Questão energética é tema de debates na Feira de Hannover, na Alemanha

Questão energética é tema de debates na Feira de Hannover, na Alemanha

Após dois anos, os pavilhões que sediam o evento voltaram a ter a presença do público

Guilherme Baumhardt, da Rádio Guaíba

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Portões abertos. Após dois anos, os pavilhões que sediam a Feira de Hannover voltaram a ter a presença do público, de empresas e, também, a realização de negócios. É uma retomada, mas ainda sem a força que o evento já teve. Em anos anteriores, mais de seis mil expositores estiveram presentes. Na edição deste ano, o número ficou abaixo da metade – algo previsível, diante de tantas mudanças provocadas pela pandemia.

Além das negociações, a segunda-feira foi pautada também por debates, especialmente sobre a questão energética. A Alemanha acabou entrando em uma sinuca de bico, uma espécie de brete. Após o tsunami que provocou o acidente nuclear de Fukushima, no Japão, a principal economia da Europa decidiu banir o uso de reatores deste tipo, muito por pressão do Partido Verde, que hoje integra, inclusive, a base do governo de Olaf Scholz (do Partido Social-Democrata). A posição é tão radical que outras nações vizinhas, como França e Espanha, classificam a energia nuclear como limpa, diferentemente do que ocorre na Alemanha, que parece ter apostado todas as suas fichas no chamado “hidrogênio verde”.

Há ainda resistências na adoção em larga escala de aerogeradores e placas fotovoltaicas (ou popularmente conhecidos como painéis solares). A explicação: quem tem o know how sobre o assunto e domina também a fabricação é a China. Os alemães não parecem demonstrar interesse em alterar a matriz energética para uma tecnologia sobre a qual eles não têm mais o domínio.

Sem energia, o mundo e a economia não se movem. E Hannover acaba sendo o epicentro dos debates de uma Alemanha que está em uma enrascada, criada por ela mesma, ao aumentar a dependência do petróleo e gás russos, e impor limites e sanções para o uso do carvão mineral, praticamente a única fonte energética para a qual os germânicos não sofrem dependência externa.

Comer em Hannover é um desafio

A alimentação na feira exige planejamento. Ou paciência. Mesmo com um público menor do que o tradicional, vários restaurantes espalhados pelo local do evento resolveram não abrir as portas. O resultado: filas e mais filas, tanto nos espaços fixos quanto nos food trucks que ficam na área. Para quem não pode perder tempo, o jeito é levar um lanche na mochila. E esperar não é garantia de barriga cheia. Este jornalista esperou um longo período na fila de um café. Pouco antes de ser atendido, a comida acabou. Fiquei sem almoço.

Inovar, inovar, inovar... e aprender

Robótica e automação são os grandes destaques da Feira de Hannover. E a ordem, via de regra, é inovar. A empresa Festo criou um pássaro artificial que voa como se fosse um animal verdadeiro: batendo asas. Não há hélices, não há turbina. O “bicho” pesa meio quilo e é controlado por controle remoto. Pergunta óbvia: qual a utilidade? Um dos responsáveis pela demonstração explicou: “Estamos sempre testando novos materiais, novas aplicações. Mesmo que ainda não tenhamos uma utilização definida, estamos sempre aprendendo”. Outra invenção mostrada na feira é a bicicleta feita inteiramente de plástico, mais de 60% do produto é reciclado. A intenção? Mostrar que é possível. O que hoje ainda é um projeto deve chegar ao mercado no final do ano. A próxima etapa é colocar um câmbio, com engrenagens também feitas de plástico reciclado.

Máscaras e exigências

O uso de máscaras, na Alemanha, está caindo em desuso. Apenas no transporte público (ônibus e trens) ela ainda é exigida e, mesmo assim, com uma certa parcimônia com quem não usa nada para cobrir boca e nariz. Para entrar no país, o teste PCR é exigido apenas de quem não fez as vacinas ou recebeu doses de algum imunizante não reconhecido pelo país – para nós, brasileiros, é o caso da Coronavac, não utilizada por essas bandas. A exigência, aliás, tem data para acabar: amanhã, 1º de junho.

Gasolina e inflação

A manchete do noticiário na televisão: alemães preocupados com a inflação, que, de acordo com um dos índices existentes no país, atinge a marca de 10% ao ano. Se para o Brasil uma alta assim já preocupa, para os germânicos, acostumados com patamares bem menores, é uma pancada e tanto. Para ilustrar: o preço do litro da gasolina comum vendido nos postos de Hannover está na casa dos dois euros. Em uma conta simples, mais de dez reais o litro.


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