Santa Cruz vive drama na 3ª divisão do Gauchão
Clube lamenta a falta de apoio às equipes do Interior
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Enquanto o arquirrival Avenida fez a melhor campanha da sua história no Gauchão deste ano, com a disputa até as semifinais, o Santa Cruz amargou insucessos em campo desde a abertura de temporada. O atual presidente do Conselho Deliberativo, Paulo Roberto Jucá, cita um exemplo do retrato do clube este ano. “Teve um jogo no Estádio dos Plátanos com dez quero-queros em campo, número maior que de torcedores nas arquibancadas”, afirma. Jucá destaca que não bastam apenas recursos financeiros, mas organização da gestão. “Os dirigentes fazem um trabalho praticamente filantrópico e quem lidera o processo depois de certo tempo se esgota diante do sacrifício pessoal”, ressalta, acrescentando que todos têm as suas profissões.
Jucá observa que não há renovação entre os dirigentes, pois os jovens no Interior não têm grande atração pelos clubes locais, problema que não afeta apenas Santa Cruz do Sul. “A tragédia foi cair para a Segundona, pois aí os dirigentes ficaram sozinhos, sem apoio”, afirma. “Com o dinheiro da Federação ainda dava para fazer um time razoável para a disputa da Série A1, mas sem este apoio fica muito difícil”, revela. Acrescenta que os conselheiros basicamente subsidiam o clube, mas o número nunca chegou aos 100, com 77 este ano.
Apesar das dificuldades, Jucá se mantém otimista em relação ao futuro do clube. “Depois desta grande frustração pode surgir a oportunidade de o clube se reerguer. Geralmente as pessoas se sensibilizam mais em situações críticas”, afirma. O Santa Cruz disputou o Campeonato Gaúcho entre os anos de 1983 e 1994 e depois de 1997 a 2013. A melhor colocação nas últimas quatro décadas foi o 6º lugar em 2001 e o time chegou a disputar o Módulo Azul do Campeonato Brasileiro em 1988. Entre os atletas mais conhecidos que passaram pelo clube estão o goleiro Eduardo Heuser (ex-Grêmio), Cuca (atualmente técnico e que jogou pelo Grêmio, Inter, Palmeiras e Santos), os ex-jogadores da seleção paraguaia Sanabria e Sotelo, Nildo (campeão da Copa Brasil pelo Grêmio), e Roberto Pelz Fagundes, o Betinho, que saiu do Galo santa-cruzense e foi jogar no Inter na década de 90.
O atual presidente do Santa Cruz, Sérgio Pilz, afirma que depois do descenso em 2013 houve desânimo geral no clube e ficou até difícil conseguir alguém para assumir a presidência. A tentativa de reconstrução com o presidente mais jovem do clube, Tiago Rech, quando tinhaapenas 27 anos, entre 2014 e 2015, esbarrou na falta de apoio e em 2015 o clube esteve próximo de fechar o departamento profissional. Mesmo assim, Pilz afirma que nos últimos anos reestruturou a divisão de base do clube e de veteranos, bem como criou o departamento de futebol feminino. Ele acredita que a base do clube é o caminho para seguir com o futebol e está cada vez mais forte, com alguns atletas que já despontam pela qualidade. “A razão de ser do clube é o futebol e para ficar vivo tem que ter futebol”, acrescenta Paulo Jucá, destacando que a base para a Terceirona em 2019 deve ser com os jogadores que hoje estão nas divisões inferiores do clube.
Pilz ressalta que a situação do Santa Cruz é o reflexo da falta de apoio ao futebol no Interior. “Não tem como atrair público ao estádio em jogos às 16h de sábado ou domingo com futebol na TV. As pessoas não vão pagar pelo ingresso R$ 10 ou R$ 15 tendo muitas outras opções de lazer com a família e amigos”, explica. Acrescenta que enquanto a dupla Gre-Nal tem quase 12 mil sócios em Santa Cruz do Sul que pagam R$ 50 mensais, o Santa Cruz conseguiu apenas 52 com mensalidade de R$ 15. “Nos anos como presidente não consegui descobrir uma fórmula de tornar o clube viável sem o apoio dos torcedores. Tudo gira em cima da falta de recursos e os dirigentes cansam de colocar no clube dinheiro do próprio bolso para contornar os problemas diários”, diz. “Eu sou mais um dirigente que depois de entregar o cargo de presidente em junho vai se afastar do futebol”, adianta.
Pilz afirma que este ano havia a expectativa de melhor desempenho em campo com a contratação de uma comissão técnica experiente, liderada pelo técnico Hélio Vieira, e de um plantel com atletas com experiência. O trabalho começou no mês de dezembro, mas, além de alguns jogadores não corresponderem em campo, ao longo da disputa a equipe enfrentou problemas com lesões e com o preparo físico deficiente, com o time perdendo jogos com gols nos últimos minutos. “Olhando agora, vimos que se errou e chegou um momento em que perdemos a convicção de aonde poderíamos chegar”, salienta. Na atual temporada, o investimento mensal foi de R$ 66 mil, superior ao ano passado, de R$ 40 mil, e de 2016, quando atingiu R$ 30 mil. Mas o presidente afirma que a situação financeira do clube é bem melhor do que de muitos outros no Interior. O maior valor das dívidas gira em torno de R$ 200 mil que o clube deve ao INSS. Já o patrimônio está calculado em R$ 15 milhões.
Além dos recursos necessários para a manutenção do futebol, o Estádio do Plátanos precisa de investimentos em melhorias da estrutura. “Este ano cumprimos com todas as exigências de segurança para disputar a Segundona, mas as arquibancadas atrás da goleira dos fundos do estádio estão condenadas e as demais precisam de melhorias”, explica o presidente do CD, Paulo Jucá. O clube possui um centro de treinamentos de 2,5 hectares na localidade de Rio Pardinho, com dois campos. Apesar de servir para a preparação das equipes de base, o local também carece de infraestrutura. Uma das fontes de recursos no futuro será o posto de combustíveis ao lado do estádio. Jucá explica que o contrato de comodato por 20 anos com a Petrobras se encerra em 2020. Com isto existe a expectativa de obtenção de uma receita fixa considerável com o aluguel do local nos próximos anos.