Pequim 2022 começa em clima diplomático pesado
Competição passou por momento de tensões com a Covid-19 e boicotes diplomáticos
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Após semanas de dúvidas sobre a Covid-19 e as tensões políticas que surgiram após a iniciativa de boicote diplomático de alguns países, com os Estados Unidos na liderança, o presidente chinês Xi Jinping declarou nesta sexta-feira abertas as Olimpíadas de Inverno, após uma colorida cerimônia de abertura, idealizada pelo cineasta Zhang Yimou.
"Declaro abertos os 24º Jogos Olímpicos de Inverno", disse Xi Jinping, seguindo o protocolo.
A inclusão de Yimou novamente na cerimônia de abertura foi um aceno da China para lembrar que Pequim entra para a história como a primeira cidade a sediar os Jogos de Verão e de Inverno.
Come on in Brazil! #OpeningCeremony
— Olympics (@Olympics) February 4, 2022
Brazil hasn't missed an Olympic Winter Games since 1992 and they ain't starting now! #Beijing2022
Jaqueline Mourao and Edson Luques Bindilatti lead the way flying the flag. #StrongerTogether | @timebrasil pic.twitter.com/SjMO88uO60
Como nos Jogos de Verão de 2008, o gigantesco Estádio Nacional de Pequim, mais conhecido pelo apelido "Ninho do Pássaro", recebeu o brilho da cerimônia de abertura.
Assim como há 14 anos, o espetáculo foi concebido pelo diretor chinês Zhang Yimou, autor em 2008 de uma esplêndida e colorida celebração patriótica, pondo em cena 14.000 figurantes, bailarinos e acrobatas, sob uma profusão de fogos de artifício e efeitos especiais.
Desta vez, em razão da situação sanitária, a cerimônia reuniu 3.000 artistas, todos com máscara.
Zhang Yimou apresentou os 56 grupos étnicos e a sociedade chinesa na chegada marcial da bandeira chinesa, carregada por oito soldados.
Depois, as 92 nações participantes do evento desfilaram, incluindo nove países da América Latina e um total de 33 atletas da região. A América Latina nunca conquistou uma medalha em Jogos de Inverno e fazê-lo em Pequim-2022 parece improvável.
Após o desfile de quase 3.000 atletas, o presidente do Comitê Olímpico Internacional, o alemão Thomas Bach, enviou uma mensagem de harmonia no tenso ambiente diplomático que existe no momento.
"No nosso mundo frágil, onde as divisões, os conflitos e as desconfianças aumentam, mostramos ao mundo que sim, é possível ser rivais orgulhosos e ao mesmo tempo viver pacificamente e respeitosamente juntos", disse o dirigente esportivo.
Segunda Olimpíada da era Covid-19
Por causa da pandemia, estas Olimpíadas, as segundas da era da covid, depois dos Jogos de Tóquio no ano passado, dificilmente serão uma festa.
Foto: Jewel SAMAD / AFP
Os atletas estão confinados em uma bolha sanitária e são submetidos a exames PCR diariamente. Como Pequim adota uma estratégia de covid zero, nenhum contato com a população é autorizado. As arquibancadas dos locais de competição serão ocupadas parcialmente, mas apenas por convidados, que terão que respeitar o distanciamento social.
Entre os espectadores da cerimônia de abertura, boicotada por vários países ocidentais, a começar pelos Estados Unidos, para denunciar as violações dos direitos humanos na China, estiveram presentes quase 20 líderes mundiais, incluindo o secretário-geral da ONU, António Guterres, o presidente russo, Vladimir Putin, assim como o argentino Alberto Fernández e o equatoriano Guillermo Lasso.
Em uma reunião bilateral com Xi antes da cerimônia de abertura, Putin celebrou as relações "sem precedentes" que seu país tem com a China e criticou o Ocidente.
Putin e a Rússia estão no centro das atenções internacionais. O Kremlin é acusado pelo Ocidente de querer invadir a Ucrânia, após ter enviado há semanas cerca de 100.000 militares russos para a fronteira com o vizinho pró-ocidental.
No momento de tensão, o governo ucraniano pediu a seus representantes em Pequim que não confraternizem com os russos, em uma edição dos Jogos que devem ser marcadas por polêmicas.
Manifestações
A milhares de quilômetros de Pequim, em Lausanne, a Suíça, 500 tibetanos se manifestaram nesta quinta-feira em frente à sede do Comitê Olímpico Internacional (COI) para denunciar os "Jogos da Vergonha", as ações de Pequim na região do Himalaia e sua repressão religiosa e cultural.
Em Hong Kong, um ativista pró-democracia foi detido pela acusação de "incitar a subversão", pouco antes de um protesto contra os Jogos Olímpicos de Pequim.
Em Los Angeles, quase 50 manifestantes se reuniram em frente ao consulado chinês. Em todo o mundo, convocações para manifestações foram feitas para denunciar também as violações aos direitos humanos em Xinjiang (noroeste) contra os uigures, mas até o momento os protestos foram pequenos.
Outra polêmica é a do impacto ambiental destes Jogos, disputados em um clima glacial, mas semiárido, em pistas com neve artificial e estações de esqui acondicionadas para a ocasião.
"Hoje podemos dizer que a China é um país de esportes de inverno", afirmou na quinta-feira o presidente do COI, Thomas Bach.
Enquanto isso, os quase 2.900 atletas que vão disputar as competições, representando 92 países, em busca de 109 medalhas de ouro, tentam se manter à margem das polêmicas, concentrando-se em que os Jogos são um momento único em suas carreiras.
A maioria se concentra no esporte, mas há alguns que criticam o fato de competir na China, como o britânico Gus Kenworthy, vice-campeão olímpico em 2014 no esqui slopestyle.
"Na minha opinião, não acho que nenhum país deveria ser autorizado a receber os Jogos se tem posições terríveis de direitos humanos", declarou à BBC.
Foto: Jewel SAMAD / AFP