Tormenta: editora de Porto Alegre expande universo de RPG e supera R$ 2 milhões em "crowfunding"

Tormenta: editora de Porto Alegre expande universo de RPG e supera R$ 2 milhões em "crowfunding"

Coleção Arton bate todas as metas e garante conteúdo adicional para público que acompanha quase 25 anos de história do jogo brasileiro

Bernardo Bercht

Equipe da editora gaúcha que expande seu universo de fantasia

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Uma empresa com sede em Porto Alegre se tornou a "matadora de gigantes" tal qual os heróis que busca atrair para seus jogos fantásticos. A Jambô Editora é a principal produtora de conteúdo para RPG do Brasil. Tal como nos jogos, ela rolou os dados em 2023, e conseguiu mais um "acerto crítico": lançou uma campanha de Crowdfunding do seu universo de fantasia "Tormenta" e já superou os R$ 2 milhões em arrecadação. A campanha de financiamento coletivo dos livros da "Coleção Arton" bateu as 26 metas projetadas pelos autores antes do encerramento neste dia 7 de junho.

A brincadeira com o "acerto crítico" fica longe da realidade, porém, do trabalho da Jambô, que chega ao seu terceiro crowdfunding milionário. Herdeira do legado da revista Dragão Brasil, que ainda é publicada em formato digital com tudo sobre RPG e cultura nerd, a empresa criou na relação com seu público uma forma de se tornar referência no Brasil e, mais que isso, concorrer de igual para igual com os jogos dos Estados Unidos, como explica o editor da Dragão Brasil, JM Trevisan, um dos criadores de Tormenta.

"Nosso diferencial é estar próximo da galera, nesses quase 25 anos. Sempre a uma rede social de distância", avalia. "A proximidade ajuda demais no financiamento coletivo. É diferente colaborar com uma corporação que não sabe o rosto do que com alguém que você conhece e cresceu vendo, sabe o que escreveu, o nome dos gatos...", brinca o autor de RPG.

A troca com os jogadores, fãs e leitores de Tormenta alimenta um jogo vivo, que se adapta. "Temos uma resposta muito boa, a gente nem sempre concorda com as ideias que a galera quer, mas vem muita coisa que bate com a proposta. Mais de uma vez mudamos conteúdo por sugestão das pessoas. Tanto no lado positivo, como negativo", comenta Trevisan.

O diretor-geral da Jambô, Guilherme Dei Svaldi, reforça essa troca com o público. "O sucesso do financiamento coletivo da Coleção Arton mostra o amor e dedicação dos jogadores brasileiros pelo universo de Tormenta", afirma.

Claro que, o sucesso das campanhas gera uma expectativa cada vez maior. A "hype" está pronta para as novas aventuras de Tormenta. "A gente acaba tendo responsabilidade de entregar um produto cada vez melhor. O pessoal está assistindo de perto o que a gente faz", pondera Trevisan. "Aperfeiçoamos o processo, de fazer o produto e de fazer o financiamento coletivo. Nesse em particular, começamos muito antes a produção, com livros e materiais que estavam sendo trabalhados anos antes até, de forma mais intensa ou não", explica o editor. "Soltamos material de muitas coisas que estão prontas, então as pessoas já tem uma confiança do que vão receber.

O "crowdfunding", contudo, segue sendo uma incógnita até que as pessoas adquiram o produto. "A gente teve que apostar que teria a resposta esperada né", comenta. "Eu sou sempre mais realista. Na primeira vez eu não tinha a menor ideia de que podia chegar longe como chegou. Agora, fica difícil imaginar que não vai tão longe. Até por ter duas experiências passadas de muito sucesso", acrescenta Trevisan. "Normalmente eu fico numas de 'putz ninguém vai comprar'. Eu trabalho com a mente de que tem só cinco pessoas lendo o que eu produzo, fico mais tranquilo. Mas dessa vez eu sabia que ia ser um sucesso."

Sucesso esperado, mas na rolagem de dados do amor dos aventureiros de Arton, ainda maior. "A gente nunca sabe onde vai parar. Minha expectativa era menor por se tratar de suplementos. Livros básicos costumam vender mais do que expansões, complementos de histórias, coletâneas de monstros. Só que nós batemos o primeiro financiamento do livro básico, o Tormenta 20. Isso é uma coisa absurda", destaca o autor. "Levantar quase 2 milhões uma vez é impressionante, duas vezes dois milhões é muito absurdo. Mas é um retrato do público que a gente soube cultivar e a confiança de uma galera que sabe que fazemos um produto original de qualidade, que ganha de muito produto gringo", aponta.

E não é da boca para fora esse embate com os jogos internacionais, liderados pelo gigantesco Dungeons & Dragons, que tem até filme recente no cinema. "Existe um site que permite conectar jogadores para jogar RPG de mesa. É uma plataforma gringa que faz métricas dos sistemas mais jogados. Tormenta vem subindo há alguns anos e chegou a ficar entre os 10 mais jogados. Vários RPGs à nossa frente são em inglês, com um público mais amplo no mundo inteiro. O nosso conta quase que só com brasileiros", sublinha Trevisan.

"É incrível, pois se um dia a gente se inspirou em jogos que chegavam aqui no Brasil, agora temos capacidade para superar até RPGs tradicionais", aposta. "A gente modernizou regras e cenários de um jeito que os gringos não conseguem e que conquistou o brasileiro. A gente pensa muito as particularidades do jogador do Brasil. As inspirações que eu tenho, mesmo montando uma cidade medieval, são as mesmas das pessoas que vivem aqui. Essa identificação faz toda a diferença."

O time de criadores, do que virou um mundo gigante de aventuras, conta com nomes como Marcelo Cassaro, Leonel Caldela, Rafael Dei Svaldi e o diretor-geral da Jambô, Guilherme Dei Svaldi. Também fazem parte dos novos livros Dan Ramos, Karen Soarele, Pietro Antognioni e Thiago Rosa; além de um grupo de escritores.


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