Torcedor relata espancamento por parte da BM dentro da Arena do Grêmio
Além das agressões, professor afirmou que soldados usaram gás de pimenta dentro de sua boca, olhos e ouvido
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Lima, que é professor universitário e empresário, conta que, na área restrita, os policiais colocaram papelões sobre seu corpo e passaram a desferir uma série de chutes e socos. Depois, segundo o torcedor, os agentes da polícia militar abriram a boca dele e aplicaram gás de pimenta, que também teria sido projetado nos olhos e nos ouvidos.
“Abriram uma porta e, quando eu entrei nessas escadas que eu não conhecia, começaram a me chutar, colocaram gás de pimenta na minha boca, abriram a minha boca, não foi nos lábios, colocaram dentro dos meus olhos, dos meus ouvidos, e daí eu não enxerguei mais nada. Eles apoiaram em mim os papelões e começaram a me chutar. Eu tava gritando e babando. Quando eu fui arrastado, eram quatro brigadianos. Eu me senti torturado, lembrei da ditadura”, diz Lima.
O torcedor disse ainda que, durante a prática de tortura, os servidores públicos da BM exigiam que ele informasse a senha de acesso ao celular dele. Lima diz que, após conceder acesso ao aparelho, os vídeos que havia feito da atuação da BM foram apagados.
“Eles começaram a gritar ‘me dá a senha do teu celular’ e me chutavam. Aí, obviamente, eu achando que poderia morrer, com ninguém próximo, eu dei a senha e obviamente eles apagaram os vídeos que eu havia feito”, relata. Lima conta ainda que, após os brigadianos apagarem os vídeos, pediram que ele se limpasse, lavasse os olhos, e o encaminharam ao Juizado Especial Criminal (JECRIM) para registro de ocorrência.
O torcedor diz que foi retirado da torcida pouco antes do início das agressões por conta de uma divergência sobre a retirada de uma faixa que ele e os amigos mantinham estendida na Arena. A segurança privada da Arena teria inicialmente solicitado a retirada da faixa. Como os torcedores não atenderam a demanda, a BM foi chamada. Segundo Lima, após os torcedores aceitarem a retirada da faixa, os brigadianos o algemaram pelo fato dele filmar a ação policial. Lima admite ter se debatido e questionado a prisão, ainda na arquibancada, mas nega que tenha agredido os policiais.
O caso foi relatado pelo torcedor, acompanhado de três testemunhas, a deputados da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa gaúcha, nesta quarta. Os deputados Jéferson Fernandes (PT) e Manuela D’Ávila (PC do B) desejam levar o caso à Defensoria Pública Estadual.
Procurada pela reportagem, a Brigada Militar (BM) comprometeu se manifestar sobre o caso na tarde desta quarta-feira.
O Grêmio divulgou uma nota oficial sobre o caso, confira:
"O Grêmio FBPA vem a público se manifestar sobre incidente envolvendo um sócio do Clube, em área localizada nas cadeiras superiores, durante a partida entre Grêmio x Novo Hamburgo, ocorrida no último domingo, na Arena.
O Clube esclarece que está participando da apuração dos fatos, em busca da responsabilização necessária para que problemas futuros sejam evitados.
O Grêmio reitera o compromisso com o bem-estar e a segurança de seus torcedores, bem como o cumprimento de todas as normas de convivência vigentes no estádio".
Em uma rede social, uma das testemunhas publicou um vídeo com toda a ação da segurança privada na retirada das faixas. As imagens não mostram a agressão relatada por Lima, mas tudo o que aconteceu antes da BM entrar em ação.