Beira-Rio 50 Anos: Casa cheia para receber os campeões
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Beira-Rio 50 Anos: Casa cheia para receber os campeões

Campeões mundiais lembram momento apoteótico ao trazer a taça para o estádio

Amauri Knevitz Jr

Fernandão e Clemer comandaram a torcida na comemoração

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Na comemoração mais intensa da história do Beira-Rio, a bola sequer rolou. Em 19 de dezembro de 2006, o estádio e seus arredores ficaram lotados para a comemoração da maior das conquistas coloradas: o Mundial de Clubes. Foi um dia de puro êxtase. Além da massa estimada em mais de 600 mil torcedores que saíram às ruas durante o deslocamento da delegação entre a base aérea de Canoas e o estádio, 50 mil pessoas aguardavam o apoteótico momento da chegada dos campeões do mundo.

“Foi a primeira vez que vi aquela quantidade de gente num estádio em um dia sem jogo”, lembra o ex-atacante Iarley, figura emblemática da grande vitória sobre o Barcelona. “Aqueles foram os três dias mais felizes da minha vida”, considera o então presidente Fernando Carvalho, referindo-se ao domingo do jogo e aos dois dias seguintes até a chegada. “Foi inesquecível, impossível de mensurar, o maior momento da minha carreira”, define o ex-goleiro Clemer.

Naquela terça-feira, a movimentação começou cedo. Desde as primeiras horas do dia, torcedores se aglomeravam esperando a abertura dos portões do Beira-Rio. A informação era de que o voo chegaria no fim da manhã. As horas foram passando, o estádio, se enchendo, e a ansiedade, aumentando. Também subia exponencialmente a temperatura, mas a torcida seguia firme sob o sol, esperando os campeões. A festa se intensificou quando um carro de bombeiros adentrou a pista atlética e usou a mangueira de incêndio para jogar água e aliviar o calor do povo colorado, que pulava e entoava os cantos que embalaram as conquistas daquele ano.

Enquanto isso, nos ares, todos na delegação queriam saber o que acontecia em Porto Alegre. Em uma época na qual a Internet móvel era bem mais incipiente, as informações não chegavam tão rápido. O primeiro a alertar para a movimentação atípica foi Alexandre Pato, que viu a notícia em seu notebook na escala em São Paulo. Os demais começaram a trocar mensagens com amigos e familiares sobre o cenário que os esperava. “Nossos familiares nos contaram que a cidade estava parada, e o Beira-Rio, lotado. A expectativa era enorme”, conta Iarley. O último trecho da viagem foi no ritmo do samba, comandado pelo preparador físico Paulo Paixão.

Com algum atraso, a aeronave que trazia os campeões do mundo ingressou no espaço aéreo do Rio Grande do Sul, mas não seguiu direto para o destino da aterrissagem.

Antes, deu voltas sobre a casa colorada, para delírio da massa. O que quem estava lá embaixo não sabia é que a recíproca era verdadeira no alto. “Quando sobrevoamos o Beira-Rio, deu para ver aquele mar vermelho. Dentro do avião, ficamos loucos e começamos a pular e cantar também”, lembra Iarley. “Foi naquele momento que começou a cair a ficha do que a gente tinha realizado”, avalia Clemer.

Às 13h10min, o avião tocou o solo. Os jogadores subiram em um caminhão de bombeiros e iniciaram a romaria em direção ao Beira-Rio. “Eu estava segurando a taça bem na frente e via de perto as motos, os carros, teve gente que acompanhou correndo. Foi impressionante”, conta Iarley. “Era um mar vermelho. Para onde a gente olhasse, só se via camisa do Inter. Nas ruas, nos prédios, nos viadutos. Foi um corredor vermelho gigante, desde Canoas até Porto Alegre. Aquela visão para nós era incrível”, descreve Clemer.

O comboio levou quase quatro horas para percorrer os 25 quilômetros da base aérea até a avenida Padre Cacique. Os jogadores tiveram dificuldade para desembarcar e entrar no estádio, tamanha a multidão. Nos vestiários, champanhe, brindes e festa no reencontro com os funcionários. “Eles nos abraçavam como se fôssemos pais deles e nos agradeciam pelo que havíamos feito”, recorda Clemer sobre a gratidão de pessoas como o auxiliar de serviços gerais Lorival Gomes Soares, o “Seu Pernambuco”, que completou, em fevereiro de 2019 (aos 85 anos), 50 anos de dedicação ao vestiário colorado. Chegou dois meses antes da inauguração do estádio.

Passava das 17h – o que significa que os primeiros torcedores já estavam nas arquibancadas havia mais de oito horas – quando eles apareceram. Clemer puxou a fila, a taça erguida com as duas mãos, e todos os jogadores o seguiram desde o túnel até a frente da torcida Popular, atrás do gol do placar eletrônico. Era como se uma tropa de guerreiros voltasse da batalha empunhando orgulhosamente a prova da vitória, entregando-a ao povo.

“Na hora da emoção, você pensa em cada coisa. Eu pensei até em jogar a taça no meio dos torcedores para eles poderem senti-la, mas sabia que ela não voltaria mais, podia dar até morte (risos)”, revelou o ex-goleiro. “Aí eu disse aos meus companheiros: vamos lá mostrar para eles verem bem de perto e sentirem o que conquistamos juntos. Porque era um momento para desfrutar juntos, não só os jogadores, mas o torcedor precisava estar junto. A torcida foi muito importante aquele ano, colaborou demais”, afirma.

Não havia bola em campo, mas a comemoração foi maior que a de um gol. “Desde os mais jovens até os mais idosos, a gente via a alegria nos olhos, o sorriso de sonho realizado. Tinha gente que chorava, se abraçava, pulava, não sabia o que fazer. Alguns torcedores haviam esperado por aquilo a vida inteira”, relembra Clemer. “Eu não queria largar aquela taça por nada, queria dormir com ela”.

Depois da volta olímpica com o cobiçado troféu, veio mais uma cena que marcou a história cinquentenária do estádio. O capitão Fernandão pegou o microfone e comandou a torcida no maior de todos os cantos de “Vamo, vamo, Inter”. “Eu tenho tudo guardado daquele dia. Sempre que vejo alguma coisa, aquela emoção volta. Parece que foi ontem”, conta Clemer, que estava ao lado de Fernandão naquele momento. Faltava apenas um integrante do trio de líderes daquele elenco. “Não consegui subir no palanque”, conta Iarley. “Tiraram minha camiseta, meu abrigo, me depenaram, tive que ir me vestir”, relata o ex-atacante cearense, hoje funcionário das categorias de base do Inter.

O maranhense Clemer, que também fixou residência em Porto Alegre (quase em frente ao Beira-Rio), garante que a união daquele plantel não se restringia às quatro linhas. Os amigos mantêm um grupo de WhatsApp intitulado sugestivamente “Doamos Sangue em 2006”, no qual debatem a ideia de promover um jogo entre o time de 2006 e o de 2010. “O Perdigão e o Ediglê são os que mais agitam o grupo”, conta Clemer.

Outra ausência notada enquanto Fernandão incendiava o Beira-Rio foi a do ex-presidente Carvalho. Ele havia sido convidado a falar, mas não teve condições. Passou mal e precisou ser atendido no vestiário. “A pressão baixou. Era muita emoção e muitas horas sem dormir. Não deu para falar”, lembra Carvalho.

Ao final da comoção, os jogadores tiveram dificuldade para deixar o estádio. A multidão não arredava pé. “A festa era maravilhosa, mas eu estava exausto e ainda tinha que viajar para Fortaleza. Precisei correr para o aeroporto de novo”, conta Iarley. Clemer lembra: “Eu só queria abraçar minha esposa e minhas filhas e dizer: nós conseguimos”


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