspectiva de fazer planos e ter algum trabalho estabelecido.

Quando entrar setembro, chegará às telas o suspense psicológico “Don’t Worry Darling”, com Florence Pugh e Harry Styles nos papéis principais. A direção é de Olivia Wilde e o contexto se dá durante a década de 1950. No elenco, ainda estarão Chris Pine, Douglas Smith, Gemma Chan e outros. Ainda em setembro, tem a estreia de “Missão Impossível 7”. Enquanto as produções passadas ocorrem em períodos diferentes da vida de Ethan Hunt, as próximas terão uma narrativa contínua. Nestas sequências, Christopher McQuarrie retorna como diretor. No elenco, estarão Hayley Atwell, Pom Klementieff, Shea Whigham, Vanessa Kirby e Esai Morales. Também em setembro tem “The Flash”, com Maribel Verdú, Kiersey Clemons, Ben Affleck, Michael Keaton e Sasha Calle.

Em novembro, chega “Pantera Negra: Wakanda Forever” e, em dezembro, “Avatar 2”, com Sigourney Weaver.

Grêmio: na missão de voltar à elite

Dezembro de 2020. O torcedor do Grêmio ainda processava a eliminação da Copa Libertadores, após uma goleada de 4 a 1 sofrida para o Santos na Vila Belmiro. A decepção da tentativa do tetracampeonato ter ficado pelo caminho, no entanto, era amenizada pela perspectiva do que estava por vir. Isso porque entre o Natal e o Ano Novo, o Tricolor despachou o São Paulo e garantiu-se em mais uma final da Copa do Brasil, em que mediria forças com o Palmeiras. Naquele momento, apesar de o time em campo dar sinais de que o brilhantismo de três anos antes não era mais o mesmo, o horizonte ainda era brilhante. Só que deu tudo errado. Errado de uma forma que nem o mais pessimista dos torcedores do Grêmio poderia imaginar.

Corta para o final de 2021. Recém-rebaixado à Série B depois de passar praticamente todo o Campeonato Brasileiro na zona de rebaixamento, o Grêmio sabe que 2022 se resume a uma única missão: voltar à elite do futebol nacional. Tudo que vier além disso será bônus, afinal de contas, permanecer na segunda divisão em 2023 é algo impensável para um time do tamanho e da tradição do Tricolor. O problema é que, se no final do ano passado, era difícil imaginar o time em uma queda vertiginosa, desta vez a temporada colocou uma pulga atrás da orelha dos torcedores: é possível acreditar em um time que em campo poucas vezes deu a resposta esperada? Para tornar as coisas ainda mais complicadas, tudo indica que a Série B em 2022 será uma das mais disputadas dos últimos tempos. Equipes de tradição não faltam. Além do próprio Grêmio, só de campeões brasileiros e/ou da Copa do Brasil também estão na disputa Bahia, Cruzeiro, Guarani, Vasco, Sport e Criciúma. Isso sem falar no Cruzeiro, recém-comprado pelo ex-craque Ronaldo Fenômeno e que deve vir com investimento pesado para voltar à Série A.

Uma coisa é praticamente certa: o Grêmio que se verá em 2022 não será o de 2021. Sim, a direção manteve tanto o vice de futebol Dênis Abrahão quanto o contestado técnico Vagner Mancini. Já o time deve ser bem diferente. Poucos dias depois da rodada que decretou a queda, a reformulação começou. Já saíram nomes importantes como Diego Souza, Rafinha e Cortez. Nem mesmo Douglas Costa, contratado a peso de ouro no primeiro semestre e saudado como uma das maiores negociações do clube, deve ficar. Sem a Libertadores neste ano, o Gauchão deve ser mais bem aproveitado para azeitar o time que terá a responsabilidade de terminar a temporada pelo menos entre os quatro primeiros colocados da Série B.

Inter: meta é fazer diferente

O 2021 começou bem, com o Inter quase conquistando o título de campeão brasileiro, algo que não ocorre desde 1979, mas, aos poucos, foi se transformando em uma sucessão de fracassos e derrotas. Em campo, o time colorado não se aproximou das conquistas e, ainda por cima, encerrou o Campeonato Brasileiro na frustrante 12º posição, fora da Libertadores da América. O grande desafio para 2022 é não repetir os erros recentes e voltar a conquistar uma taça, encerrando um jejum que dura desde 2016.

Internamente, os dirigentes colorados elegeram a Copa Sul-Americana como a prioridade da temporada. O torneio, apesar de ter premiações menores e escassa visibilidade, é disputado por clubes menores, alguns semiamadores, já que os maiores e mais ricos estão na Libertadores. Conquistar o título, em tese, parece ser possível. Aliás, segundo a maioria dos prognósticos, o Inter começa a Sul-Americana, seja como for, como um dos reais postulantes à taça.

Logo depois do Campeonato Brasileiro, os dirigentes prometeram uma reformulação do grupo de jogadores. A ideia é trazer reforços pontuais, aproveitar melhor os talentos da base e negociar alguns atletas que, por estarem há muito tempo no clube justamente em uma fase de nenhuma conquista, vivem uma situação de desgaste com a torcida.

Então, o objetivo é promover uma verdadeira renovação até o mês de janeiro, quando o grupo de jogadores retorna de férias e começa a trabalhar visando à estreia no Campeonato Gaúcho. “Estamos encerrando um ano que não foi positivo. Temos que iniciar 2022 fazendo uma autocrítica, entendendo onde erramos para que a gente possa não repetir os erros, mas, mais do que isso, buscar alternativas e corrigir fatores que fizeram parte desta temporada que foi diferente. Esse ano começou com o campeonato de 2020 em andamento, aonde chegamos a uma final de Campeonato Brasileiro. Houve pouco tempo para um pré-temporada e outros fatores, mas foi ruim”, resumiu, após a derrota diante do RB Bragantino, na rodada derradeira do Brasileirão, o presidente do Inter, Alessandro Barcellos.

Resumindo, o Internacional promete fazer diferente, com jogadores também diferentes, para, em 2022, ter resultados melhores do que nos últimos cinco anos. No início da temporada, o grupo principal deve ficar de fora dos primeiros jogos do Gauchão, mas entrará em sua fase decisiva. A meta do clube colorado é voltar a sentir o gosto dos títulos no próximo ano.

Seleção brasileira: hora de buscar o hexa

Em jejum sem ganhar uma Copa do Mundo há 20 anos, a Seleção Brasileira, treinada por Tite, vai para o Catar em novembro de 2022 lutar pelo hexacampeonato, mas sem o mesmo favoritismo das outras vezes. Pela primeira vez na história, o Mundial será disputado no final do ano, inverno no Oriente Médio, para fugir das altas temperaturas do verão na região. Já estão garantidas 13 seleções, restando 19 vagas em disputa. O Catar, como país-sede, não precisou passar pelas Eliminatórias, que já definiram Brasil e Argentina, e os europeus Alemanha, Espanha, Suíça, França, Bélgica, Dinamarca, Holanda, Croácia, Inglaterra e Sérvia.

O Brasil é o único time a ter disputado todas as edições da Copa do Mundo, 21 no total, e é o maior vencedor, com cinco conquistas: 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002. Em 2018, na Rússia, a equipe Canarinho acabou caindo nas quartas de final para a Bélgica. E a campeã foi a França, que agora vai para a sua 16 presença em um Mundial, contando com nomes como Mbappé, Benzema, Pogba e Griezmann.

A Seleção Brasileira terá no Oriente Médio que provar se pode jogar ou não com o craque Neymar, que nos últimos anos tem sofrido com diversas lesões. No qualificatório para o Catar, por diversas vezes o camisa 10 ficou de fora, e a equipe teve dificuldades em campo, deixando dúvidas se pode funcionar sem ele. Os números do Brasil sem Neymar após a Copa de 2018 são de 16 jogos, com dez vitórias, cinco empates e uma derrota. Mas com o craque, os números melhoram. Em 23 partidas, são 19 vitórias, dois empates e duas derrotas.

A grande conquista do time de Tite, porém, a Copa América de 2019, aconteceu sem a presença do jogador do PSG, que se lesionou em um dos amistosos preparatórios para a competição em casa. Sem saber como estará Neymar no final de 2022, a esperança do hexa passa por nomes como Lucas Paquetá, do Lyon, Vinícius Junior, que vem gastando a bola no Real Madrid, e a nova esperança, o porto-alegrense Raphinha, do Leeds United.

A Copa do Mundo começa em 21 de novembro de 2022, com a final sendo disputada em 18 de dezembro. A previsão é que a primeira etapa seja disputada em 12 dias, com quatro confrontos diários, às 7h, 10h, 13h e 16h (horários de Brasília). Dado que o Catar é o menor país em tamanho a sediar uma Copa, com 11.600 quilômetros quadrados, e que todos os estádios se situam dentro e nos arredores da capital Doha, os torcedores poderão assistir a diferentes jogos no mesmo dia.

A primeira partida ocorrerá no Estádio Al Bayt, com capacidade para 60 mil pessoas. Já a decisão terá como palco o Lusail, para 80 mil pessoas. Além das duas arenas, serão utilizados ainda os Estádios Ras Abu Aboud, Khalifa International, Al Thumama, Ahmad Bin Ali, Al Janoub e Education City. “Para todos aqueles que amam o futebol, isso será como uma loja de brinquedos para uma criança”, disse o presidente da Fifa, Gianni Infantino.

Todos os torcedores precisarão estar totalmente vacinados contra a Covid-19 para assistir às partidas. O Catar possui 2,7 milhões de habitantes e espera receber mais de 1 milhão de turistas durante a Copa do Mundo. Os ingressos só serão vendidos em 2022, após o sorteio dos grupos.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895