Diretor da SaferNet deixa o Brasil após ameaças e invasão digital

Diretor da SaferNet deixa o Brasil após ameaças e invasão digital

Thiago Tavares vinha recebendo mensagens ameaçadoras e seu notebook foi comprometido pelo spyware israelense Pegasus

R7

Thiago Tavares vinha recebendo mensagens ameaçadoras e seu notebook foi comprometido pelo spyware israelense Pegasus

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O fundador e presidente da ONG SaferNet Brasil, Thiago Tavares, anunciou na segunda-feira em uma carta distribuída aos parceiros da instituição, que decidiu se autoexilar de forma temporária em Berlim, na Alemanha, após sofrer ameaças e descobrir que seu computador pessoal foi invadido pelo software de espionagem Pegasus.

No texto, a SaferNet explica que o exílio voluntário é uma medida prevista pela organização, mas que nos 16 anos de sua existência jamais havia sido aplicada, quando "a segurança pessoal de funcionário, colaborador ou diretor da SaferNet Brasil encontra-se em grave e iminente risco". Ele chegou à Alemanha na tarde do último sábado, 4.

Tavares vinha recebendo ameaças de morte desde o fim de outubro, quando participou de uma mesa sobre campanhas de ódio e desinformação durante um seminário promovido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Esse tipo de mensagem não era incomum por conta da atuação da ONG no campo dos direitos humanos.

No entanto, no último dia 22 de novembro, as ameaças escalaram, quando um funcionário da SaferNet sofreu um sequestro relâmpago em Salvador, na Bahia. De acordo com a entidade, quatro criminosos o abordaram, ameaçaram e roubaram o celular e o notebook de trabalho.

Menos de duas semanas depois, em 2 de dezembro, uma parente do diretor sofreu um traumatismo craniano ao desembarcar de um carro que fazia corrida para Uber e precisou ser levada à UTI. Não há mais detalhes sobre essa ocorrência na carta.

No mesmo dia, a SaferNet conseguiu provas de que o MacBook de Thiago Tavares havia sido invadido com o Pegasus. A ONG enviou um relatório técnico de 28 páginas para a Apple, a Adobe e o Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil (CERT.br), do Comitê Gestor da Internet no Brasil.

Software de espionagem

Em julho deste ano, um consórcio de imprensa descobriu que o Pegasus, prograna criado pela empresa israelense NSO, foi usado para perseguir jornalistas e defensores dos direitos humanos em diversos países do mundo. Até mesmo o presidente da França, Emmanuel Macron, precisou trocar de celular por receios quanto à sua segurança digital.

"A proximidade dos fatos, somado às ameaças que já vinha recebendo, não deixou alternativa a Thiago Tavares a não ser deixar o país, temporariamente, até que as circunstâncias dos fatos sejam totalmente esclarecidas e sejam restabelecidas as condições de segurança pessoal para o desempenho de suas atividades profissionais e acadêmicas no Brasil", diz a carta.


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