Fifa interroga Del Nero por cinco horas sobre propinas e acusações de sete crimes

O presidente afastado da CBF, Marco Polo Del Nero, passou por um interrogatório de cinco horas, nesta sexta-feira, em uma audiência que se estendeu mais do que o previsto. Por meio de uma videoconferência, ele respondeu pela primeira vez aos investigadores da Fifa, depois que foi alvo de um processo por corrupção.

O jornal O Estado de S.Paulo apurou que, por vezes, o cartola se exaltou ao ser questionado e foi o único a tomar a palavra por parte de sua defesa. Mas insistiu que é inocente e que não existem provas contra ele, apesar de ser acusado de sete crimes nos Estados Unidos - entre eles fraude e formação de organização criminosa.

Os investigadores da Fifa repassaram toda a documentação produzida pelos promotores norte-americanos, que acusam Marco Polo Del Nero de corrupção na CBF e de um desvio de US$ 6,5 milhões (cerca de R$ 21 milhões). Durante a audiência, o brasileiro foi confrontado com cada uma das informações reveladas em Nova York, inclusive pedidos que ele teria feito por propina em troca de contratos de televisão para a Copa do Brasil, Copa Libertadores e outros torneios.

O interrogatório se prolongou por conta da quantidade de evidências. Cada um dos detalhes apresentados na corte norte-americana contra Marco Polo Del Nero foi questionado, entre eles os acordos com José Maria Marin para repartir o dinheiro. Ele foi ainda interrogado se conhecia as pessoas que levaram as evidências às cortes, entre eles o empresário José Hawilla.

Em outra evidência levantada pela Justiça norte-americana, os investigadores apontaram como outro empresário, Alejandro Burzaco, revelou que Marco Polo Del Nero herdou a propina que, até 2012, era paga a Ricardo Teixeira. Mas o montante de US$ 600 mil foi aumentado para um total de US$ 1,2 milhão (R$ 3,8 milhões).

Marco Polo Del Nero também foi confrontado por documentos em que testemunhas nos Estados Unidos apontavam como sendo as anotações das propinas. O documento citado, porém, fala apenas de "brasileiro". Na corte norte-americana, as testemunhas indicaram que ele seria Del Nero, o que o dirigente nega. Ele também teve de responder sobre um acordo para receber US$ 3 milhões (R$ 9,6 milhões) em propinas, relativas à Libertadores.

Para a defesa do brasileiro, o interrogatório foi a ocasião de esclarecer a sua situação. Seus advogados indicaram que, durante a audiência, nenhuma nova prova foi apresentada. Marco Polo Del Nero voltou a dizer que é inocente e que não existem provas materiais. Ele não viajou por conta do risco de ser preso e extraditado aos Estados Unidos, o que fontes na Fifa consideraram como uma fragilidade de sua defesa.

Uma investigadora do comitê da Fifa afirmou que não poderia dar ainda uma ideia de quando uma decisão final seria tomada, o que poderia significar o fim de sua carreira na gestão do esporte. "Vai depender ainda", disse a investigadora, sob anonimato. "Primeiro precisamos ver qual vai ser o resultado dessa audiência", explicou. Questionada se haveria um novo interrogatório, ela não descartou. "Pode ser. Vamos ver primeiro o que sai dessa", completou.

A Fifa, para suspendê-lo temporariamente, se valeu das investigações conduzidas pelos promotores americanos. Para a defesa de Marco Polo Del Nero, porém, elas não podem ser comparadas ao material que foi produzido contra José Maria Marin, ex-presidente da CBF e preso nos Estados Unidos. No caso de Marin, diz a defesa, existiriam provas do dinheiro.