Lideranças políticas e sociais cobram solução para crise do atendimento oncológico no Vale do Sinos

Lideranças políticas e sociais cobram solução para crise do atendimento oncológico no Vale do Sinos

Pacientes precisam viajar até 150 quilômetros para o tratamento

Correio do Povo

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Pacientes oncológicos de Novo Hamburgo precisam viajar 90 quilômetros até o Hospital Bom Jesus, em Taquara, para receber atendimento pelo SUS. Destino semelhante acontece com os moradores de São Leopoldo que têm câncer nas regiões da cabeça e do pescoço e só são atendidos em Santa Cruz do Sul, distante 150 quilômetros. Por proposição do deputado Dr. Thiago Duarte (União), a situação foi debatida em audiência pública da Comissão de Saúde e Meio Ambiente, na manhã desta quarta-feira (13).

Um novo encontro deverá ocorrer em fevereiro, em Novo Hamburgo ou São Leopoldo, para analisar alternativas com o objetivo de reduzir as dificuldades impostas aos doentes e facilitar o atendimento. Antes disso, as equipes das Secretarias de Saúde dos dois municípios e gestores da Secretaria Estadual da Saúde realizarão reuniões técnicas para desenhar uma solução e, só então, submetê-la a uma segunda audiência pública. “Começamos a construir hoje um caminho de entendimento, que vai favorecer muito os pacientes oncológicos do Vale do Sinos”, comemorou o proponente da audiência ao finalizar a reunião.

Uma das possibilidades aventadas por lideranças políticas e sociais da região é que os pacientes de Novo Hamburgo sejam atendidos, temporariamente, no Centro Oncológico do Hospital Centenário, em São Leopoldo, distante nove quilômetros. “É uma saída viável, enquanto o anexo 2 do Hospital Municipal de Novo Hamburgo está em construção. Nossa luta é para habilitar o local para o atendimento oncológico em nossa cidade”, afirmou a presidente da Liga de Combate ao Câncer de NH, Regina Dau.

A alternativa é bem-vista pelo médico Abalderto Broecker Neto, que coordena o Centro Oncológico do Centenário. “Muitas vezes, os pacientes viajam longas distâncias para um atendimento que leva cinco minutos, como é o caso da radioterapia. Isso gera diversos outros problemas na área familiar e mesmo no trabalho”, constatou. O Centro atende pacientes oncológicos de 21 municípios, que agregam uma população de um milhão de pessoas. As únicas especialidades que ficam de fora são as neoplasias do pescoço e da cabeça. “Não temos portas abertas. Por uma questão de regulação, não podemos atender Novo Hamburgo”, explicou.

Desabilitação

A crise no atendimento oncológico no Vale do Sinos se acirrou há um ano e oito meses, quando o Hospital Regina, de Novo Hamburgo, se desabilitou para este tipo de serviço. Os pacientes do município acabaram sendo encaminhados para o Hospital Bom Jesus, de Taquara, que, segunda a Secretaria Estadual de Saúde, foi o único na época a se dispor a receber cerca de 1.300 pacientes oncológicos já com o tratamento em andamento.

“Fomos surpreendidos com um ofício do Hospital Regina, pedindo a desabilitação, e tivemos de organizar o acesso de pacientes da noite para o dia para não interromper o tratamento. O único hospital que se dispôs a absorver esta demanda foi o de Taquara”, afirmou a representante da Secretaria Estadual da Saúde, Sheila Ferreira.

Ela revelou ainda que, após uma avaliação minuciosa do atendimento oncológico no RS, a SES solicitou ao Ministério da Saúde a ampliação dos valores para custear a Atenção Especializada da Saúde. Todas as unidades oncológicas, segundo ela, receberam uma fatia dos recursos. Lembrou também que está em vigência Programa do Tribunal de Justiça, que destinou R$ 95 milhões para o atendimento oncológico no estado.

Pressão

Lideranças sociais e políticas do Vale do Sinos cobraram na audiência mais atenção para a região. “Nossa população está submetida a uma situação completamente desumana. A todos os sintomas da doença se somam os transtornos de uma viagem e a longa fila de espera na regulação para ter acesso à primeira consulta com um oncologista”, criticou o vereador de Novo Hamburgo, Raizer Ferreira (PSDB).

Além das dificuldades de acesso ao tratamento, o vereador de São Leopoldo Gabriel Dias (Cidadania) afirmou que há ainda falta de acesso aos exames para a realização do diagnóstico. “No Outubro Rosa, o município não tinha médico para fazer colposcopia (avaliação do colo do útero). E as biópsias são feitas em outras cidades”, denunciou.

Regina Dau revelou ainda que os pacientes encaminhados a Taquara são transportados pela prefeitura e aguardam pelo horário de atendimento, no sol e na chuva, na frente do hospital. Também participaram da audiência o deputado Adão Pretto Filho, a secretária adjunta de Saúde de São Leopoldo, Fabiane Oliveira, e o vereador de Novo Hamburgo Ênio Brizola, além de integrantes de entidades sociais.


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