Usuários devem estar atentos com privacidade no ChatGPT, aponta especialista

Usuários devem estar atentos com privacidade no ChatGPT, aponta especialista

Ferramenta utiliza dados para aprimoramento de funcionalidades

Lucas Eliel

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O ChatGPT, modelo de Inteligência Artificial (IA) lançado pela startup OpenAI, é uma verdadeira febre a nível mundial. O novo recurso é capaz de dar respostas detalhadas sobre amplo leque de temas, redigir ensaios, ou criar conteúdos audiovisuais em questão de segundos, semelhantemente a interações humanas. Numa sociedade complexa, tanta tecnologia traz benefícios, mas também acende uma alerta, especialmente quando o assunto é segurança digital. 

Recentemente, a OpenAI lançou a quarta versão da ferramenta (ChatGPT-4). A atualização, conforme a empresa, é capaz de gerar informações mais completas e coesas. Uma outra novidade também é a possibilidade de analisar imagens por meio do chatbot. Ela é adquirida em assinatura diretamente pelo site da OpenAI. O upgrade, disponível pela assinatura ChatGPT Plus, custa US$ 20 (cerca de R$ 103,43 na cotação atual).

Quem não quer desembolsar o dinheiro, pode conferir uma versão gratuita parecida com o ChatGPT, presente no mecanismo de pesquisa Bing, no navegador Microsoft Edge. Para usar a modalidade, é preciso acessar o site “https://www.bing.com/new” e selecionar “chat agora”.

Bing oferece chatbot de Inteligência Artificial | Imagem: Reprodução / CP

Ao passo que a tecnologia evolui, criminosos cibernéticos também vão aprimorando seus mecanismos ilegais. De acordo com levantamento da empresa Fortinet, o Brasil foi o segundo país da América Latina com mais ciberataques em 2022 (103,16 bilhões de tentativas), atrás apenas do México (187 bilhões). 

O diretor de Tecnologia da Informação da empresa Soluti, Alexandre Torres, destaca que os usuários devem estar atentos a um fator muito importante ao acessar o ChatGPT: a privacidade. "Temos que ter consciência de que os dados colocados na ferramenta poderão e serão usados para treinar ela em novas versões", diz. Na avaliação do especialista, a necessidade de cautela é maior ainda ao compartilhar informações de empresas, pois ainda não há uma transparência da plataforma no compartilhamento destes elementos depois. 

Uma das fragilidades, conforme Torres, é o fato de o modelo de Inteligência Artificial não ter critérios solidificados na interação com os humanos. Relacionando este quadro, uma pessoa pode pedir para a plataforma, por exemplo, criar códigos maliciosos que serão utilizados numa invasão hacker e o ChatGPT atender prontamente. 

O pesquisador e membro do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), Euclides Chuma, por sua vez, avalia como válida a preocupação envolvendo o ChatGPT e segurança digital, mas aponta que até o momento a tecnologia é capaz apenas de criar softwares mal intencionados sem complexidade.

“Até agora ele (ChatGPT) não oferece perigos, digamos, criativos. Não é algo desconhecido pelo ser humano, isso é muito importante de citar", destaca. "Essa parte de malware de códigos maliciosos é tão simples que qualquer ferramenta hoje, inclusive, no celular, já consegue detectar", pontua. Na China, o ChatGPT não pode ser acessado sem um programa VPN permitindo ocultar o local de onde o usuário se conecta. Em outro continente, a União Europeia trabalha há mais de um ano em um regulamento do uso da Inteligência Artificial.

Educação 

Como o ChatGPT consegue produzir textos complexos, o setor da educação se mostra receoso com a evolução da tecnologia vinculada ao velho problema do plágio. Professores temem que os alunos usem o recurso para trapacear na elaboração de redações inteiras, por exemplo. 

Chuma, no entanto, chama atenção para a existência de softwares capazes de fazer a detecção dos plágios. Na visão do estudioso, o "x" da questão não está na tecnologia em si, mas no mau uso por parte da população, e proibir o recurso aos estudantes só traria atrasos. “O ChatGPT vem para melhorar o ensino e a sociedade. Sem esse recurso, você está colocando o aluno em desvantagem. Me lembro bem quando eu era estudante e não podia usar computador porque tinha o corretor automático, e hoje todo mundo usa", relaciona. 

Como possível alternativa para os educadores, Chuma afirma que ele pode ser utilizado na geração de  pesquisas antes de debates em sala de aula. Em outro uso, o ChatGPT é capaz de eceber comandos com o objetivo de corrigir provas, assim, desafogando a rotina dos professores. 

Mercado de trabalho

O mercado de trabalho está em constante evolução e provoca uma série de debates sobre a manutenção de empregos. Em Porto Alegre há toda a questão envolvendo os cobradores, que diminuíram significativamente nas linhas de ônibus após a modernização na forma de pagamento das passagens. O modelo de supermercados também tem sofrido alterações. Ao ir fazer as compras para casa, há os que estão abrindo mão dos “caixas” e optando por tokens, onde as pessoas podem elas mesmas passar os produtos. 

Os exemplos de modificações nas profissões são muitos, e inevitavelmente o ChatGPT também deve interferir ao menos em adaptações das carreiras. Um estudo realizado pela empresa Sortlist fez um questionário a 500 usuários funcionários e empregadores de seis países diferentes. A pesquisa demonstra que 23% dos funcionários na indústria de software e tecnologia estão preocupados em perder o emprego por causa do novo recurso, ao passo em que 26% dos líderes do mesmo setor realmente pensam em cortes de equipe a partir da evolução da ferramenta. 

Um dos ramos com mais insegurança quando o assunto é ChatGPT é o marketing. Conforme o levantamento, 51% dos empregadores que estão considerando reduzir o número de funcionários pertencem ao ramo. Na percepção dos trabalhadores do setor, no entanto, apenas um quarto crê em redução de força de trabalho. Na educação, o estudo aponta que professores não devem ficar muito preocupados com cortes, pois não é uma prioridade dos empresários. Mesmo assim, 31% dos profissionais do ensino temem perder empregos. 

Chuma não acredita em uma grande transformação no mercado de trabalho do "dia para a noite". Segundo ele, modificações na carreira não irão acontecer necessariamente em razão do ChatGPT, pois em sua análise faz parte da sociedade a tecnologia como um todo ir alterando a forma como a sociedade executa as tarefas profissionais. “Quando abriu a internet ao público em 1996, e as pessoas podiam usar e-mail, muitos acharam que a profissão de carteiro ia acabar. O que aconteceu foi que hoje a gente precisa mais do que nunca de sistemas de serviço de entrega de produtos", justifica.

ChatGPT deve modificar rotina dos funcionários | Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil / CP

De acordo com o estudioso, é imprescindível a população compreender que o ChatGPT veio fornecer ajuda às pessoas em diferentes aspectos do cotidiano. Já o diretor da Soluti, Alexandre Torres, demonstra maior preocupação, pois em sua análise, a Inteligência Artificial caminha a passos muito largos. “Imagina daqui a pouco quando a IA estiver interagindo com coisas físicas no mundo. O problema de segurança veio para ficar, vamos nos preocupar todos os dias porque confiar na boa fé de empresas privadas é complicado", expressa. 

O ChatGPT provocou uma verdadeira corrida em razão de suas inovações. O Baidu foi um dos primeiros grupos chineses a se posicionar para oferecer um equivalente ao popular chatbot americano, o Ernie Bot. A Meta já apresentou o seu modelo de inteligência artificial, chamada LLaMA, como um modelo "menor e de maior desempenho" projetado para "ajudar os pesquisadores a avançar em seu trabalho", no que poderia ser considerada uma crítica velada à decisão da Microsoft de divulgar amplamente a tecnologia enquanto mantém em sigilo o código de programação.

O Google lançou para o público em geral nos Estados Unidos e no Reino Unido seu robô conversacional Bard. O recurso foi inicialmente limitado a "testadores de confiança", mas agora está disponível para o público em geral. No entanto, por enquanto, o número de acessos é limitado, há uma lista de espera e só estão inclusos usuários nos Estados Unidos e no Reino Unido.


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