Dados de missão da Nasa mostram presença de elemento essencial à vida em lua de Saturno

Dados de missão da Nasa mostram presença de elemento essencial à vida em lua de Saturno

Fósforo, elemento chave para vários processos biológicos, foi encontrado em grãos de gelo de Enceladus

Correio do Povo

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Com base em dados coletados pela missão Cassini, da Nasa, uma equipe internacional de cientistas descobriu a presença do elemento químico fósforo em grãos de gelo ricos em sal, ejetados de Enceladus, lua de Saturno, para o espaço. Esse elemento químico, chave em vários processos biológicos, é essencial para a vida. A descoberta ganha importância, pois já haviam sido encontrados em Enceladus diversos ingredientes associados às condições de vida como a conhecemos.

Enceladus é a sexta maior das 145 luas já descobertas em Saturno e é conhecida por possuir um oceano subterrâneo. A água desse oceano irrompe através de rachaduras em sua crosta gelada na forma de gêiseres em seu pólo sul, criando uma pluma, que alimenta com partículas de gelo o anel E de Saturno, um anel fraco, fora dos anéis principais mais brilhantes.

A missão Cassini-Huygens foi um projeto cooperativo da Nasa, da ESA (Agência Espacial Européia) e da Agência Espacial Italiana. O JPL, uma divisão da Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia), administrou a missão para a Diretoria de Missões Científicas da Nasa, em Washington. O JPL projetou, desenvolveu e montou o orbitador Cassini.

Durante a missão, de 2004 a 2017, a Cassini voou várias vezes através da pluma e do anel E. Os cientistas descobriram que os grãos de gelo de Enceladus contêm uma rica variedade de minerais e compostos orgânicos, incluindo os ingredientes dos aminoácidos, associados à vida como a conhecemos.

Pela primeira vez fora da Terra

No entanto, o fósforo, o menos abundante dos elementos essenciais necessários aos processos biológicos, ainda não havia sido detectado. O elemento é um bloco de construção do DNA, que forma os cromossomos e carrega informações genéticas, e está presente nos ossos de mamíferos, membranas celulares e plânctons que habitam o oceano. O fósforo também é uma parte fundamental das moléculas transportadoras de energia presentes em toda a vida na Terra, de forma que a vida não seria possível sem ela.

“Descobrimos anteriormente que o oceano de Enceladus é rico em uma variedade de compostos orgânicos”, disse Frank Postberg, cientista planetário da Universidade Livre de Berlin, na Alemanha, que liderou o novo estudo, publicado nessa quarta-feira (14), na revista Nature. 

“Mas agora, este novo resultado revela a assinatura química clara de quantidades substanciais de sais de fósforo dentro de partículas de gelo ejetadas para o espaço pela pluma da pequena lua. É a primeira vez que este elemento essencial foi descoberto em um oceano além da Terra”, complementou.

As análises anteriores de grãos de gelo encontrados em Enceladus haviam revelado concentrações de sódio, potássio, cloro e compostos contendo carbonato. A modelagem por computador sugeriu que o oceano subterrâneo é de alcalinidade moderada, todos os fatores que favorecem as condições habitáveis.

Cientistas mantêm cautela após descoberta

De acordo com o cientista planetário e geoquímico Christopher Glein, do Instituto de Pesquisas do Sudoeste, no Texas, “altas concentrações de fosfato são resultado de interações entre água líquida rica em carbonato e minerais rochosos no fundo do oceano de Encélado e também podem ocorrer em vários outros mundos oceânicos”.

“Este ingrediente-chave pode ser abundante o suficiente para potencialmente sustentar a vida no oceano de Encélado; esta é uma descoberta impressionante para a astrobiologia”, afirmou.

Ainda que a equipe de cientistas esteja entusiasmada com a descoberta de que Enceladus possui os blocos de construção para a vida, Glein ressaltou que a vida não foi encontrada na lua ou em qualquer outro lugar do sistema solar além da Terra. 

“Ter os ingredientes é necessário, mas eles podem não ser suficientes para um ambiente extraterrestre para hospedar a vida. Se a vida poderia ter se originado no oceano de Enceladus permanece uma questão em aberto”, avaliou.

A missão da Cassini chegou ao fim em 2017, com a espaçonave queimando na atmosfera de Saturno, mas o tesouro de dados coletados continuará sendo um recurso rico nas próximas décadas. As descobertas feitas a partir da missão continuam impactando a ciência planetária.


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