Peregrino da bola: vascaíno mergulha de carona no futebol do Brasil e assiste a 45 jogos

Peregrino da bola: vascaíno mergulha de carona no futebol do Brasil e assiste a 45 jogos

Em sete meses de andanças, o torcedor brasiliense Rodrigo Coelho visitou mais de 50 estádios

Matheus Chaparini

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O que define um fã de futebol? Não um torcedor de clube, mas um obstinado por conhecer todos os cantos do esporte da pelota pelo Brasil. Do Castelão ao estádio Gentil Valério, do Ariquemes de Rondônia. Do Beira-Rio ao Alberto Carlos Schwingel, em Igrejinha, no interior gaúcho. Não importa se o jogo é de série A ou de série D para Rodrigo Coelho. Na verdade, muitas vezes, não importa nem se o jogo é profissional. Pode ser uma partida sub-20 no Pará, por exemplo.

Aos 42 anos, ele conheceu as arquibancadas mais famosas do país - e também muitas que quase ninguém conhece. Em um mergulho profundo pelo maior futebol do mundo, ele já visitou mais de 50 estádios e ainda tem chão - e arquibancadas - para percorrer.

“Por conta de me intitular peregrino - já fiz o caminho de Santiago de Compostela mais de uma vez - eu quis juntar minha paixão por viajar e peregrinar com o futebol. E eu estava fazendo as pazes com o esporte. Fui jogador profissional até os 22 anos e quando deixei a carreira, ficou uma rusga na relação, um certo ranço”, conta o ex-jogador do Guará, clube de Brasília que revelou o zagueiro Lúcio, ex-Inter e Seleção Brasileira. “O que eu queria era esse contato maior com o torcedor, com o brasileiro. O futebol é a minha ponte para o mundo.”

O planejamento geralmente mira a próxima rodada. É preciso chegar na próxima cidade a tempo do jogo.  Brasiliense e torcedor do Vasco, ele saiu de casa no fim de abril com um objetivo: ser o primeiro brasileiro a percorrer os 26 estados, mais o Distrito Federal, em uma mesma edição do Campeonato Brasileiro.

Até o momento, foram 45 jogos, sendo 39 do Brasileirão, nas séries A, B, C e D, além de finais da Copa Sul-Americana, no Uruguai, e de competições Sub-20 no Pará e no Paraná. Rodou 52 mil quilômetros rodados e adquiriu mais de 30 camisetas de clubes.

Foto: Mauro Schaefer

Na última quarta-feira, Rodrigo chegou a Porto Alegre duas horas antes do jogo entre Inter e Fluminense. No Rio Grande do Sul desde o fim de outubro, ele conheceu cinco estádios. A parte gaúcha do roteiro começou no fim de outubro, quando assistiu a Grêmio e Flamengo, na Arena. Dali, um pulo no Uruguai, e um giro pelo futebol do interior gaúcho. Em Caxias do Sul, conheceu o Alfredo Jaconi e o Centenário.

Em Igrejinha, no Vale do Paranhana, viu o time da casa - Esporte Clube Igrejinha - aplicar 4 a 0 no São Borja, pela série B do gauchão, junto à Barra Fúria Tricolor, torcida do Igrejinha. “Minha arena com alambrado, amizade e contestação”, resumiu.

Mesmo com a vitória, o bandeirinha teve de ouvir. Mas quem frequenta arquibancada, e principalmente estádios modernos em que a torcida fica longe do gramado, sabe: não tem como resistir a um alambrado.

Mochila, barraca e dedão

O método de viagem é no estilo “maluco de BR”. Uma mochila nas costas, um polegar para pedir carona e uma barraca de acampamento como lar. No trecho, Rodrigo dorme onde dá. Em um canto de um posto de combustíveis, na praia ou em um espaço camuflado de alguma praça pública, ele monta seu iglu e descansa. Em algumas cidades, ficou em hostel. 

Na Arena, fez amizade com frentistas de um posto próximo. No Beira-Rio, achou um espaço protegido entre o estádio e o Parque Marinha.

Os trajetos foram feitos quase todos de carona: de carro, caminhão, moto e até de barco. Nada de avião. Em uma dessas caronas, de moto, em Caruaru, no agreste de Pernambuco, houve um pequeno acidente. A bolsa com a barraca e algumas camisetas encostou no escapamento quente da motocicleta. A primeira barraca e algumas camisetas se perderam ali.

Um facilitador é um grupo de whatsapp que reúne pessoas de todo o Brasil que viajam em função do futebol. Dali saíram algumas amizades, pousos e ingressos. Mas boa parte dos acessos aos estádios se deu no acaso, chegando, conhecendo gente, trocando ideia. “No Beira-Rio, por exemplo, eu cheguei e fui ao mercado comprar uma cerveja. Vi um pessoal de camiseta do Inter e puxei assunto. A amiga de um cara tinha desistido de ir ao jogo e ele me deu o ingresso”, conta. “Acho que comprei só três ingressos até agora.”

Coelho conta que, para fazer a viagem, juntou cerca de 20 mil reais, um cálculo de 3 mil reais por mês. É claro que, ao longo do caminho, a grana acabou. “Quer viver um sonho, ser doidão? É assim mesmo”, brinca. Aí foi preciso rifar algumas camisetas.

Ele conta que não passou por nenhuma situação de perigo ou violência ao longo da caminhada. O maior susto foi em Brusque, Santa Catarina. “Acordei com os caras demolindo o estádio”, lembra.  Acontece que o estádio Augusto Bauer, casa do Clube Atlético Carlos Renaux, o “vovô do futebol catarinense” está passando por uma reformulação.

Um desvio no percurso: final da Sul Americana

O foco de Rodrigo é o futebol brasileiro. Mas quando a gente bota o pé na estrada com uma mochila e alguns sonhos, coisas inesperadas acontecem. E foi numa dessas surpresas que o nosso aventureiro da bola fez um pequeno desvio de rota e foi parar em Punta del Este, na final da Copa Sul Americana.

Coelho recorda que estava na praia de Iracema, no Ceará, quando conheceu um senhor. Papo vai, papo vem, e esse senhor conta que é diretor do Fortaleza. “O time ainda não tinha jogado as semi-finais. Ele falou que se o Fortaleza chegasse na final, ele me dava um ingresso.” 

O Fortaleza foi vice-campeão, ao perder nos pênaltis para a LDU. E Rodrigo estava lá.

Roteiro encerra em São Januário

Após conhecer o Beira-Rio, Rodrigo se despede de Porto Alegre nos próximos dias. A data exata vai depender da generosidade dos gremistas. “Se eu conseguir ingresso para o jogo do Grêmio, vou para Cachoeirinha assistir a Série C no sábado, e volto para a Arena no domingo. Se não, vou para Santa Catarina.”

No dia 18, ele deve estar em Criciúma, para o jogo contra o Botafogo-SP, pela série B. Na sequência, passa por Chapecó, Curitiba e São Paulo.

A viagem encerra no dia 6 de dezembro, no Rio de Janeiro. O Vasco, time do coração de Rodrigo, enfrenta o Bragantino no São Januário. “Meu caldeirão”. De lá, ele retorna a Brasília, onde mora. Mas esta não foi a primeira aventura. Rodrigo já morou na França, África do Sul, no interior de São Paulo, onde se formou gestor de alimentos e bebidas, entre outros lugares. Trabalhou em competições como a Copa das Confederações, em 2013, e as Olimpíadas do Rio, em 2016.

Tampouco é o último trajeto do peregrino da bola. Aos 42 anos, ele acha que está quase na hora de parar. Veja bem: quase.

“Têm surgido alguns projetos, mas aí são coisas mais profissionais. Tem uma casa de apostas querendo patrocinar uma viagem minha pela América, produzindo conteúdo. Mas minha grande vontade é fazer a maior pesquisa de campo de popularidade dos clubes.”

As aventuras de Rodrigo Coelho podem ser conferidas em seu perfil do Instagram: @caderorodrigoo.


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