Olímpico sofre com vandalismo e degradação
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Olímpico sofre com vandalismo e degradação

Estádio que foi a casa do Grêmio por quase seis décadas é hoje é apenas um local esquecido no tempo

Henrique Massaro

Espaço que abrigava um dos mais importantes gramados do Brasil e que agora é tomado por mato foi sendo desconfigurado enquanto o imbróglio que envolve seu destino não se resolve

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Durante quase 60 anos, ele foi a principal referência do bairro Azenha, em Porto Alegre. Formador de craques, palco de alegrias e tristezas, concentrador de multidões, o Estádio Olímpico Monumental hoje é apenas um local esquecido no tempo. Fechada há seis anos, a antiga casa do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense é o retrato de abandono e do vandalismo. O espaço que abrigava um dos mais importantes gramados do Brasil e que agora é tomado por mato foi sendo desconfigurado enquanto o imbróglio que envolve seu destino não se resolve e a região que, apesar de abalada pela degradação do seu ponto mais conhecido, seguiu sua rotina. 

Uma avenida curta, formada por pouco mais de dez quadras, mas de fluxo constante de veículos e pedestres. Uma via que corta a avenida Ipiranga e que é abraçada pelas avenidas João Pessoa e Érico Veríssimo, passando entre os bairros Menino Deus, Santana e Santo Antônio, e empilhada de estabelecimentos como lojas, farmácias e pequenos bares próximos das beiradas das calçadas que lhe dão ares de um pequeno centro comercial popular. Assim é a avenida da Azenha, a principal do bairro de mesmo nome. 

O comerciante Waldemar Bronzatto, de 86 anos, é uma das poucas testemunhas oculares não só das modificações viajadas pelo Estádio Olímpico, como de outras mudanças históricas da região. Há 64 anos, ele é proprietário de uma loja de calçados na avenida homônima ao bairro. O estabelecimento, aliás, é personagem ainda mais histórico do local: em 2019, completa 100 anos na Azenha. A chegada de Bronzatto à avenida, onde também reside, quase coincide com a inauguração do Olímpico, em 1954. O estádio, porém, não é a principal lembrança que o comerciante guarda daquela época. A falta de asfalto em metade da via, a passagem do bonde e os armazéns de verduras lhe vêm mais à memória. Da mesma forma, a saída gremista não foi o primeiro grande impacto sentido no comércio local. Segundo ele, a chegada dos shoppings centers reduziram em cerca de 60% o movimento de clientes. 

Não que o fim das atividades do Olímpico Monumental não tenham impactado as atividades. De acordo com Bronzatto, o estádio trazia muito público do Interior e, com o fim dessa clientela, aproximadamente 20% do fluxo de pessoas caiu. Houve também, na visão do comerciante, um ponto positivo, que foi a redução de atos de vandalismo que acabavam acontecendo em dias de jogos. Bronzatto, que prevê que a Azenha vai ter um aumento expressivo do número de moradores em função de novos prédios residenciais, afirma que, apesar de algumas mudanças, a avenida continuou seu curso normalmente com a desativação do Olímpico. Ele lembra as características comerciais da via e a vantagem de ter áreas residenciais próximas. “A Azenha tem vida própria, é um bairro-cidade. Tudo o que tem no Centro, tem aqui e com mais segurança."

Mas a Azenha que dá acesso ao retângulo formado pela rua José de Alencar e avenidas Doutor Carlos Barbosa, Oswaldo Rolla e Coronel Gastão Haslocher Mazeron é mais residencial e de pouca movimentação de pedestres. No centro dessa área, o espaço que costumava movimentação ao bairro hoje é o seu grande deserto. A degradação se abateu de tal forma sobre o Olímpico Monumental que pode confundir quem não está familiarizado com a história do antigo estádio gremista. Isso porque, devido à falta de cuidados e aos constantes furtos e atos de vandalismo, o local parece estar abandonado há décadas e não há seis anos. Uma volta pelo grande quarteirão mostra que a falta de atividade não foi só no Monumental, mas em torno dele também.

Antigos bares próximos ao pórtico central, que costumavam concentrar torcedores, hoje são espaços abandonados. Sem eles, a região é majoritariamente formada por residências. Moradora das imediações desde agosto de 2012, período próximo ao fim das atividades do Olímpico, Fabiane Martinazzo, de 34 anos, afirma que o movimento diminuiu consideravelmente. Na época em que se mudou para a Azenha, por exemplo, conseguia descer do ônibus tarde da noite e caminhar até sua casa com tranquilidade pela maior concentração de pessoas nas ruas, o que dava sensação de mais segurança. 

Marcas de ruínas

No Olímpico, os sinais são de degradação. Sem permissão para acessar o interior do complexo, pelo meio das grades trancadas é possível ver que a vegetação cresce descontroladamente em espaços do calçamento. As arquibancadas, por sua vez, estão em ruínas, com as ferragens de sustentação expostas. A parte debaixo delas se tornou um grande depósito de vasos sanitários e painéis de iluminação. As janelas estão todas quebradas. E as paredes de todos os muros do entorno e da estrutura do estádio estão cobertas de pichações. Entre os dizeres diversos (alguns indecifráveis), um deles, escrito em tinta azul clara quase apagada, sugere que algo seja feito no portão que costumava concentrar a principal torcida gremista: “Poderia ser preservado o P16 e a parte da arquibancada para virar um museu ou Grêmio Mania”.

De todo o Estádio Olímpico Monumental, entre os campos e departamentos inativos, um setor ainda está em funcionamento. É a sala da segurança, mantida para tentar mitigar constantes atos de vandalismo. Além das pichações e depredações de maneira geral, o local passou a ser alvo constante de furtos de fiações e de alumínio, assim como de arrombamentos de usuários de drogas. Mesmo com seguranças 24 horas por dia, as tentativas parecem continuar. Entre os quatro funcionários que circulam pelo estádio durante o dia, Virlei Gonçalves acaba fazendo mais do que apenas cuidar do patrimônio do clube. Segurança do Grêmio há 38 anos, ele se entristece com o que vê. Gremista como toda sua família, viajou por 15 anos junto do time de coração. Viu crescer e trabalhou ao lado de craques como Ronaldinho, Assis, Zinho e Danrlei. Viu também os grandes públicos do Olímpico, as partidas memoráveis e os títulos. “Ver tudo depredado não é fácil.” Gonçalves afirma que constantemente precisa retirar usuários de crack das dependências. Explica que, durante o dia, é mais fácil de conter as invasões e atos de vandalismo, mas que, à noite, com a escuridão, a situação é mais complicada. 

O Monumental, no entanto, parece estar longe de cair no esquecimento. De acordo com o segurança, seguidamente aparecem interessados em ver o estádio, fechado para qualquer visitação. Ainda conforme ele, a procura é ainda maior em dias de jogos do Grêmio na Arena, quando torcedores de outros clubes, que vêm a Porto Alegre, querem aproveitar para conhecer a antiga casa tricolor.

O bairro continua

Se o Olímpico parou no tempo, o bairro da Azenha seguiu adiante. Há menos de um ano, por exemplo, uma academia foi inaugurada ao lado do estádio, mostrando que a vida não parou na região. Funcionário do local e morador da avenida Botafogo, na divisa com o Menino Deus, Rodrigo Gonçalves, de 29 anos, afirma que as opções de comércio no local são variadas e que o fluxo do estabelecimento é constante. Apesar disso, afirma que costuma passar mais seu tempo livre no bairro vizinho pela falta de opções de lazer e insegurança que sente na Azenha. 

Qualquer área que se deixa ao abandono impacta na economia das imediações. É o que pensa o presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de POA e Região (Sindha), Henry Chmelnitsky, que afirma que espaços assim acabam ocupados pela marginalidade. “Tinha um estádio que era referência para a região, tinha vida, pessoas que consumiam, atividades. Tudo deixou de acontecer.” Na visão dele, há uma demora muito grande em se solucionar o problema do Olímpico. 

Por meio de sua assessoria de comunicação, o Grêmio nega que o Olímpico se encontre abandonado, apesar do "desuso circunstancial". O clube ressalta que mantém segurança 24 horas e providencia a manutenção do complexo. “Uma vez por semana funcionários ligados ao departamento de Patrimônio realizam a limpeza do pátio e calçadas e pulverizam larvicida para evitar a criação ou proliferação do mosquito Aedes Aegypti, seguindo orientação da Vigilância Sanitária. Também, mensalmente, é feita a roçada do que era o campo principal e suplementar", afirma a nota.

Quanto à entrega do Olímpico, o tricolor informa que aguarda resolução de questões jurídicas envolvendo a OAS. Em janeiro do ano passado, o Correio do Povo já havia mostrado a situação. À época, o assessor especial da presidência do Grêmio, Luiz Moreira, destacou que o caso envolvendo a entrega do Olímpico estava na Justiça e que a projeção original era que o espaço fosse demolido para a construção de prédios residenciais. 


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