Pais devem buscar diálogo e não condenar redes sociais, defende especialista

Pais devem buscar diálogo e não condenar redes sociais, defende especialista

Psicólogo orienta como moderar o acesso de crianças e adolescentes aos conteúdos na internet

Matheus Chaparini

Ataques contra chineses se multiplicaram nas redes sociais e também no mundo real, com casos de hostilização e agressão após o início da pandemia

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O contato de crianças e adolescentes com as redes sociais, jogos online e outras tecnologias é inevitável. Chamadas de “nativas digitais”, as novas gerações já nascem conectadas e crescem com o celular - ou tablet, ou notebook - nas mãos.

O psicólogo Chrystian Kroeff defende, no entanto, não condenar as redes ou tentar barrar o acesso dos jovens aos dispositivos. Ao invés disso, o especialista orienta que pais e responsáveis devem ter interesse e atenção em relação ao que os jovens fazem na internet.

“O que ajuda nesses casos é tentar fazer com que esse uso das redes aconteça em uma triangulação, que é a criança, a tela e o adulto. Talvez seja difícil impedir que a criança tenha acesso às telas e às redes sociais, mas é importante que ela não fique numa díade, numa dupla, em um universo único só tela e criança. Além disso, que possa ter uma troca com um adulto ou com um colega", destacou o especialista, que coordena a Clínica Universitária e professor da Escola de Saúde da Unisinos.

O efeito do uso massivo das redes sociais no desenvolvimento de crianças e adolescentes é objeto de estudo de inúmeras pesquisas em diferentes áreas da psicologia. Em geral, elas apontam que o consumo de conteúdos provenientes das redes podem prejudicar a socialização, a satisfação com o cotidiano, o desenvolvimento da personalidade, a autoestima e a aceitação com o próprio corpo. Mostram ainda que estes públicos são mais suscetíveis a estes efeitos do que os adultos.

Rejeição ao próprio corpo

Uma pesquisa realizada pela organização não-governamental britânica Stem4, dedicada à defesa da saúde mental de jovens, e publicada publicada pelo jornal “The Guardian” no começo deste ano, aponta que o consumo de conteúdo vindo das redes sociais abre portas para um “risco significativo” para problemas de saúde mental, além de fazer com que crianças tenham uma tendência maior a rejeitar o próprio corpo.

Foram ouvidos mais de mil jovens com idades entre 12 e 21 anos. Mais da metade deles afirmou ter sido impactado por causa de posts, comentários ou intimidações online relacionados à aparência física. Como reação, esses adolescentes assumem que se tornaram mais retraídos, passaram a se exercitar excessivamente, pararam de socializar com os amigos e até iniciaram processos de automutilação.

“Tem toda uma exposição de ideais de corpos e de estilo de vida que estão colocadas e que os adolescentes têm um contato importante nas redes. Isso pode fazer com que eles queiram ou busquem algum tipo de estética para eles ou que se sintam mal até por não conseguir atingir um certo ideal”, explica o psicólogo Chrystian Kroeff, coordenador da Clínica Universitária e professor da Escola de Saúde da Unisinos.

Redes não estão preparadas

Nos últimos meses, casos de ataques em escolas e apreensões de jovens envolvidos com acesso e compartilhamento de conteúdos violentos e ilícitos, como os que difundem ideias nazistas, reacenderam o debate sobre a regulação dos conteúdos que circulam na internet e os questionamentos sobre se as redes estão preparadas para lidar com estes públicos de forma segura.

Para a professora Soraia Musse, da Pós-Graduação em Ciência da Computação da Escola Politécnica da PUC-RS, a resposta é não. Em algumas redes, é preciso informar a idade para se cadastrar. No entanto, trata-se de um controle bastante frágil.

“Isso é bem complicado. A empresa não tem como checar se aquilo é verdade, a ferramenta acredita naquilo que a pessoa está colocando naqueles dados. Então o que acontece é que a rede social em si não é preparada para exatamente ver se a pessoa tem realmente a idade que informou”, avalia.

Uma das preocupações expostas pela professora é em relação aos vídeos curtos de reels, onde o usuário não busca o conteúdo que pretende ver e acaba acessando materiais publicados por páginas que não segue. No entanto, a professora ressalta que há aplicações específicas para o público infantil, caso do YouTube, que dispõe do YouTube Kids, com conteúdos voltados às crianças. O aplicativo permite também o controle parental, que permite aos responsáveis limitar o tempo de uso, bloquear determinados conteúdos e aprovar previamente vídeos e coleções adequadas às crianças.

 


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