Autoridade francesa da Concorrência aplica multa de 500 milhões de euros ao Google

Autoridade francesa da Concorrência aplica multa de 500 milhões de euros ao Google

Órgão considerou que empresa não negociou de "boa-fé" a aplicação dos chamados direitos conexos

AFP

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A Autoridade da Concorrência francesa impôs, nesta terça-feira (13), uma multa de 500 milhões de euros (US$ 592 milhões) ao Google, por não ter negociado de "boa-fé" a aplicação dos chamados direitos conexos, a remuneração aos editores de imprensa pela utilização de seus conteúdos. "É a multa mais elevada" já imposta por este organismo francês por desrespeito a uma de suas decisões, afirmou a presidente da Autoridade da Concorrência, Isabelle De Silva.

"Queríamos assinalar a gravidade" do descumprimento das obrigações do Google, justificou De Silva. A Autoridade da Concorrência também ordenou que o Google "apresente uma oferta de remuneração pelo uso atual de seu conteúdo protegido" a editores e agências de notícias. Caso contrário, "poderá ser objeto de multas de até 900 mil euros (US$ 1 bilhão) por dia de atraso".

"Estamos muito decepcionados com esta decisão, porque agimos de boa-fé durante todas as negociações. Esta multa não reflete os esforços que foram feitos, ou a realidade do uso do conteúdo atual em nossa plataforma", reagiu um porta-voz do Google em mensagem enviada à AFP.

"Estratégia deliberada e sistemática"

Para a Autoridade da Concorrência francesa, no entanto, "o comportamento do Google é uma estratégia deliberada, elaborada e sistemática de não conformidade" com a exigência de negociar de boa-fé, justificou em um comunicado. Por exemplo, "as negociações do Google com editores e agências de notícias não podem ser consideradas conduzidas de boa-fé".

A decisão era muito aguardada, já que é a primeira tomada por uma entidade reguladora dos direitos conexos, após a legislação europeia de 2019. A França foi o primeiro país a incorporá-la. O conflito entre o Google e as editores da imprensa francesa está nos direitos que a empresa americana deve pagar pelo conteúdo (fragmentos de artigos, fotos, vídeos, infográficos) que aparece nas páginas de resultados quando o internauta faz uma busca.

No início, o Google estava relutante e tentou forçar os editores a lhe darem o direito de usar seu conteúdo gratuitamente. O mecanismo de busca estimou que os editores já recebiam o suficiente pelo tráfego que gerava para suas páginas da web. Diante da recusa em negociar, editores de imprensa e agências de notícias, como a Agence France-Presse (AFP), recorreram à Autoridade da Concorrência no final de 2019 por "abuso de posição dominante".

Em abril de 2020, a Autoridade impôs "medidas emergenciais" ao Google, ou seja, a obrigação de negociar, "de boa-fé", uma remuneração. Em setembro do ano passado, os editores de imprensa e a AFP apelaram novamente à autoridade, considerando que o Google não estava cumprindo suas obrigações.

O gigante americano mudou de postura, porém, e não mostra mais hostilidade radical em relação aos direitos conexos. Em meados de janeiro de 2021, a Aliança de Imprensa de Informação Geral (APIG, que representa principalmente jornais nacionais e regionais) e o Google anunciaram um acordo-quadro que abre caminho para a remuneração dos jornais.

Além disso, o Google e a Agence France-Presse estão "perto de chegar a um acordo" sobre a questão dos direitos conexos, disseram nesta terça o presidente e diretor-geral da AFP, Fabrice Fries, e o diretor-geral do Google França, Sébastien Missoffe, em declarações transmitidas em conjunto para a AFP.

As decisões da Autoridade da Concorrência francesa podem ter uma influência global. Em 7 de junho, uma decisão do gendarme francês em outra área, a publicidade on-line - com multa de 220 milhões de euros (261 milhões de dólares) -, levou o Google a reformar algumas de suas práticas em escala global/.

 

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