Existe hora certa para trocar de técnico?

Existe hora certa para trocar de técnico?

Histórico do Brasileirão aponta que continuidade do treinador é receita para sucesso

Fabrício Falkowski e Rafael Peruzzo

Hora de trocar de técnico é a mais complicada, dizem dirigentes

publicidade

O futebol brasileiro, diferentemente de outros países, se caracteriza por colocar nos treinadores a maior parcela de culpa por maus resultados. Isso acarreta a troca constante de técnicos nos principais clubes do país. Em 2015, somente o campeão Corinthians permaneceu com o mesmo profissional durante todo o Brasileirão. Coincidentemente, o time paulista foi o campeão.

Dirigentes experientes — ou nem tanto — são unânimes: o momento da definição sobre a necessidade ou não de trocar um treinador é o mais complicado que a “categoria” vive no dia a dia do futebol. Pior que isso. Não é possível ter certeza sobre o acerto da decisão, tanto pela manutenção quanto pela troca, antes que pelos menos algumas semanas sejam transcorridas. Ou seja, trata-se de um momento de tensão e incerteza, cujo resultado nem sempre é a ascensão do time em campo.

Qualquer dirigente pode, rapidamente e de cabeça, enumerar casos de trocas que frutificaram em vitórias e outras que nem tanto. Marcelo Medeiros, que foi vice-presidente de futebol na gestão do presidente Giovanni Luigi no Inter, observa que, em qualquer caso, a informação é a melhor forma de minimizar equívocos.

“A perda de qualidade de um time pode ter várias razões e todas devem ser consideradas. Pode sim ser culpa do treinador, mas também pode ser deficiência física, perda de foco, falta de qualidade dos jogadores, displicência ou até dificuldades financeiras do clube, que eventualmente pode não conseguir pagar em dia. Por isso, o dirigente tem que estar presente e ter o maior número de informações possíveis para formar um cenário”.

Ele lembra que, além disso, é necessário avaliar o mercado para ver se há algum profissional disponível para fazer a substituição. “Se não houver outro técnico que dê esperança de reação, não adiante nem trocar. É só estresse inútil”.
Diretor-executivo do Grêmio por três anos e meio, Rui Costa acredita que não há um momento certo para fazer uma troca de treinador.

Segundo ele, o ideal sempre é a continuidade do trabalho. “Não tem uma situação limite que defina a troca. São vários fatores. O treinador que perdeu o grupo, a metodologia que não é compatível, um treinador que não participou da montagem do grupo. As vezes o próprio treinador sente que suas ideias não são mais acolhidas pelo grupo”, destaca o dirigente. “Na Europa, se troca o treinador porque ele cumpriu sua tarefa. No Brasil, é porque o projeto não foi aquele que todos no clube imaginavam. Trocar nunca é uma coisa boa”, acrescenta. Rui Costa participou de quatro trocas de treinadores durante o período em que trabalhou como executivo no Grêmio.

Chance maior de continuidade

Errar ou acertar na contratação de um jogador faz parte do cotidiano. O acerto é o objetivo sempre, mas os erros são inevitáveis. No geral, porém, não impactam tanto no sucesso ou no fracasso geral de um time na temporada. Não é o caso do técnico. Este cargo é único e, do acerto ou do erro desta escolha, advém o resto. Por isso, a importância da decisão. “Trocar de técnico é sempre difícil. Não existe fórmula exata ou definitiva”, afirma Marcelo Medeiros.

“Quanto mais longevidade, mais chance de dar certo”, define Rui Costa. Se não há fórmula exata, há uma coincidência que explica o sucesso dos últimos dez campeões brasileiros. Somente um deles, o Flamengo em 2009, trocou de treinador durante o Brasileirão. Os demais apostaram na continuidade e se deram bem. “Eu acredito que essa cultura da troca de comando está mudando no Brasil. Nós temos bons exemplos atualmente, como o Jorginho no Vasco e o próprio Roger no Grêmio”, comenta o ex-executivo do Tricolor.

“O São Paulo foi eliminado da Libertadores da América, mas jogou bem. Dá para ver que ali existe um trabalho. O Bauza (Edgardo, treinador do São Paulo) não pode ser mandado embora por causa disso. Só tem um jeito de ganhar, que é ter continuidade. A mudança tem que ser no sentido de manter o projeto”, conclui.

Dirigentes com rodagem comparam a escolha de um técnico como a de um gerente em uma empresa. Ele precisa reunir, além de predicados técnicos, outros de natureza relacional e de liderança. Ou seja, além de entender de futebol, precisa ser um líder que inspire a confiança e que consiga tirar o máximo desempenho dos seus comandados dentro de campo.

Histórico de poucas trocas nos campeões

Manter o técnico ao longo da temporada pode até não ser garantia nenhuma de que os resultados vão melhorar logo ali, mas a julgar o histórico recente do Campeonato Brasileiro, é uma aposta que costuma ter bons resultados para os clubes. Nas últimas dez edições da competição, apenas o Flamengo, em 2009, trocou de comando em meio à disputa — substituiu Cuca por Andrade — e levantou a taça no final do ano. Todos os demais campeões iniciaram a terminaram com o mesmo comandante.

Em contrapartida, quem aposta em muitas alterações em meio ao campeonato tem se dado mal. Entre as equipes rebaixadas, é comum o clube ter pelo menos três técnicos ao longo do Brasileirão. O Joinville, no ano passado, por exemplo, começou com Hemerson José Maria, depois teve Adílson Batista e P.C. Gusmão, antes de encerrar a participação com Claudiomiro Santiago. Foi o último dos 20 participantes.

Campeões

2015: Corinthians - Técnico Tite
2014: Cruzeiro - Técnico Marcelo Oliveira
2013: Cruzeiro - Técnico Marcelo Oliveira
2012: Fluminense - Técnico Abel Braga
2011: Corinthians - Técnico Tite
2010: Fluminense - Muricy Ramalho
2009: Flamengo - Técnico Cuca e Andrade
2008: São Palo - Técnico Muricy Ramalho
2007: São Paulo - Técnico Muricy Ramalho
2006: São Paulo - Técnico Muricy Ramalho

Mais Lidas

Confira a programação de esportes na TV desta terça-feira, 23 de abril

Opções incluem eventos de futebol e outras modalidades esportivas em canais abertos e por assinatura







Placar CP desta terça-feira, 23 de abril: confira jogos e resultados das principais competições de futebol

Acompanhe a atualização das competições estaduais, regionais, nacionais, continentais e internacionais

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895