Brasil aposta em fertilizantes naturais para reduzir dependência russa

Brasil aposta em fertilizantes naturais para reduzir dependência russa

País é o quarto consumidor mundial de fertilizantes químicos NPK (nitrogênio, fósforo e potássio)

AFP

Ministério da Agricultura liberou registro de mais 36 agrotóxicos

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Diante do risco de escassez de fertilizantes e do aumento de preços após as sanções contra a Rússia, o setor agrícola brasileiro recorre a soluções alternativas naturais para reduzir os custos de produção e garantir as safras.

O Brasil é o quarto consumidor mundial de fertilizantes químicos NPK – nitrogênio, fósforo e potássio –, utilizados nas culturas de soja, milho, algodão, cana de açúcar e café.

O país importa cerca do 80% desses insumos, e quase um quarto destes vêm da Rússia, o seu principal fornecedor. Enquanto o governo brasileiro negocia com outros fornecedores estrangeiros, principalmente Canadá, Jordânia, Egito e Marrocos, e busca reativar a produção nacional de fertilizantes, os agricultores começam a se interessar pelos chamados produtos "emergentes".

Entre eles estão os remineralizadores naturais obtidos a partir de rochas ricas em nutrientes, trituradas e depois aplicadas nos campos antes da semeadura.

Embora outros países, como França, Estados Unidos, Canadá, Índia ou Austrália utilizem estes remineralizadores, o Brasil, uma potência agrícola de primeira grandeza, é o mais avançado nesta área.

"O Brasil é um país tropical e as chuvas carregam os nutrientes dos solos embora. O pó de rocha reconstrói os solos, o que permite a renovação de seu bioma e melhora suas performances", explica à AFP Márcio Remédio, diretor de geologia e recursos minerais do Serviço Geológico do Brasil, vinculado ao Ministério de Minas e Energia.

Aprovados como insumo agrícola por uma lei de 2013, os remineralizadores "permitem às raízes se desenvolver mais e captar os nutrientes que fortalecem o desenvolvimento vegetal", assinala Suzi Huff Theodoro, geóloga e pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB).

"Rochas com perfis adequados são disponíveis em várias partes do país e o custo desse material é significativamente mais barato" que os químicos, acrescenta. O pó pode, por exemplo, ser produzido por empresas mineradoras a partir de seus resíduos, sempre que estes não contenham certos elementos potencialmente tóxicos.

Sem mais fertilizantes químicos

De acordo com um estudo realizado no ano passado, os remineralizadores são utilizados em quase 5% da área agrícola do Brasil. Até o fim deste ano, esse número será muito mais significativo, pois a demanda junto aos 30 fornecedores brasileiros reconhecidos disparou para um nível sem precedentes.

"A maioria deles já vendeu o total da produção deste ano, tanto para o agronegócio e fazendeiros médios como agricultores pequenos, entre estes particularmente os agroecológicos", afirma a pesquisadora da UnB.

Fundador do Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS), que reúne mais de 700 agricultores, pesquisadores e consultores, o produtor de soja e milho Rogério Vian começou utilizando produtos elaborados com micro-organismos extraídos da floresta nativa, pulverizados na época da semeadura.

Estes servem para controlar pragas e ajudar as plantas a assimilar os nutrientes do solo. Há nove anos, Vian prepara seus próprios insumos orgânicos e combina os mesmos com remineralizadores em sua fazenda em Goiás.

Agora, em seus 1 mil hectares, já quase não utiliza fertilizantes químicos e, inclusive, nenhum para o cultivo de soja.

"Tive uma redução de 50% do meu custo com adubação e tratamento das sementes, e minha produtividade se manteve", afirma. "O Brasil tem uma mega biodiversidade e um potencial enorme de ferramentas e jeitos de trabalhar, que não sabemos ainda que existem", acrescenta.

Evolução irreversível

Para José Carlos Polidoro, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o país seguirá consumindo fertilizantes NPK, mas também deverá apostar nos produtos naturais.

"Os fertilizantes orgânicos e organominerais, feitos com resíduos minerais, resíduos orgânicos da agroindústria e lodo de esgoto, ocupam hoje 5% do mercado brasileiro de fertilizantes, mas têm potencial para diminuir em 20% nossas importações", estima Polidoro.

O diretor técnico adjunto da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Reginaldo Minaré, também cita o uso crescente, por parte dos produtores de soja, de rizobactérias "que retiram o nitrogênio do ar e entregam para as plantas, muito utilizadas na cultura de soja", reduzindo assim o consumo de fertilizantes nitrogenados industriais.

Contudo, a crescente adoção desse tipo de produto não está isenta de obstáculos, destaca Carlos Pitol, consultor técnico no Mato Grosso do Sul e membro do GAAS.

"Os produtores encontram dificuldades com as fontes de financiamento para investir mais e com a pouca disponibilidade de orientação técnica. Porém, a mudança de sistema de produção vai crescendo e é de forma irreversível", ressalta.

 


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