Quadro de mestre holandês roubado por nazistas será devolvido por cassino alemão
Cerimônia será realizada no Museu de Amsterdã, em anexo construído no local onde viveu o artista Juriaen Pool II
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Desde 2002, a Universidade Concordia tenta recuperar mais de 400 quadros que pertenceram ao marchand Max Stern. Ameaçado pelos nazistas, ele foi obrigado a fechar sua galeria de arte de Dusseldorf em dezembro de 1937, fugindo para Londres, depois para o Canadá, após ter sido obrigado pela Gestapo a abandonar ou ceder seus quadros, vendidos a preços baixos. A Concordia é legatária da coleção Max-Stern, junto com a Universidade McGill de Montreal e a Universidade hebraica de Jerusalém.
A obra que será devolvida nesta terça-feira, durante cerimônia no Museu de Amsterdã, é uma tela de grande dimensão, "Les maîtres de la guilde des orfèvres à Amsterdam en 1701" (Os mestres da assembleia de órfãos de Amsterdã em 1701), do então jovem retratista Juriaen Pool II (1665-1745). O quadro representa os notáveis de Amsterdã e estava na galeria Stern de Dusseldorf até 1937, ano em que foi enviado à galeria Heinemann de Wiesbaden. Foi adquirido, após a Segunda Guerra Mundial, por um cassino no sul da Alemanha, que permaneceu com ele desde então. Epstein recusou-se a identificar o cassino, que pediu para não ter o nome divulgado. O trabalho é a nona obra de arte espoliada pelos nazistas a ser devolvida aos herdeiros testamentários de Max Stern, que faleceu durante uma viagem a Paris, em 1987.
A realização da cerimônia no Museu de Amsterdã não foi por acaso: a instituição acaba de inaugurar um anexo destinado a crianças no mesmo local onde havia um orfanato que viu crescer Juriaen Pool na adolescência, após ficar sem a família.
Um personagem que encarna o retratista é encarregado de guiar, hoje, os visitantes, de uma sala à outra do antigo orfanato.
A devolução da tela foi fruto de um trabalho minucioso, iniciado em 2004 por dirigentes do projeto, com o apoio dos escritórios de pedidos de indenizações ligadas à Shoah (expressão que significa catástrofe ou tragédia e que é utilizada para designar o genocídio nazista) do Estado de Nova Iorque, graças a informações sobre sua localização fornecidas pela casa Sotheby's.
Nos arquivos do Instituto holandês de História da Arte (RKD), com o qual Max Stern mantinha estreito contato, na época, um pesquisador encontrou uma nota deste último datando de 1937. Acompanhada de uma fotografia do quadro, a nota não deixa nenhuma dúvida sobre quem era o proprietário da obra, como atestam os documentos da Universidade Concordia. Um forte argumento que convenceu o cassino a devolver a obra, acrescentou Epstein.