Campeão de Street Fighter cego enfrenta jogadores na Twitch

Campeão de Street Fighter cego enfrenta jogadores na Twitch

Sven van de Wege treina várias horas por dia há anos, a fim de memorizar os efeitos sonoros de cada golpe e de cada personagem

AFP

Sven van de Wege explica que joga com os olhos vendados em resposta às acusações de que não é cego

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Com uma venda nos olhos, joystick em uma mão e um teclado em braille na outra, "BlindWarriorSven" derrota mais um adversário na plataforma Twitch. "Eu uso esta venda porque às vezes me acusam de não ser cego", explica este campeão de "Street Fighter V" sobre alguns péssimos perdedores que participam da plataforma mais importante para a transmissão de jogos online ao vivo.

Sven van de Wege, com câncer aos 6 anos de idade, perdeu a visão, mas não desistiu de sua paixão incipiente por videogames, principalmente jogos de combate. Baseando-se apenas nos sons, consegue situar os personagens na tela e descrever suas ações, a ponto de se tornar o campeão da lendária série da Capcom, "Street Fighter".

Um talento que agora aproveita no seu canal na Twitch, lançado em 2017. A criação de um estúdio adaptado à sua deficiência exigiu material especializado e, acima de tudo, muita engenhosidade por parte deste engenheiro da computação holandês de 35 anos.

"Eu administro meu canal na Twitch pelo meu computador", explica em seu pequeno estúdio localizado em seu apartamento no centro de Haia. "Tenho dois computadores e conectei um teclado braille a cada um", acrescenta, deslizando os dedos sobre pequenos pontos brancos que entram e saem do dispositivo dependendo do que supostamente é lido na tela.

No entanto, na frente dele, não há tela. "Não preciso e economizo eletricidade", diz com humor. Uma interface complexa que aprendeu a dominar ao longo dos anos, no ritmo desenfreado que a transmissão ao vivo lhe impõe. "O mais difícil para mim é focar na janela de discussão, especialmente quando há muitas pessoas que escrevem mensagens, enquanto estão focadas no jogo", afirma.

"Outros também podem"

Todos os domingos, enfrenta seus seguidores em partidas acirradas, onde comenta e analisa cada movimento do oponente. "Ganho cerca de oito em dez vezes", diz, orgulhoso de ter derrotado os melhores jogadores do mundo nos diferentes torneios em que participou pela Europa.

Para chegar a este nível, Sven treina várias horas por dia há anos, a fim de memorizar os efeitos sonoros de cada golpe e de cada personagem. Fones de ouvido "me informam o que meu oponente está fazendo, como devo atacá-lo, como devo me defender".

Isso não o impede de se aventurar em outros tipos de jogo, embora lamente que poucos tenham opções de acessibilidade suficientes para jogadores cegos.

Seu canal acaba de ultrapassar 3.000 inscritos e mostra entre 40 e 50 espectadores por transmissão. Uma pontuação mais do que honrosa em uma plataforma onde as pessoas com deficiência não são muito visíveis.

Em maio de 2021, a Twitch adicionou cerca de 350 palavras-chave para ajudar a identificar grupos específicos, como pessoas com deficiência. Mas esses perfis ainda são muito raros.

Para Sven, melhorias são possíveis em termos de acessibilidade, como "a possibilidade de ter apenas texto na janela de discussão", já que a reprodução de emoticon tende a atrapalhar seu teclado em braille.

Como um "afiliado" da Twitch, Sven é pago com base no número de inscritos em seu canal e em suas doações.

Embora no momento receba apenas algumas dezenas de dólares por mês, espera um dia atingir o status de "parceiro", o que lhe permitirá, a longo prazo, uma renda suficiente para fazer do jogo a sua profissão. "Se eu pensasse que sou cego, que não posso jogar videogame, teria desistido e não estaria onde estou. Também acho que, se eu consigo, outras pessoas também podem jogar", afirma.


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