Jogos Olímpicos do Rio têm rombo de R$ 132 milhões

Jogos Olímpicos do Rio têm rombo de R$ 132 milhões

Comitê organizador teve prejuízo gigantesco

Amauri Knevitz Jr.

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O ano era 2014. O evento, alusivo à contagem regressiva de dois anos para o início dos Jogos Olímpicos. Ainda sob a euforia após uma Copa do Mundo considerada relativamente bem-sucedida, autoridades perfilaram-se diante de jornalistas de várias partes do país e do mundo e garantiram: a Rio-2016 será praticamente autossustentável, com a maior parte das suas contas pagas pela iniciativa privada.

Corta para junho de 2016, 60 dias antes dos Jogos, durante o 4º Enecob (Encontro Nacional de Editores, Colunistas e Blogueiros), e o então prefeito Eduardo Paes voltou a discursar diante da imprensa, com o tema “A transformação da cidade olímpica. Em sua fala, exaltou os três pilares da olimpíada carioca: “Legado, Economia e Sem Elefante Branco”. Rebateu as críticas sobre os gastos com os Jogos e, com uma série de gráficos, demonstrou que a maior parte dos investimentos não comprometeriam os cofres públicos.

Nos dois eventos na capital fluminense, o Correio do Povo, junto com outros órgãos de imprensa, testemunhou a naturalidade e a confiança com que os organizadores tratavam a engenharia financeira dos Jogos. Nesta semana, já em maio de 2017, nove meses depois da última entrega de medalhas, em agosto passado, a informação: os Jogos deram um prejuízo de R$ 132 milhões. Este era o tamanho do déficit do comitê em dezembro de 2016, segundo as demonstrações contábeis da entidade e uma auditoria independente.

Junto com a revelação da cifra, houve uma mudança de tom. Contrariando o discurso que mantiveram por anos, os executivos responsáveis pelo evento admitiram que sempre precisaram de ajuda pública e que o rombo é culpa da prefeitura e do governo federal. Reforçados pelos discursos eloquentes de governantes (todos hoje fora dos cargos e um dos seus antecessores preso — o ex-governador Sérgio Cabral), eles sustentavam que apenas obras externas ficariam com a prefeitura, estado ou governo federal.

Hoje, a entidade não deixa dúvidas. “Espera que (o dinheiro) seja aportado pelo governo do estado e município do Rio de Janeiro”, diz o informe. O estudo explica que “subsídios” dos três níveis de governo eram “essenciais para o equilíbrio orçamentário da entidade (Comitê Rio-2016) e principalmente para garantir a inexistência de déficit, haja vista que desde a candidatura já se estimava que as receitas próprias do Rio-2016 não seriam suficientes para suportar todas as despesas necessárias para a organização dos Jogos”.

Os desencontros entre a expectativa do comitê e o retorno do poder público são muitos. Por exemplo, segundo os organizadores, acordo assinado em fevereiro de 2015 estabelecia a “obrigação de adquirir bens e serviços de infraestrutura necessários para o funcionamento do IBC, em contrapartida à transferência para a prefeitura de parte dos custos com energia temporária, em igual valor”. “Contudo, em 2016, a prefeitura não assumiu a parte do custo de energia temporária, que acabou sendo suportado em parte pela União. Assim, dado que o Comitê Rio-2016 arcou com as despesas de infraestrutura do IBC e parte da energia temporária sem nenhuma contrapartida do município, o orçamento da entidade foi onerado em cerca de R$ 200 milhões”, afirma o órgão.

Durante 2016, o governo federal ainda ficaria com os custos de energia e o governo do estado do Rio, com os serviços de água e esgoto. Por sua parte, a Prefeitura do Rio arcaria com a limpeza, construções de algumas estruturas temporárias, fornecimento de combustível para geradores, mobiliário e computadores. Mas nem isso foi suficiente para fechar as contas.

Jogos Paralímpicos correram risco

O primeiro semestre do ano olímpico é tido como crucial para o naufrágio financeiro. “Diversos fatores externos começaram a impactar diretamente na venda de ingressos, acomodações, hospitalidade, patrocínios, entre outras fontes de receitas do comitê”, apontam os documentos. Os principais teriam sido a crise econômica do país, instabilidade política e surto de zika. Ademais, afirmam que havia uma baixa procura de ingressos paralímpicos e patrocínios.

O resultado foi a decisão dos organizadores de “reduzir as atividades dos Paralímpicos de maneira significativa”. Essa medida foi comunicada aos governos, assim como a previsão de déficit e necessidades de recursos. De acordo com o balanço, o presidente Michel Temer se recusou a reduzir a dimensão do evento e, em um comunicado interno de 15 de julho de 2016, o governo se comprometeu com R$ 250 milhões para os Jogos. Os recursos seriam divididos entre os diferentes níveis de administração.

Segundo o informe, porém, a promessa não foi cumprida. Dos R$ 150 milhões que viriam da prefeitura, foram enviados apenas R$ 30 milhões. Uma parcela do que viria do governo federal em forma de patrocínio também não foi desembolsado e, no total, os entes públicos teriam uma dívida que chegaria a mais de R$ 170 milhões. “Dado que os compromissos da prefeitura e da União não foram totalmente executados, no ano de 2016, a entidade apresentou déficit acumulado de R$ 132 milhões que, segundo o Rio-2016, deverá ser resolvido assim que a prefeitura e o governo federal honrem com os compromissos assumidos”, alerta o balanço, lembrando que esses compromissos também foram assumidos com o COI.

Salários e gastos altos

Se o evento terminou no vermelho, o mesmo não se pode deduzir das contas dos envolvidos. Os dados revelam que os oito diretores-executivos do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos tiveram sucessivos aumentos de pagamentos, que totalizam R$ 33,2 milhões entre 2011 e 2016. Os valores incluem salários e outros gastos. Apesar da “transparência”, os valores não incluem pagamentos eventuais ao presidente do Rio-2016, Carlos Arthur Nuzman. Oficialmente, ele insiste que não recebeu nada.

À medida que o evento se aproximava, o valor do pagamento aumentava. Em 2011, foram R$ 2,7 milhões pagos aos oito executivos. No ano seguinte, passou para R$ 3,1 milhões. Em 2013, já era de R$ 5 milhões, contra R$ 7,3 milhões em 2014 e R$ 8,3 milhões em 2015. Os valores de 2016 chegaram a R$ 6,4 milhões.

Em gastos de viagens, o Rio-2016 ainda destinou R$ 24 milhões por ano, entre 2014 e 2015. Os dados também fazem parte dos balanços financeiros. Em 2016, esse gasto foi de mais R$ 22 milhões. O Rio-2016 ainda gastou R$ 7,7 milhões com honorários de advogados e R$ 2,9 milhões com serviços de lavanderia.

E o legado?


Há uma crescente preocupação com o chamado “legado” olímpico, que foi a maior bandeira para defender a realização dos Jogos no Brasil. A maioria das instalações segue fechada, algumas em mau estado de conservação e outras se tornando objeto de disputa por diferentes entidades esportivas e governamentais.

Enquanto isso, investigações da Operação Lava Jato respingaram nos Jogos Olímpicos. Uma delação da Odebrecht cita o ex-prefeito Eduardo Paes e o deputado federal Pedro Paulo (ambos do PMDB) como recebedores de propinas da construtora em contratos de obra relativas aos Jogos Olímpicos. Nesta semana, o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), pediu a redistribuição do inquérito para outro magistrado, o que pode tirar ambos da mira da Lava-Jato.

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