"Nós precisamos voltar a ganhar", afirma Barcellos

"Nós precisamos voltar a ganhar", afirma Barcellos

Presidente do Inter concedeu entrevista exclusiva ao Correio do Povo

Fabrício Falkowski

Presidente do Inter completa neste domingo mil dias no comando do clube

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Neste domingo, dia 1º de outubro, Alessandro Barcellos completa 1000 dias na presidência do Inter. Durante este tempo, não conseguiu o mais importante, que são os títulos, mas liderou o clube no caminhou na direção da profissionalização, livrou o clube dos resquícios da pandemia e conseguiu montar um time competitivo, que pode estar prestes a levantar a taça da Libertadores. A seguir, ele faz um balanço de sua gestão.

Como foram esses mil dias com o presidente do Inter?

É um marco importante. No futebol, a gente buscou remodelar. Iniciamos 2021 disputando um Campeonato Brasileiro na sua reta final, em um trabalho que veio de 2020. Ali, não teve nenhuma condição de fazer uma transição adequada, porque o calendário termina no final de fevereiro e já se inicia um novo. Além disso, em 2021 a pandemia ainda tinha força. Portanto, um ano bastante difícil, do qual a gente não atingiu os resultados. Vem 2022, nós iniciamos um novo trabalho, aí já com o (Cacique) Medina. Acreditamos que seria possível buscar os resultados. Mas sai o Medina, vem o Mano, e ficamos em segundo no Brasileirão. Ou seja, no primeiro ano, nós disputamos um título e, no segundo, chegamos em segundo lugar, com a maior pontuação do Inter há história dos pontos corridos. Daí, acreditamos que, com uma base de equipe montada, íamos dar um salto em 2023. Mas não conseguimos. Tivemos que revisitar o planejamento em termos de comissão técnica, em termos de departamento de futebol, e fizemos mudanças. Também teve a chegada de atletas que já estavam sendo trabalhados desde 2022 e que, por razões financeiras, não vieram antes. Mas eles desembarcaram no meio do ano, o que nos traz hoje uma condição de estar entre as quatro melhores equipes da América.

Durante a campanha, o senhor fez algumas promessas audaciosas (melhor aproveitamento da base, 200 mil associados, o clube mais digital do Brasil, etc), que acabaram não se concretizando. Ser presidente é mais difícil do que candidato?

Eu acho que as duas coisas são difíceis, principalmente se você se propõe a assumir compromissos. As eleições do Inter não tinham compromissos. E são eles que, na verdade, fazem as pessoas se organizarem em torno de uma ideia. Eu até posso explicar cada uma dessas promessas. No futebol, por exemplo... Prometemos ser um dos três protagonistas e fomos vice-campeão brasileiro em 2021 (na verdade, foi no Brasileirão de 2020, que terminou em 2021), vice-campeão brasileiro em 2022, e estamos entre os quatro melhores clubes da América. Isto demonstra que boa parte desta ideia foi construída. Não foi suficiente para nos dar aquilo que a gente mais quer, que são os títulos. E isso a gente continua perseguindo e acho que estamos no caminho.

O que mais falta é um título?

Sim. O clube está sem ganhar uma competição maior desde 2011. O último foi a Recopa Sul-Americana. E, no Gauchão, estamos há sete anos sem ganhar. Então, independentemente da gestão, é fundamental isso (voltar a vencer). Nós precisamos voltar a ganhar.

"Estamos há sete anos sem ganhar. Então, independentemente da gestão, é fundamental voltar a vencer"

Há uma série de projetos que a gestão se propôs fazer, mas eles acabaram encalhando. Por exemplo, a reforma do Gigantinho, que há seis anos não do papel. O CT de Guaíba é outro exemplo. Quando é que essas coisas vão começar a se transformar em realidade?

Quando tiver dinheiro. O clube não tem dinheiro. O Inter deve mais de R$ 600 bilhões. Um clube que deve 600 bilhões, se ele não pagar a dívida e não cuidar do seu ativo, que é o futebol, ele não pode pensar em outras coisas. E nós estamos enfrentando isso. Agora, na situação que a gente se encontra hoje, com dois superávits seguidos, com um equilíbrio financeiro nas receitas e despesas recorrentes, enfrentando o endividamento, a perspectiva de investimento fica muito melhor em todas essas áreas.

O Inter fechou com a Liga Forte Futebol mas não pegou a receita de antecipação (R$ 44 milhões). Por qual motivo?

O Inter não recebeu o adiantamento porque trabalhou para que não precisasse. Tem uma taxa de juros. Já formalizamos todas as documentações e, provavelmente até o final do mês de outubro, vamos ter o valor integral da primeira parcela.

Que é de R$ 109 milhões....

Em torno disso. E esse dinheiro vai ser usado para pagamento de dívidas. Ou seja, tudo aquilo que temos para trás, vamos buscar com deságio, com negociação. Vamos eliminar parte da dívida.

Ou seja, o credor que o Inter está devendo 10 chama para negociar e tenta pagar 8 ou 7?

Eu não vou te afirmar isso. Se fizer isso, os credores vão bater na nossa porta amanhã. Mas temos um plano e vamos chamar para conversar e buscar reduzir o valor. Não só nesta parcela, como na parcela do ano que vem. Fizemos um estudo. O dinheiro da Liga é R$ 200 milhões (R$ 214 milhões, na verdade) e o nosso endividamento é de mais de R$ 600 milhões. Vamos conseguir enfrentar esse endividamento e, não tenho dúvida, e, até o final de 2024, teremos uma redução muito grande no endividamento. Esse é o nosso objetivo.

Presidente observa a dificuldade de montar um time competitivo sem prejudicar as finanças do clube / Crédito: Ricardo Giusti

A dívida atual do Inter é de cerca de R$ 650 milhões. Como é a composição desse número?

A grosso modo, em torno de R$ 200 milhões a R$ 250 milhões são dívidas fiscais. O resto é para bancos e para todo o tipo de fornecedores. Ou seja, outros clubes, empresários, etc. Temos que enfrentar isso, negociar e pagar.

'Quando você ganha campeonatos, você estimula um círculo virtuoso'

Qual é o valor que o título da Libertadores pode ter para o Inter nesse momento que, como o senhor falou, é de jejum de conquistas?

Isso (jejum) vem nos perseguindo há bastante tempo e a gente tem batido muito na trave. Agora, é a hora de confirmar. Sabemos que é muito difícil e que estamos enfrentando adversários fortíssimos, mas a gente está chegando perto. O resultado dentro de campo traz uma nova condição para o clube, para a torcida, para a relação do torcedor com o clube. E traz também, um retorno financeiro importante, porque isso desencadeia outras receitas importantes. O clube ganha a premiação do campeonato, a valorização do seu ativo (jogadores) para negociações, a atração de novos jogadores para virem para cá, de fora do Brasil inclusive. Tudo isso é importante e movimenta a economia do clube. Movimenta a parte de marketing, a busca de patrocínios mais valorizados, a questão do material esportivo na venda, de contratos melhores para frente. Quando você ganha campeonatos, você estimula um círculo virtuoso. E isso nós precisamos viver.

Mas parece que o Inter, finalmente, está perto....

Na Libertadores, há número importante de equipes e uma só vai ganhar. Então, temos que trabalhar perseguindo isso, mesmo sabendo que há um limitador financeiro. Esse é um dilema que gente convive. Todos os dias, quando a gente vai tomar alguma decisão, seja para pagar 10, 20, 50 mil reais, seja para pagar milhões, sempre nos baseamos no dilema de precisar estar competitivo, precisar ganhar campeonato, mas sem esquecer que o clube continua.

É o capeta e o santinho. O capeta dizendo para contratar e gastar e o santinho dizendo: ‘segura!’?

Todo dia. Essas figuras existem fisicamente, inclusive (risos). Eu não vou dar nomes, mas elas existem.

'Pode não dar certo, mas a gente tem convicção que esse é o melhor trabalho'

O que lhe faz acreditar que agora o jejum acabará?

O mesmo motivo que faz a gente, às vezes, desacreditar e mudar. É o trabalho. A gente está aqui todos os dias. Eu, particularmente, venho quase todos os dias, aqui no CT. A gente acompanha de perto tudo o que acontece. Internamente, dentro do campo. Você percebe que as coisas estão encaixadas. Hoje, vivemos um momento de muita confiança no trabalho, no ambiente, na forma como as coisas estão se desenhando. Pode não dar certo, mas a gente tem convicção que esse é o melhor trabalho.

Mas essa ‘liga’ que o senhor refere não está aparecendo no Campeonato Brasileiro. O senhor acreditar que o Inter sair dessa posição ruim?

Enfrentamos um calendário com duas ou três competições. Estamos com dificuldades na tabela do Brasileiro. Mas há outros clubes assim, como o São Paulo e o Corinthians. Mas eu tenho muita confiança que o trabalho que está sendo feito aqui nos colocará em um outro momento dentro deste mesmo Campeonato Brasileiro. Mas não vamos ser hipócritas porque há uma diferença brutal de receita e folha de pagamento para dois ou três clubes do Brasil. Fora esses dois ou três, os demais enfrentarão esse dilema em determinado momento e terão que tomar algumas decisões de priorizar uma competição em detrimento da outra.

Para finalizar, presidente, quem é que vai dar continuidade a esse trabalho, é o senhor mesmo? Há uma eleição no final do ano....

Eu tenho evitado e vou evitar falar em eleições, porque acho que o foco, agora, é a Libertadores. O clube vive um outro momento e vai avaliar qual é o projeto melhor. E a gente vai, óbvio, discutir isso com mais gente, mas num momento adequado.

Mas, seja quem for, encontrará um clube melhor do que o que o senhor encontrou?

Eu tenho convicção que o próximo presidente, em termos financeiros, em termos esportivos, em termos administrativos, contratos de marketing, tudo, vai estar melhor do que estava em 2021. E aí, faço essa ressalva, não estou aqui de maneira alguma responsabilizando politicamente ou administrativamente a gestão anterior, da qual eu fiz parte. Foram várias circunstâncias, principalmente a pandemia, que fizeram com que também tivesse dificuldades. Então, mérito nosso de ter conseguido melhorar isso e entregar o clube melhor. Não tenho a pretensão de ser melhor ou pior do que alguém, mas quero poder sair daqui com a consciência tranquila tudo foi feito para melhorar.


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