Snapchat muda e ameaça onda de celebridades da web

Snapchat muda e ameaça onda de celebridades da web

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Conhecido por apontar tendências, o aplicativo Snapchat aprontou de novo nos últimos dias, ao dividir sua plataforma ao meio. Agora, de um lado, ficam as publicações dos amigos; do outro, os vídeos curtos de produtores profissionais, como veículos de mídia e influenciadores. Ao contrário de suas outras grandes inovações - vídeos curtos, efêmeros e cheios de filtros engraçadinhos -, copiadas rapidamente por rivais como Facebook e Instagram, esta mudança tem potencial de restringir o surgimento de influenciadores, caso vire moda internet afora.

"Queremos separar o social da mídia", disse Evan Spiegel, cofundador e presidente executivo da Snap - dona do Snapchat -, em uma referência ao popular termo "mídias sociais". Segundo ele, a reforma deve resolver dois problemas do aplicativo: em primeiro lugar, a dificuldade de uso; em segundo, a dúvida sobre quais perfis seguir - algo que será resolvido com o forte uso de algoritmos.

De quebra, com a curadoria feita pela empresa, diz Spiegel, será mais difícil veicular "notícias falsas" pelo aplicativo - não que esse seja um grande problema da rede, mais voltada para diversão do que para informação.

Barreira

No entanto, ao definir o que é bom o suficiente para estar na aba dedicada aos produtores de conteúdo, o aplicativo pode criar uma barreira quase intransponível a novos criadores, uma das forças motrizes da internet nos últimos anos. Pense no sucesso de nomes como Whindersson Nunes ou Kéfera, criados a partir do boca-a-boca da rede.

"Para quem está começando, existe um problema: como eu vou chegar na minha audiência? Com uma barreira de curadoria dessas, é complicado", reconhece a youtuber Miriam Castro, a Mikannn. "Quem está começando e quer ter um perfil influente vai ter que nadar mais forte contra a corrente", aposta Fábio Malini, professor de comunicação na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Se a ideia do Snapchat for copiada por rivais, os efeitos podem ser graves.

Segundo os especialistas ouvidos pelo jornal "O Estado de S. Paulo", é possível que o mundo dos influenciadores digitais, que atendem nichos de diferentes tamanhos, vire um pequeno clubinho, quase como nos tempos em que apenas alguns nomes iluminados pelos holofotes e câmeras de TV eram capazes de gerar influência e respeito.

A questão ganha ainda mais gravidade pelo uso de algoritmos na curadoria dos conteúdos mostrados aos usuários, o que pode aumentar o efeito de bolha já visto em outras redes sociais. "Basear nossa busca por informação em algoritmos não é o melhor caminho para uma sociedade democrática", diz Fábio Malini, da Ufes. "A curto prazo, parece ser o único jeito que a indústria achou para lidar com a profusão de conteúdo." Procurada pelo jornal "O Estado de S. Paulo", a Snap disse que pretende combinar o uso de algoritmos com curadoria humana. "Ela é capaz de nos dar a perspectiva de uma variedade de criadores e pontos de vista, protegendo nossa comunidade de bolhas", declarou a Snap, em nota.

Necessidade

Mais que uma inovação, porém, a mudança no Snapchat é um grito desesperado: após abrir seu capital em março, a Snap tem sido fortemente pressionada para ganhar usuários e começar a dar lucro. Os dois objetivos parecem longe da realidade: em um ano, o aplicativo teve apenas 25 milhões de novos usuários diários, encerrando setembro com 178 milhões de contas ativas. No mesmo período, o rival Instagram Stories foi de 0 a 300 milhões de usuários diários.

No terceiro trimestre deste ano, a Snap perdeu US$ 443,2 milhões - quase três vezes mais que o registrado no mesmo período de 2016. Além disso, a empresa foi ofuscada pelas inúmeras cópias de suas inovações feitas pelo Facebook, YouTube e outros. "O Snapchat foi inovador, mas hoje seu grau de inovação está em risco", diz Fabro Steibel, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-Rio). "Agora, eles estão correndo atrás, porque perderam influenciadores digitais." Ainda não está claro se a Snap ainda tem força para dar a volta por cima, ao mesmo tempo em que retém influenciadores e atrai novos usuários. "O problema é ela fazer isso descapitalizada", diz Edney Souza, professor da ESPM. "Não será fácil."

https://www.youtube.com/watch?v=nx1R-eHSkfM

Fonte: AE

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