Equipe russa chega à ISS para gravar primeiro filme no espaço

Equipe russa chega à ISS para gravar primeiro filme no espaço

O ainda quer se envolver no turismo espacial e planeja para dezembro a viagem de um bilionário japonês

AFP

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Um foguete Soyuz, com uma atriz e um diretor russos a bordo, se acoplou nesta terça-feira (5) à Estação Espacial Internacional (ISS) para iniciar uma missão de 12 dias, durante a qual ambos devem rodar o primeiro filme da história no espaço.

Assim que passarem por vários controles, a atriz Yuliya Peresild, de 37 anos, e o cineasta Klim Shipenko, de 38, devem entrar na estação orbital, onde devem iniciar as filmagens, na tentativa de conquistar alguns pontos simbólicos de vantagem sobre os americanos após anos de decepções.

Em um contexto de tensão entre Rússia e Estados Unidos, a aventura cinematográfica, cujo orçamento é mantido em sigilo, busca antecipar o projeto cinematográfico no espaço de Tom Cruise, que não teve o calendário divulgado.

A nave que transportava a atriz, o diretor de cinema e o cosmonauta Anton Shkaplerov se acoplou à ISS com alguns minutos de atraso, às 12h22 GMT (9h22 de Brasília), mais de três horas depois de ter decolado da base russa de Baikonur, no Cazaquistão.

"O espaço é um âmbito em que somos pioneiros e mantemos, apesar de tudo, uma posição muito sólida", afirmou nesta terça-feira o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

A partir de agora, o diretor e a atriz têm 12 dias, até seu retorno previsto para 17 de outubro, para rodar um filme com o título provisório de "O Desafio", que apresentará uma médica com a missão de salvar um cosmonauta.

"Vencer a Nasa" 

A missão chega em um momento de proliferação das viagens ao espaço, incluindo os voos de lazer como o dos bilionários Richard Branson e Jeff Bezos.

Na segunda-feira, uma empresa deste último, a Blue Origin, anunciou que o ator canadense de 90 anos William Shatner, o capitão Kirk na série Star Trek, viajará ao espaço na próxima semana.

Para a agência espacial russa Roscosmos, o filme deve devolver o prestígio perdido pelos escândalos de corrupção, suas diversas avarias e a perda do lucrativo monopólio de voos tripulados para a ISS, com o surgimento da Space X de Elon Musk.

Trata-se de "vencer a Nasa e a Space X" e "desviar a atenção de (seus) problemas", disse à AFP o cientista político Konstantin Kalashev.

Embora as imagens tenham acompanhado todas as missões ao espaço, um longa-metragem de ficção nunca foi filmado em órbita.

Preparação "extenuante" 

Os dois viajantes ao espaço, figuras do cinema russo, fizeram um treinamento acelerado para aprender a suportar a violenta aceleração da decolagem e a se mover na falta de gravidade.

"Foi psicológica, física e emocionalmente extenuante", declarou na segunda-feira Yuliya Peresild, que foi selecionada entre as quase 3.000 candidatas que buscavam interpretar o papel principal.

Seguindo a tradição dos cosmonautas russos, a atriz e o diretor assistiram no domingo "O Sol Branco do Deserto", um filme soviético dos anos 1970.

A tripulação da Soyuz vai conviver com a pequena comunidade que vive atualmente a bordo da ISS, incluindo dois cosmonautas russos que, junto com Shkaplerov, aparecerão em "O Desafio" como figurantes.

Como sinal da importância do projeto para Moscou, os produtores são pesos-pesados: Dmitri Rogozin, diretor da Roscosmos e ex-vice-primeiro-ministro, e Konstantin Ernst, diretor da emissora de televisão Pervyi Kanal.

Este último é responsável pela encenação de alguns dos grandes momentos do governo de Vladimir Putin, como desfiles militares, eleições presidenciais e as cerimônias dos Jogos de Inverno de Sochi em 2014.

Em abril, para o 60º aniversário do primeiro voo tripulado ao espaço de Yuri Gagarin, uma vitória simbólica da União Soviética sobre os Estados Unidos em plena Guerra Fria, Putin proclamou que a Rússia deveria continuar como uma grande potência espacial. EsO país ainda quer se envolver no turismo espacial e planeja para dezembro a viagem de um bilionário japonês.

Entre outras ambições da Roscosmos estão uma estação espacial exclusivamente russa e uma estação russo-chinesa. Moscou decidiu rejeitar um projeto lunar de Washington, que considerou muito focado nos Estados Unidos.

Nenhum desses projetos tem orçamento ou um calendário preciso.

 


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