Futuro energético da Europa: caminho escolhido, mas com alguns desafios

Futuro energético da Europa: caminho escolhido, mas com alguns desafios

Utilização do hidrogênio é assunto predominante na Alemanha e, também, na Holanda

Guilherme Baumhardt, da Rádio Guaíba

Além disso, o gás natural – com reservas consideráveis na Holanda – enfrenta um debate intenso

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 A impressão é a de um caminho sem volta, de uma decisão consolidada: o futuro energético da Europa passa pelo hidrogênio. É o assunto predominante na Alemanha e, também, na Holanda. A utilização de um dos elementos presentes na água (e, justamente por isso, abundante) é um sonho antigo, mas nos últimos anos deu passos importantes para se tornar uma alternativa viável.

A Holanda, segundo destino da missão do Rio Grande do Sul, tem como objetivo reduzir em 60% as emissões de carbono, até 2030. Para isso, precisa diminuir o uso de gás natural, carvão e derivados de petróleo. Não é uma tarefa fácil, especialmente agora, com a instabilidade gerada pela guerra entre Rússia e Ucrânia. Enquanto a comitiva se deslocava de um compromisso para outro, era possível ver reservas de carvão nas imediações de indústrias ou sendo transportadas pelas hidrovias do país.

Além disso, o gás natural – com reservas consideráveis na Holanda – enfrenta um debate intenso. Alguns acreditam que a exploração do combustível é a responsável por tremores de terra, na região norte do país – segunda razão pela qual o governo defende o fim da sua utilização. Para substituir gás natural e carvão, o caminho é o hidrogênio.

Alguns pontos parecem pacificados. Com pequenas adaptações, é possível utilizar a atual rede de gás natural holandesa para distribuir o hidrogênio, que pode ser destinado para carros, transporte de carga ou a geração de energia elétrica. Assim como ocorre hoje com o petróleo que viaja o mundo em navios, o hidrogênio poderia ser transportado do Brasil para a Holanda em embarcações com este fim. O nó que ainda não foi desatado está no desequilíbrio entre a energia necessária para a eletrólise da água (uma das maneiras de se obter o hidrogênio) e a energia que ele, como combustível, pode oferecer. É como gastar uma determinada quantidade de álcool para o plantio de um canavial e, após o cultivo, extrair volume semelhante. Não há ganho.

Hoje existem três nomenclaturas para definir os tipos de hidrogênio: “verde”, “azul” e “cinza”. O primeiro é o sonho dos países europeus, porque a energia despendida no processo de obtenção do hidrogênio vem de fontes renováveis, como hidrelétricas, painéis fotovoltaicos ou aerogeradores, portanto, sem emissão de carbono. O “azul” ocupa uma posição intermediária. Sistemas que emitem carbono, mas com menor impacto ambiental, são utilizados, como o gás natural ou gases não aproveitados pela indústria. O “cinza” é o processo no qual o hidrogênio é obtido através de combustíveis não renováveis, como carvão mineral ou derivados de petróleo, e por isso considerado o menos interessante pela Europa.

O segundo desafio diz respeito à segurança. Um tanque de hidrogênio tem alto potencial explosivo. Um acidente com um carro, por exemplo, poderia ter graves consequências. Quando isso for resolvido, o resultado da reação inversa, e que serve para movimentar um veículo, teria como produto final, no escapamento, apenas a emissão de vapor de água. O hidrogênio já é uma realidade, mas ainda não em larga escala. Com os avanços recentes, este futuro parece cada vez mais próximo.

Sem lero-lero

Com a franqueza que lhe é característica e a experiência que carrega após anos como líder empresarial, o presidente da FIERGS, Gilberto Petry, provocou alguns segundos de silêncio, após uma das apresentações sobre a Holanda, nesta quinta-feira. “Está tudo muito bonito, mas nós viemos aqui para saber se vocês querem investir lá, no Brasil”, afirmou. A pergunta foi direcionada a Jörg Gigler, consultor que fazia a apresentação, e, logo depois, ao representante do governo holandês para relações econômicas externas, Peter Potman. Não houve grandes promessas, mas alguns investimentos externos recentes foram citados, além da sinalização de que a compra do hidrogênio brasileiro está no horizonte. “O Brasil é o principal parceiro comercial da Holanda, na América Latina, e um mercado prioritário. Nossos focos são, além da energia sustentável, sistemas de alta tecnologia e saúde”, afirmou Peter Potma.

Foto: Guilherme Baumhardt 

Cooperativa eólica

Pela manhã, a primeira parada da comitiva foi no Parque Eólico Krammer, para conhecer um modelo diferente. O projeto saiu do papel graças a uma cooperativa. São cinco mil associados. O investimento superou os 200 milhões de euros (mais de um bilhão de reais), com 15 anos de prazo para pagamento, com carência – o financiamento só começou a ser quitado, em 2019, depois que as torres entraram em operação. A energia gerada ali já tem compradores: quatro grandes empresas, entre elas Google e Philips. A área, que tem 34 aerogeradores, pertence ao governo, que exige uma contrapartida dos investidores destinada à comunidade local. Todos os anos escolas da região são contempladas com recursos oriundos da geração. Houve ainda a exigência da instalação de sensores que detectam a presença de pássaros, para evitar a morte das aves. Quando isso ocorre, as hélices param automaticamente, em poucos segundos. Um sistema de alarme sonoro, para afugentar os animais, existe, mas ainda não está funcionando. Durante a visita, a comitiva foi autorizada a conhecer uma das torres por dentro (foto).

Embaixada

Um dos últimos compromissos do dia foi uma visita à embaixada do Brasil, na Holanda. A comitiva foi recebida com músicas de artistas do Rio Grande do Sul, entre elas “Deu pra ti”, um clássico da dupla Kleiton e Kledir. Elis Regina também estava na playlist.


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