Por trás de alta meteórica do bitcoin, há milhões de investidores asiáticos

Por trás de alta meteórica do bitcoin, há milhões de investidores asiáticos

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Foto: Karen Bleier / AFP / CP


Embora todas as atenções tenham se concentrado no lançamento do bitcoin no mercado futuro dos Estados Unidos, no início de dezembro, o centro gravitacional para negociações dessa moeda virtual, em termos de volume, tem sido o Oriente - começando pela China, passando pelo Japão e chegando mais recentemente à Coreia do Sul.

E ao contrário dos frenesis financeiros anteriores - como os vistos com a bolha da internet no final dos anos 1990, quando investidores norte-americanos do varejo perceberam o movimento somente nos estágios finais do rali - os investidores individuais têm sido os primeiros a aproveitar a festa, impulsionando a moeda digital para uma alta de 1.600% neste ano.

"O bitcoin é um dos poucos mercados que já tivemos na história onde você viu ganhos astronômicos em todo o mundo e o investidor de varejo da Ásia é quem os está conduzindo", disse Chris Weston, estrategista-chefe de mercados do IG Group, uma das maiores plataformas de trading online do mundo. "Parece que tudo isso está sendo conduzido pelo cidadão comum, que não tem formação do mercado financeiro como um gerente de fundo profissional."

Febre asiática

Diversas forças têm alimentado a febre do bitcoin na Ásia. Enquanto fortunas individuais têm crescido nos últimos anos, particularmente na China e na Coreia do Sul, oportunidades lucrativas de investimento podem ser difíceis de encontrar, com o mercado imobiliário muito caro e o mercado de ações fortemente valorizado. Evidências sugerem que os asiáticos estão mais confortáveis com o conceito de moedas virtuais, em particular os mais jovens, que cresceram em um mundo dominado pelo e-commerce e por pagamentos via celular.

No ano passado, a China registrou um volume absurdo de transações com a moeda antes que os reguladores agissem para reprimir o movimento. Mas ao final de novembro, Japão, Coreia do Sul e Vietnã já respondiam por quase 80% das negociações com bitcoin em todo o globo, de acordo com a consultoria CryptoCompare. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos respondiam por apenas um quinto do volume negociado. Nas últimas semanas, entretanto, a participação dos EUA nesse total tem aumentado.

Enquanto os números flutuam significativamente na movimentação diária, a Coreia do Sul já chegou a responder por até um quarto das negociações com bitcoin, superando os EUA, de acordo com a Coinhills, empresa de dados que acompanha a cotação das moedas digitais. A Coreia do Sul tem uma população de aproximadamente 51 milhões de pessoas, comparada aos 323 milhões dos EUA. "A Ásia em geral tem muito interesse em negociar criptomoedas. Essa é a novidade que está empolgando os jovens" disse Vitalik Buterin, criador de outro tipo de moeda digital chamada Ethereum, durante recente entrevista em Seul.

Mudando vidas

Lee Sang-chul, de 32 anos, é um dos milhões de sul-coreanos apaixonados por bitcoin. Lee, que dirige uma loja de restauração de carros na cidade portuária de Busan, no sul do país, investiu 100 milhões de wons (cerca de US$ 92 mil) na moeda virtual em outubro, uma decisão que ele diz ter mudado sua vida em razão dos ganhos obtidos. "Antes do bitcoin, eu passava o dia todo na minha loja. Agora, posso fechar as portas quando tenho um compromisso ou quero sair mais cedo", disse Lee.

Ele contratou duas pessoas desde que começou a investir em bitcoin, e comprou para sua esposa uma cara bolsa Chanel de presente pelo aniversário de casamento. "Minha meta é acumular o maximo de bitcoins que puder", disse Lee, acrescentando que espera que a moeda virtual venha a substituir a moeda padrão no futuro.

Em Hong Kong, os fãs da criptomoeda se reuniram recentemente em um encontro denominado "Bitcoin Bubble Bash". A reunião foi organizada pela BitMEX, uma plataforma de transações local, que providenciou pizza, wraps, cerveja e vinho para celebrar "o melhor ano na história do bitcoin (de novo!)," de acordo com o convite para o evento. Perto de 200 pessoas compareceram. A lista incluía professores, operadores de ativos e corretores de seguro. "Eu dobrei meu dinheiro. E a cotação só sobe. Estou ficando rico muito rápido", afirmou uma pessoa presente no evento.

São pessoas como essa em toda a Ásia que têm impulsionado o preço da bitcoin neste ano. Analistas reconhecem que os profissionais tradicionais de Wall Street não serão a principal força impulsionadora do mercado por um bom tempo. "Essa é a primeira bolha sem bancos envolvidos", afirmou em seu blog Joshua Brown, executivo-chefe da consultoria de investimento de Nova York, Ritholtz Wealth Management. "Nunca houve um fenômeno como esse, onde o público em geral apostasse tanto dinheiro. Temos uma verdadeira febre em nossas mãos e Wall Street ainda não se deu conta".

Acima da média

A popularidade do bitcoin na Coreia do Sul tem levado a critpomoeda a ser negociada por um preço acima da média do mercado. Quando o bitcoin ultrapassou a barreira dos US$ 17 mil pela primeira vez, recentemente, de acordo com a CoinDesk, site de pesquisa que distribui a maior parte das moedas que circulam no mundo virtual, ele atingiu quase US$ 25 mil no Bithumb, maior casa de câmbio de criptomoeda da Coreia do Sul. Outras duas casas sul-coreanas, a Coinone e a Korbit, também apresentaram preços bem acima de US$ 20 mil. Esses spreads, porém, têm diminuído desde então. "Todo mercado tem suas próprias regras locais e isso cria vários tipos de discrepâncias", afirma Cedric Jeanson, fundador e executivo-chefe da BitSpread, uma casa de fundos hedge focada em bitcoin.

O frenesi asiático com o bitcoin despertou a atenção dos órgãos reguladores e políticos. Neste ano, a China já baniu as casas de câmbio de moedas virtuais e ofertas iniciais de moeda, uma forma de angariar fundos que usa criptomoedas. O órgão regulador do mercado de Hong Kong já emitiu um alerta: algumas casas de criptomoedas (que não são reguladas) podem estar oferecendo ilegalmente futuros e outros investimentos relacionados com moedas digitais.

No início do mês, Pan Gongsheng, vice-presidente do banco central da China, alertou investidores sobre o bitcoin durante evento em Shanghai. "Há apenas uma coisa que podemos fazer - assistir a tudo isso da margem do rio", disse. "Um dia você verá o corpo sem vida do bitcoin flutuando na sua frente". O primeiro-ministro sul-coreano, Lee Nak-yon, também fez declarações alarmistas. "Se deixarmos as coisas continuarem como estão, sinto que isso nos levará a sérias distorções ou a algum fenômeno patológico", afirmou em discurso no mês passado.

O presidente da Comissão de Serviços Financeiros da Coreia do Sul, Choi Jong-ku, declarou recentemente que o governo não irá autorizar oficialmente qualquer casa de câmbio de moedas virtuais ou a introdução de bitcoins no mercado futuro. "Muitas pessoas têm investido tudo que possuem sem ter conhecimento do básico", observou Josephin Jung, ex-professora que se tornou uma operadora de bitcoin aos 45 anos e agora dá aulas particulares sobre a moeda digital em Seul. "E muitos estão sendo enganados no processo", acrescentou.

Fonte: AE

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