Trabalhadores dos estádios passam por dificuldades sem futebol em Porto Alegre

Trabalhadores dos estádios passam por dificuldades sem futebol em Porto Alegre

Mais de 1 mil profissionais, a maioria informais, dependem dos jogos na Arena e no Beira-Rio para conseguirem seu sustento

Fabrício Falkowski

Uma legião de trabalhadores que dependem da bola rolando nos estádios

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Seguranças, higienistas, bombeiros civis, vendedores ambulantes e muitos outros tipos de profissionais integram a parte “pobre” da indústria do futebol. Estima-se que mais de 1 mil pessoas trabalhem no Beira-Rio e na Arena em dia de jogo comum. O número pode aumentar muito se a partida for decisiva.

Porém, todos eles ganham por tarefa ou dependem das próprias vendas para levar o sustento para casa. Ou seja, se não há futebol, não há público. Sem público, não há dinheiro. E se não há dinheiro, a própria sobrevivência e das famílias fica ameaçada.

Trata-se uma legião de trabalhadores que dependem da bola rolando, mas estão longe dos holofotes. Não aparecem na TV ou nas páginas de jornais e não têm altos salários. “Neste momento, não tenho nenhuma renda. Dependo da ajuda da família e não sei quando vou voltar a trabalhar. Pelo que tenho acompanhado, o futebol volta sem público", lamenta a bombeira civil Cristielen Teixeira, de 27 anos, que contava com o dinheiro que ganhava nos estádios para sustentar a filha de dois anos.

Em jogos na Arena e no Beira-Rio, são necessários cerca de 100 bombeiros civis por jogo. Além deles, é preciso seguranças com vários níveis de qualificação. Centenas deles, que labutam no campo, na contenção das torcidas e ao redor do estádio. Também é preciso gente para limpar o estádio durante e, principalmente, depois dos jogos. Em meses bons, chegam a trabalhar em até oito ou nove partidas nos dois estádios de Porto Alegre.

Pandemia suspendeu jogos em todo mundo. Foto: Luciano Lanes / PMPA / CP

Pagamento 

O pagamento geralmente acontece logo depois da tarefa, em dinheiro, na boca do caixa. São raros os casos dos profissionais deste tipo que têm carteira de trabalho assinada. E mesmo assim, geralmente é no regime de trabalho intermitente, aquele que o empregador paga somente pelas horas trabalhadas. Ou seja, se não trabalha, não recebe, da mesma maneira que um informal. A quantia recebida varia, mas vai de R$ 80 para higienistas até R$ 120 ou um pouco mais para bombeiros e seguranças mais qualificados.

“Minha renda nos últimos dois meses foi quase zero. Estou queimando as economias, mas elas devem durar mais 15 ou 20 dias. Depois, não sei o que fazer. Essa é a primeira vez que esse tipo de situação acontece”, observa o segurança Israel Ferreira Bairros, 44 anos, que trabalha na função desde 2000. “Eu ainda estou em uma situação privilegiada, porque além de trabalhar nos estádios, também dou aulas em cursos de formação. Mas há colegas que já não tem mais o que comer”, lamenta.

O vendedor ambulante Rafael Camargo Goettens vende - ou vendia - churrasquinho, entrevero (pão com uma mistura de carnes e temperos) e bebidas em dias de futebol na Arena e no Beira-Rio. Há cinco anos, ele montava a barraca cedo da manhã, esperava o dia todo e, depois do jogo, comemorava uma receita que, em dias bons, chegava a R$ 600, dinheiro que considera suficiente para sustentar a esposa e os quatro filhos.

A paralisação das competições, porém, levou Rafael a improvisar. “Eu dependia do futebol. Sem ele, montei uma banca em casa mesmo. Vendo para o pessoal do bairro, mas eles também estão em dificuldades. Então, a situação é complicada. Por enquanto, estamos conseguindo tirar para comer, mas não sei até quando”, lamenta Rafael.

Campanhas

Para amenizar a situação desses centenas de trabalhadores, uma série de campanhas já foi realizada. No mês passado, por exemplo, Raphaela Moledo, a irmão do zagueiro Rodrigo Moledo, do Inter, coordenou uma ação para recolhimento de donativos. Outras iniciativas foram levadas a cabo, já que dos clubes – ou da Arena, no caso gremista – não virá ajuda. Eles estão envolvidos na tentativa de minimizar os efeitos interno da crise econômica, que já motivou redução no quadro de colaboradores.

“Fizemos campanhas de recolhimento de donativos. Já conseguimos mais de 6 toneladas de alimentos, que estamos repassando para entidades que atendem pessoas em vulnerabilidade. Neste momento, é difícil de o clube atender mais esses profissionais”, lamenta o vice de administração do Inter, Victor Grunberg.

A realidade de seguranças, bombeiros, higienistas e vendedores ambulantes é ainda mais cruel por outro aspecto: mais cedo ou mais tarde, os jogos voltarão. Pode ser em junho, julho, agosto ou até depois disso. Porém, as competições serão retomadas, pelo menos em um primeiro momento, sem público. E sem público, não há dinheiro. E se não há dinheiro, a própria sobrevivência e das famílias fica ameaçada.


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