Especial 50 anos do Beira-Rio: A América é vermelha e branca
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Especial 50 anos do Beira-Rio: A América é vermelha e branca

Capitaneado por Fernandão, o Inter enfim conquista a Libertadores

Fabrício Falkowski

Colorados acordaram de uma noite não dormida em 2006

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O Beira-Rio amanheceu de uma noite não dormida naquele 16 de agosto de 2006 exibindo um movimento estranho, misto de tensão e euforia. Ao redor do estádio, no pátio, em bares, no parque Marinha do Brasil, sob as marquises, em qualquer lugar, havia gente desde a noite anterior esperando o apito que faria a bola rolar, somente muitas horas mais tarde, para Inter x São Paulo, a segunda decisão de Libertadores da história do estádio vermelho. A primeira que os colorados venceriam.

Fazia frio e Porto Alegre estava sob uma bruma macia naquele dia. Garoava. Mas a torcida não deu a menor importância para as intempéries típicas do inverno gaúcho. “Foi incrível. O estádio teve movimento a noite toda e durante todo o dia também. A torcida fez churrasco para esperar a hora do jogo”, lembra Fernando Carvalho, presidente do clube à época. Ele ressalta, entretanto, que o caminho para a conquista inédita foi asfaltado no Morumbi, uma semana antes, quando o Inter venceu o São Paulo, então campeão mundial, por 2 a 1, calando 71 mil tricolores. Os dois gols colorados foram de Rafael Sobis, cuja atuação, assim como de todo o dia, ficou na memória do dirigente. “A nossa ideia inicial era sair vivo de lá para trazer a decisão para o Beira-Rio, onde a gente sabia que era muito forte. O São Paulo era o atual campeão mundial, tinha um time muito forte, que fazia grande campanha na Libertadores. Mas a gente venceu e jogou muito no Morumbi. Daí, a tarefa mais complicada foi controlar a ansiedade naquela semana", continua o ex-dirigente.

O Inter não tinha apenas o São Paulo para vencer. Rafael Sobis, Fernandão, Clemer e companhia tinham toda uma história a superar. O trauma da Libertadores de 1989, quando o clube caiu para o Olimpia na semifinal, com Abel Braga na casamata, estava vivo. O tropeço diante do Nacional, na final de 1980, também. E o Grêmio já ostentava duas taças da Libertadores no armário, o que doía fortemente na torcida. “A gente sabia da importância daquela decisão. A torcida passou a semana inteira em busca de ingressos, dormindo nas filas. Eles confiavam naquele grupo e a gente não poderia decepcioná-los. No dia do jogo, ninguém dormiu. A gente ia para a sacada do hotel (naquela época o clube usava como concentração um hotel localizado na avenida Borges de Medeiros, muito próximo do Beira-Rio) e via as pessoas indo para o estádio muito cedo. Aquilo foi uma loucura que nunca vou esquecer", lembra o ex-zagueiro e hoje técnico Bolívar.

O Inter passou também pelas dores do passado, mas não sem sofrimento. O jogo foi tenso desde o instante inicial, com chances de gol para os dois lados. O Beira-Rio ajudou muito, com a torcida cantando sem parar, sempre em pé. Aos seis minutos, o zagueiro Lugano errou um gol diante de Clemer, em um lance que gelou a espinha dos colorados. Depois, aos 29, Jorge Wagner cobrou falta e, pressionado por Fabiano Eller, Rogério Ceni falhou. Fernandão aproveitou e abriu o placar. O Beira-Rio explodiu. Nos camarotes do Beira-Rio, Fernando Carvalho, apesar do nervosismo da decisão, percebeu que era seguido por um desconhecido pelo menos desde a manhã daquele dia. "Quem é esse cara que não sai daqui? O que ele quer? Tira ele daqui!”, revoltou-se o presidente, que gostava de obedecer a um ritual rígido durante os jogos, principalmente os decisivos. “Foi então que descobri que era um médico que tinha sido contratado por minha esposa para me seguir e cuidar de mim naquele dia. Ela tinha medo que me desse um treco”, diverte-se o dirigente.

Pressão

No segundo tempo, o São Paulo de Muricy Ramalho foi para cima. E empatou com Fabão logo aos 5 minutos. A torcida continuou ajudando e, aos 20 minutos, Tinga marcou 2 a 1. O problema foi que, na emoção da comemoração, o meia levantou a camisa e, como já havia recebido um cartão amarelo, foi expulso. Assim, o Inter ficou com um jogador a menos faltando mais da metade do segundo tempo. A torcida elevou o volume da cantoria. E acendeu os sinalizadores, que encheram o Beira-Rio de fumaça. “Quando o Tinga saiu expulso, a gente se fechou. Conversamos. Não podíamos deixar o título escapar. Tínhamos que correr pelo Tinga, que tanto tinha feito pelo nosso time ao longo daquela Libertadores, e pelos torcedores, que esperaram aquele título”, lembra Bolívar, que ainda se emociona quando relembra aqueles dias.

Muricy Ramalho, técnico do São Paulo, mexeu na equipe, reforçando o ataque com Lenilson. Já que perdera no Morumbi, ele tinha que vencer no Beira-Rio de alguma forma. Abel, por sua vez, colocou o zagueiro Ediglê. A bola voava sobre a área do Inter. Fernandão já se convertera em volante, afastando como dava. “Naquela altura, o esquema não existia mais. A gente tinha que se defender”, lembra Bolívar. Lenilson empatou aos 40. Se o São Paulo fizesse mais um, a decisão iria para a prorrogação e, em seguida, para os pênaltis. “Se eles virassem para 3 a 2, provavelmente não teríamos perna para a prorrogação. A gente tinha que segurar”, diz o ex-zagueiro.

E segurou, outra vez com grande atuação de Clemer, que fez uma defesa milagrosa após cabeçada de Alex Dias aos 44 minutos do segundo tempo. O sofrimento seguiu até os 48, quando Horácio Elizondo apontou o centro do campo e sacramentou o título da Libertadores do Inter. Nas arquibancadas, milhares de torcedores choraram de alegria. A festa começou no Beira-Rio, mas espraiou-se por todo o Rio Grande do Sul, dando início a uma nova fase de grandes conquistas do clube. “Com aquele título da Libertadores, tiramos um peso enorme. Quebramos o gelo. E depois, continuamos a escrever uma grande história de títulos, culminando com o Mundial no final do mesmo ano”, lembra Carvalho.


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