Primeira jogadora de vôlei transexual do Brasil traz novo debate para as quadras
Presença de Tifanny atrai questões de gênero e de igualdade de disputa na competição
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Apesar das críticas tanto de adversárias como de ex-jogadoras, a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) não arreda pé da decisão que permite a participação de atletas transexuais e nessa semana divulgou um novo comunicado descartando qualquer mudança no regulamento. De acordo com a entidade, que tem o respaldo do Comitê Olímpico Internacional (COI), não existe qualquer possibilidade de alterações nas regras, assim como, pelo menos de forma oficial, nenhum clube se manifestou pedindo a exclusão da jogadora.
A partir de 2016, o COI anunciou que atletas transgêneros poderiam competir nos Jogos do Rio-2016 sem a necessidade de realizar cirurgia de troca de sexo. A decisão foi tomada baseada nas orientações contidas no Encontro de Consenso sobre Mudança de Sexo e Hiperandrogenismo. Ainda que não exista necessidade de cirurgia, um tratamento hormonal segue sendo obrigatório. No caso das competições femininas, também é exigido que seja comprovado que a atleta não tenha níveis de testosterona maiores do que 10nmol nos 12 meses anteriores.
Entre as adversárias, contudo, as críticas permanecem. Campeã olímpica em 2012, Tandara se mostra contra a presença da adversária na competição. “É um assunto delicado. Muitas atletas se posicionaram e receberam críticas. Eu estava me resguardando, esperando esse jogo, porque sabia que seria questionada. Por isso, estudei, conversei com especialistas, como nosso fisiologista, preparador físico, fisioterapeuta, entre outros, e hoje posso dizer que não concordo com a participação da Tifanny na Superliga Feminina”, afirma a atleta do Vôlei Nestlé. Ao lado de Tifanny, ela é a detendora do recorde de maior número de pontos anotados em uma partida na competição nacional: 39.
Disposta a evitar mais polêmicas, Tifanny não tem dado mais entrevistas que digam respeito a qualquer questão que não seja relacionada aos jogos em si. A assessoria de imprensa do Vôlei Bauru reitera que a utilização dela na competição está dentro das regras. “Tifanny atende e segue rigorosamente toda a legislação internacional envolvendo a participação de atletas transgêneros em competições oficiais estipulada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) e seguida pela Federação Internacional de Voleibol (FIVB) e demais federações internacionais de voleibol. Portanto, ela está apta a participar de qualquer competição em qualquer país do mundo”, afirma, via assessoria.
Por si só, a discussão em torno da participação da atleta tem contribuído para um debate sobre gênero que surge como novo no âmbito esportivo. “O caso é importante não só para a comunidade LGBTI, mas para toda a sociedade brasileira. Para a LGBTI, atende aos direitos à cidadania, à inclusão. E para a sociedade como um todo, esse caso nos obriga a mexer nas nossas certezas preenchidas por preconceitos historicamente construídos. Dizer que ela é mulher é tão errado como dizer que é um homem. Vai exigir não só da sociedade mas da gestão dos esportes, introduzir uma nova forma de pensar a questão de gênero”, afirma José Márcio Barros, coordenador da ONG Observatório da Diversidade Cultural.