Paleontólogos brasileiros e britânicos identificam o mais antigo mamífero da Terra

Paleontólogos brasileiros e britânicos identificam o mais antigo mamífero da Terra

Estudos foram realizados com as dentições de pequenos cinodontes, chamados Brasilodon quadrangularis

Correio do Povo

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Um artigo publicado no periódico inglês Journal of Anatomy revela os achados de quase duas décadas de trabalhos de um grupo de pesquisadores brasileiros e ingleses. O grupo conseguiu estabelecer que pequenos fósseis encontrados no Sul do Brasil no início dos anos 2000 seriam, de fato, os mamíferos mais antigos do planeta Terra.

Entre os autores do artigo está o paleontólogo Sergio Furtado Cabreira, doutor em Geologia pelo Programa de Pós-Graduação em Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), orientado pelo professor Cesar Leandro Schultz, que também assina o trabalho ao lado de pesquisadores de diferentes instituições e áreas, como: Moya Meredith Smith (Odontologia) e Martha Richter (Biologia), paleontólogas do Museu de História Natural de Londres, e Marina Bento Soares (Biologia), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Outros coautores são Rodrigo Carrilho (Biologia, Unilasalle) e os pesquisadores independentes Henrique Puricelli Lora (Odontologia), Cristina Pakulsky (Biologia) e Lúcio Roberto da Silva (Biologia).

Os estudos foram realizados com as dentições de pequenos cinodontes, chamados Brasilodon quadrangularis, encontrados em rochas fossilíferas do período Triássico/Noriano, datadas como tendo aproximadamente 225 milhões de anos. Os pequenos brasilodotídeos tinham apenas 20 centímetros de comprimento total e pesariam pouco mais de 15 gramas.

Eles se assemelhavam aos pequenos roedores atuais, mas até hoje eram descritos na literatura científica como tendo uma natureza biológica reptiliana. “Desde que foram encontrados os primeiros fósseis de cinodontes, na segunda metade do século XIX, estes pequenos fósseis eram descritos como animais ectotérmicos e ovíparos, isto é; seriam animais de sangue frio e colocariam ovos para sua reprodução. Nossa pesquisa demonstrou, através de análises de microscopia das mandíbulas e dos dentes, que estes pequenos animais já apresentavam difiodontia, isto é, apenas uma dentição permanente substituindo a dentição de leite”, explica Cabreira. 

A difiodontia está diretamente associada, nos mamíferos atuais, a características fisiológicas como endotermia, placentação e lactação. Ou seja, brasilodontídeos eram diminutos animais peludos endotérmicos (sangue quente) e produziriam ninhadas de filhotes nascidos vivos, os quais seriam então amamentados pelas suas mães.

Estudos tiveram início em 2004

Os primeiros trabalhos histológicos com as dentições destes fósseis que estão na Ufrgs iniciaram em março de 2004, quando os paleontólogos selecionaram algumas mandíbulas isoladas de Brasilodon, de apenas 2,0 cm de comprimento, para a preparação e confecção de lâminas histológicas e posterior estudo em diferentes microscópios.

Pesquisadores Sergio Cabreira e Cesar Leandro Schultz | Foto: Rochele Zandavalli / Divulgação / CP

O estudo, ao mostrar que os mamíferos placentários são tão antigos quanto os primeiros dinossauros, traz importantes informações sobre o conservatismo e o continuísmo dos padrões genéticos, embriológicos e fisiológicos dos vertebrados ao longo do tempo. Conforme Cabreira, os resultados apontam que os mecanismos gênicos e certas estruturas biológicas reprodutivas, como a lactação e os cuidados maternos, mantiveram-se estáveis através de muitos milhões de anos de evolução.

 


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