Bombardeios turcos deixam 14 civis mortos na Síria
Curdos acusam forças da Turquia de violar cessar-fogo
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Os bombardeios das forças turcas mataram nesta sexta-feira 14 civis no norte da Síria, afirmou uma ONG, com o presidente turco reiterando as suas ameaças contra as forças curdas no dia seguinte ao anúncio de uma trégua. A operação lançada pela Turquia em 9 de outubro com o apoio de rebeldes sírios abriu uma nova frente de combate na Síria, em guerra desde 2011, onde as forças curdas parceiras dos ocidentais na luta contra o grupo Estado Islâmico (EI) acusaram os EUA de as terem abandonado.
Na quinta-feira à noite, após uma intervenção diplomática americana, a Turquia aceitou suspender durante cinco dias a sua ofensiva, exigindo a retirada das forças curdas de sua fronteira. Mas nesta sexta, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan ameaçou retomar a ofensiva, se as "promessas" não forem cumpridas até terça-feira à noite. No terreno, as operações militares prosseguem. Os ataques da aviação turca e disparos de morteiros de seus aliados sírios mataram 14 civis e 8 combatentes curdos na cidade de Bab al-Kheir e seus arredores, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH). Os curdos denunciaram uma violação do cessar-fogo.
"Os bombardeios e disparos continuam tendo como alvos combatentes, a população civil e o hospital" de Ras al-Ain, denunciou Mustafá Ali, porta-voz militar curdo. Combates esporádicos continuam em Ras al-Ain. Uma correspondente da AFP, presente do lado turco da fronteira, escutou explosões e tiros de artilharia, e viu colunas de fumaça do lado sírio da fronteira. A ofensiva permitiu a Ancara conquistar uma faixa de 120 km na fronteira, indo de Tal Abyad a Ras al-Ain.
A ONG Anistia Internacional acusou o Exército turco e os rebeles pró-turcos de "desprezar a vida dos civis", citando "provas claras de crimes de guerra". As autoridades curdas já acusaram Ancara de utilizar armas não convencionais, como napalm, o que a Turquia negou. A operação turca já matou 86 civis e 239 combatentes das Forças Democráticas Sírias (FDS, compostas principalmente pelas forças curdas), segundo o último balanço do OSDH, que informa a morte de 187 combatentes pró-turcos. Cerca de 300.000 pessoas foram deslocadas pelos combates.
"A situação é bastante óbvia. Esse chamado 'cessar-fogo' não é o que esperávamos. Na verdade, não é um cessar-fogo, é uma exigência de capitulação", disse o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk. O presidente francês Emmanuel Macron anunciou que "em breve" a chanceler alemã Angela Merkel, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson e ele próprio se encontrarão com Erdogan.
Nesta sexta, Donald Trump disse que Erdogan garantiu a ele que aplicaria o "cessar-fogo". "Ele realmente quer que o cessar-fogo ou a trégua funcione. Os curdos também querem que isso aconteça. Há boa vontade de ambos os lados e uma chance muito boa de sucesso", escreveu no Twitter.
Just spoke to President @RTErdogan of Turkey. He told me there was minor sniper and mortar fire that was quickly eliminated. He very much wants the ceasefire, or pause, to work. Likewise, the Kurds want it, and the ultimate solution, to happen. Too bad there wasn’t.....
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) October 18, 2019
"Alguns" países europeus, disse o presidente sem mencioná-los, "agora estão dispostos, pela primeira vez", a repatriar os combatentes do EI detidos na Síria. "São boas notícias, mas deveriam ter ocorrido depois que NÓS os capturamos", ressaltou. Na quinta-feira, Trump comemorou a trégua anunciada, antes de explicar que ele havia deixado os turcos e os curdos se lançarem nessa batalha, "como dois garotos" que "precisam brigar um pouco" antes de serem "separados".
....I have just been notified that some European Nations are now willing, for the first time, to take the ISIS Fighters that came from their nations. This is good news, but should have been done after WE captured them. Anyway, big progress being made!!!!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) October 18, 2019
O acordo turco-americano prevê o estabelecimento de uma "zona de segurança" de 32 km de extensão em território sírio, da qual as forças curdas devem se retirar. O objetivo é afastar a milícia curda das Unidades de Proteção do Povo (YPG), mas também instalar parte dos 3,6 milhões de refugiados sírios que vivem na Turquia. Sob um acordo com as forças curdas, o regime de Damasco retornou a áreas que havia perdido há anos para os curdos e Moscou preencheu o vazio deixado pelas forças americanas. Quanto aos países ocidentais, eles temem o ressurgimento do EI, que se beneficiaria do caos de segurança provocado pela ofensiva.