Xadrez une professores e alunos em projeto

Xadrez une professores e alunos em projeto

Smed abraça programa do governo do RS e leva modalidade para escolas do município

Aulas ministradas pela professora Daniela Aspis (C), na EMEF Grande Oriente do RS, no bairro Rubem Berta, tem demanda para mais que o dobro de alunos atendidos

Por
Claudia Chiquitelli

Os alunos de colégios de Porto Alegre têm no xadrez um forte aliado no enfrentamento de dificuldades, como falta de foco, aprendizado, ansiedade e pouca interação social, principalmente após a pandemia, na qual não tiveram convívio diário no ambiente educacional. Apoio nesse sentido vem do projeto Xadrez Poa, adotado pela Secretaria Municipal de Educação (Smed), para ser desenvolvido nas instituições de ensino local. A medida é um dos braços do Xadrez Escolar, desenvolvido em 2021 e 2022 e integrado ao RS Seguro (programa para a melhoria dos indicadores de criminalidade, com foco em áreas de maior criminalidade e vulnerabilidade socioeconômica), do governo do Rio Grande do Sul, direcionado às escolas. 

Em níveis estadual e municipal, o projeto capacita professores para ensinar os estudantes a jogar e dá aos alunos a oportunidade de enriquecer seu desenvolvimento. Os colégios receberam kits com jogos de xadrez e relógios. Na Capital, 11 instituições foram contempladas com o material.

O professor Celso Pessanha Machado, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Aramy Silva, no bairro Camaquã, conta que 2022 foi um ano de retomada do projeto, pois a pandemia impediu a realização das aulas. “Antes da Covid-19, promovemos torneios com 120 alunos, apenas do nosso colégio, e, neste ano, temos 60 envolvidos e um sistema de participação em torneios externos”, diz. O educador ressalta que uma das principais conquistas do ano foi o primeiro lugar na categoria Mirim, no Jogos Escolares do RS (Jergs), vencido pelo aluno Matheus Sebastian, 11 anos.

Equilíbrio

O estudante comemora o treinamento que recebe no colégio e a liderança no Jergs. “Participei de 21 partidas on-line em um dia com aproveitamento de 80%”, afirma o aluno do 5º ano do Ensino Fundamental. Matheus revela que era ansioso, mas a participação no projeto mudou a situação. “Sentimos agitação até na sala de aula, mas depois que começamos a competir, na escola, eu e meus colegas estamos mais calmos. Além disso, entendemos melhor as questões de lógica”, acentua.

A coordenadora do projeto na Smed, Adriana Xavier, observa que a iniciativa qualifica e amplia a prática nas instituições, além de ter foco na segurança e no combate à evasão escolar. A professora assegura que o xadrez é uma ferramenta pedagógica fortíssima em relação a questões cognitivas, permitindo maior concentração e estratégia. “Em relação ao esporte, faz perceber que nem sempre ganhamos, tudo isso aliado à socialização e à disciplina”, afirma. 

O município já tem cerca de 30 professores formados. Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Senador Alberto Pasqualini, no bairro Restinga, foi realizado um torneio, em novembro, com mais de 100 alunos. Outras competições foram promovidas, como na Escola Municipal de Ensino Fundamental Lauro Rodrigues, no bairro Passo das Pedras, em julho, reunindo mais de 90 alunos, de 4 a 9 anos de idade. “Estamos formando uma rede, por meio do WhatsApp e boca a boca, no qual as escolas vizinhas ficam sabendo e buscam participar”, conta Adriana. No Instagram, o Xadrez Poa pode ser acessado pelo perfil: @xadrezpoa250.

Já de acordo com a assessora do Departamento Pedagógico, da Secretaria da Educação do RS (Seduc) e gestora do Xadrez Escolar, Danusa Elena Zanella, foram inscritos nos últimos dois anos cerca de 300 professores de escolas municipais e estaduais.

Questões Sociais

Se nas escolas, para se integrar ao Xadrez Poa, funciona boca a boca, entre os alunos a mesma coisa acontece. Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Grande Oriente do RS, no bairro Rubem Berta, a professora Daniela Aspis diz que a adesão à modalidade é de um aluno falando para o outro. Coordenadora da iniciativa, a educadora fez a capacitação on-line e desde março deste ano desenvolve a atividade. “Quando souberam que outros colegas estavam aprendendo, os estudantes começaram a pedir os tabuleiros emprestados”, explica a professora, que joga xadrez desde os 6 anos de idade e tem até 12 alunos por sala de aula.

Para o estudante Pedro Henrique da Silva Martini, 15 anos, o xadrez permitiu que ele aumentasse o foco e diminuísse a dispersão nas aulas. Aluno do 8º ano, do Ensino Fundamental, da Grande Oriente, ele celebra que já ensinou seu melhor amigo a jogar. “Na vida pessoal, notei que fiquei mais calmo.”

Daniela afirma que, infelizmente, devido à violência da região onde a escola está sediada, existe muita evasão e que essa situação fez com que perdesse um de seus melhores jogadores. “É um jogo de inclusão e que levanta questões sociais, entre elas, o poder da mulher, visto que a peça mais forte do xadrez é a rainha”, entende. Um dos questionamentos levantados pelos alunos é por qual razão são as peças brancas e não as pretas que começam o jogo. Para a educadora, a modalidade aumenta a autoestima e melhora a timidez dos alunos, além de promover o acolhimento de ingressantes.

Perspectiva

O professor Machado afirma que intensificará o apoio ao processo de ensino e aprendizagem, promovido pelos educadores, além de manter a presença nas competições regionais e estaduais. “Se possível, participar de algum torneio nacional”, estima. Já a professora Daniela gostaria de ter mais horas dedicadas ao ensino e nos dois turnos, para poder contemplar alunos dos Anos Iniciais até a Educação para Jovens e Adultos (EJA) e, assim, atender a demanda crescente de estudantes. 

“Vamos chamar novamente as escolas para capacitar mais professores e também terei mais horas dedicadas ao xadrez”, afirma a professora Adriana. O curso estará disponível no canal da TV Seduc/RS, no YouTube, para os professores.

Era uma vez

Autor do livro “Era uma vez... Uma escola que jogava xadrez!”, o professor da Rede Municipal de Ensino Celso Pessanha Machado destaca, entre os benefícios dessa modalidade, o aumento da concentração, como “muito importante nesses tempos de recursos on-line que tendem a dispersar a atenção”. De acordo com o escritor, uma das vantagens do jogo é a compreensão de que, para atingirmos objetivos, precisamos de estudo e estratégias de médio e longo prazos. Neste ano, após preparar um curso para professores do Ensino Fundamental, percebeu que o material reunido poderia ser usado em uma publicação. “O livro explica como eu criei um processo de ensino de xadrez a partir do zero e como pode ser feito em qualquer escola”, diz.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895