Altos preços do trigo freiam comercialização

Altos preços do trigo freiam comercialização

Moinhos têm optado por fazer compras pontuais do grão e produtor monitora cenário aguardando cotações ainda melhores

Cíntia Marchi

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Os altos preços do trigo no Rio Grande do Sul, mesmo com alta disponibilidade do grão por conta da finalização da colheita, têm deixado a comercialização do grão mais lenta. Os moinhos não estão fazendo estoques, segundo o Sindicato da Indústria do Trigo no Estado (Sinditrigo). As compras são pontuais para atender a demanda de moagem de, no máximo, 15 dias. “Este ano rompeu com uma tradição, de preços mais baixos na entrada da safra”, destacou o presidente do Sinditrigo, Diniz Furlan.

De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), na parcial deste mês, o preço médio do trigo no Rio Grande do Sul superou a cotação média do grão no Paraná, um cenário atípico, poucas vezes visto na série histórica. “Este é um ano espetacular para a cultura em termos de comercialização”, define o consultor Carlos Cogo, ao apontar que, nos últimos 12 meses, o preço do trigo se valorizou 67%.

Assim como a indústria moageira travou as compras, o consultor diz que o produtor também tem aguardado condições ainda melhores de preço para vender a safra, fazendo com que neste momento as negociações estejam transcorrendo de forma lenta. Cogo lembra que nas últimas semanas a cotação sofreu uma retração, passando de R$ 1,4 mil a R$ 1,5 mil por tonelada (de R$ 84 a R$ 90 por saca) para R$ 1,3 mil a R$ 1,35 mil por tonelada (R$ 78 a R$  81 por saca), na região de Passo Fundo. “No curto prazo, o produtor não deve esperar novas altas de preços”, previu, ao lembrar que o dólar começou a ceder e há previsão de chegada de trigo importado.

O presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro), Paulo Pires, acredita que os triticultores gaúchos têm ainda para negociar um volume de cerca de 1 milhão de toneladas. Nos cálculos da entidade, outras 900 mil toneladas serão destinadas para exportação e um terço da produção estimada foi frustrada por conta das geadas de agosto e estiagem na reta final da safra. O Sinditrigo concorda com os números e estima que o volume restante de trigo no Estado tem capacidade para abastecer os moinhos até junho de 2021.


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