O que é a Web 3.0 e em que fase estamos?

O que é a Web 3.0 e em que fase estamos?

Especialistas ainda divergem sobre o período

Arthur Ruschel

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Web 1.0, 2.0, 3.0 e 4.0. Especialistas ainda se debruçam sobre como defini-las, apesar de ainda não existir uma marcação exata de quando uma era começa e a outra termina. Mas como diferenciar suas principais características?

Antes, é preciso entender como tudo começou. Em 1990, na Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN), na Suíça, o físico Tim Berners-Lee criou a World Wide Web. A invenção permitiu um sistema de compartilhamento de informações que seria a base da primeira a Web. Com Lee, foi possível realizar o pontapé inicial para o que conhecemos atualmente. Abaixo, os principais conceitos que definem as fases de evolução da web e quais os proxímos passos.  

Web 1.0

Na década de 1990, o que é chamado como Web 1.0 foi a primeira fase da World Wide Web. Para entendê-la, é preciso esquecer o momento atual e imaginar algo simples e estático, sem qualquer interação.

“O que tínhamos na década de 1990 era basicamente a informação de um servidor que era repassada ao receptor, no caso, as pessoas. Não era permitido ao usuário colocar nada dentro da internet, apenas receber”, explica Vandersilvio da Silva, professor do curso de Ciência da Computação da Universidade Feevale.

À época, a nova tecnologia foi considerada um grande avanço, mesmo que a interação – algo praticamente nulo – fosse uma via de mão única. Neste cenário, é preciso esquecer as páginas com diversos botões de compartilhamento, comentários e tudo mais. Nada disso existia.

A grosso modo, as páginas funcionavam como uma espécie de quadro. Nele, era possível acessar um texto corrido e navegar entre hiperlinks que direcionavam para outras páginas. O ponto fundamental nesta época diz respeito ao conteúdo – praticamente, o mesmo era visto por todos que acessavam. A informação sempre era igual para qualquer usuário. 

Os principais serviços desta época foram sites como o Altavista, o DMOZ e o brasileiro Cadê – que não existem mais –, além dos embrionários Hotmail, Google e Yahoo, que ainda seguem.

Com o avanço da tecnologia dos servidores e, principalmente, da velocidade da rede, começam a surgir diversos mecanismos que auxiliaram na criação do próximo estágio, a Web 2.0

Web 2.0

A Web 2.0 pode ser considerada algo mais próximo do que conhecemos. Ainda não ligaremos o período atual com as próximas fases – Web 3.0 e a Web 4.0 – pois não existe um consenso sobre quando uma começa e a outra termina. 

Os anos 2000 estão em ascensão. Com ele, a Web 2.0 ganhou força. Nesta época. que segue até 2010, segundo da Silva, temos uma intensa interação do usuário com a rede. A partir de agora, é possível receber o conteúdo e também criá-lo. Os indivíduos podem comentar, compartilhar e interagir. Para diferenciar do estágio anterior, nesta fase, o relacionamento online é marcado pela produção de conteúdos dos usuários, e não apenas do servidor.

Todas essas características, claro, definem as redes sociais. Desde as mais antigas, como Orkut e Myspace, até as mais atuais, como Facebook, Twitter e Instagram. “Nesse momento, temos o surgimento dos smartphones e tablets, e equipamentos móvel que, naturalmente, auxiliaram nas aplicações das redes sociais, como o compartilhamento de imagens, conteúdos e informações”, completa o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada da Unisinos, Rafael Kunst.

É importante ressaltar que os acessos concentram-se em um navegador específico, como é o caso do Google Chrome, Mozilla Firefox, Microsoft Edge, ou qualquer outro utilizado para acessar a internet.

Aqui, a concentração de informações aumenta. Por meio dos algoritmos, a rede começa a entender o que o usuário precisa. O que antes era armazenado em arquivos, passou a ser contabilizado em dados – uma infinidade deles. Dados e informações são primordiais para explicar os próximos estágios da rede. 

Web 3.0

Nesta etapa, os especialistas divergem. Uma primeira linha de pensamento acredita que a entrada na Web 3.0 ainda está em andamento. Assim, o próximo estágio, a Web. 4.0, seria apenas um complemento da anterior, já que que muitas características entre as duas fases se confundem. A segunda linha defende que a Web 3.0 representa o momento atual e a próxima etapa, a Web 4.0, estaria prestes a começar. Mas, antes do debate, é preciso explicar a 3.0.

Uma parte importante para entender esse período é que as bases de dados agora não se concentram mais em determinados pontos, mas sim em blocos organizados em cadeias, a blockchain. A tecnologia é conhecida principalmente por servir de base para as criptomoedas.

Kunst explica que a blockchain se divide em três conceitos. O primeiro é a imutabilidade. Ou seja, nenhuma informação pode ser alterada. O segundo, a transparência. A informação pode ser auditada por qualquer pessoa, o que comprova que aquela criptomoeda, por exemplo, é válida. O terceiro e mais importante: identidade. A tecnologia funciona como uma assinatura, como se fosse uma impressão digital para validar uma transação.

“Ainda estamos no caminho da 3.0, um caminho mais descentralizado. Basicamente, temos aqui a utilização mais massiva da realidade virtual com o chamado ‘metaverso’. Isso vem acontecendo a partir dos games, e já vendo transplantando para outras áreas”, ressalta Kunst.

A visão do professor da Unisinos ganha ainda mais força com fatos recentes. Em outubro de 2021, o Facebook anunciou a mudança de nome para “Meta”. A empresa é uma das primeiras a prometer investimentos bilionários na criação de um universo digital com uso de Realidade Virtual (VR), marca do metaverso. Para explicar, o podcast Direto ao Ponto fez uma entrevista especial sobre o assunto. Você pode conferir clicando aqui.

“Claro que depende da linha de pesquisa. Neste caso, chamamos a Web 3.0 de “Web Semântica”, porque ela passa a ser mais intuitiva. Um exemplo prático: você pesquisa um carro que você quer comprar em um site. Depois, em outra página diferente e sem qualquer ligação, começa a aparecer diversas propagandas daquele mesmo carro. Existem algoritmos ali para observar e, assim, oferecer ao usuário as mercadorias que ele está procurando”, acrescenta Vandersilvio da Silva, da Feevale.

A divergência de quando termina a Web 3.0 e começa a Web 4.0 é balizada pela inteligência artificial. Além do metaverso e do algoritmo, as máquinas também fazem, cada vez mais, parte da rede. É por essa interação, homem e máquina, que torna difícil diferenciar os estágios. Por isso, pulamos para a próxima etapa.

Web 4.0

Definida como “Web Simbiótica”, é nesta etapa em que a interação entre seres humanos e máquinas se intensifica. Pelo cenário de intensa participação de aparelhos na rede, o período é chamamo popularmente como a “internet das coisas”.

“A partir de 2010, foi constatado que existiam mais 'coisas' conectadas à internet do que seres humanos. Essa questão da Web 4.0 é a interação de humanos com máquinas. A ideia da Web 4.0 vem no sentido de tirar os intermediários, fazendo com que a web seja menos descentralizada", argumenta da Silva.

Praticamente todos os aparelhos dentro de uma residência, hoje, estão conectados com a internet. TVs, geladeiras, celulares, assistentes virtuais como a Alexa, da empresa Amazon. A lista é interminável. As interações entre os usuários também devem se intensificar a níveis ainda não idealizados. 

A grande divergência apontada nos parágrafos anteriores é que as características da Web 4.0 coexistem com a Web 3.0. Por isso, conforme defende o professor Rafael Kunst, da Unisinos, a próxima etapa da internet serve como um complemento, e não outra fase. “O conceito de Web 4.0 já existe e está muito atrelado à inteligência artificial. Ela, na verdade, é como uma parte do que esperamos para a Web 3.0”, reforça.


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