Carne e “carne”: a disputa pelo mercado e a preferência dos consumidores

Carne e “carne”: a disputa pelo mercado e a preferência dos consumidores

Novidades na produção de frangos e suínos, e produtos plant-based, foram apresentados na SIAL, em Paris

Guilherme Baumhardt

Novidades na produção de frangos e suínos, e produtos plant-based, foram apresentados na SIAL, em Paris

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Para quem gosta de um bom churrasco, chega a ser uma heresia. Mas aquilo que muitas vezes rende debate e até discussão tem uma convivência pacífica nos pavilhões do Salão Internacional da Alimentação (SIAL), em Paris. No mesmo espaço, estão expostas novidades da produção tradicional. Cortes de carne bovina, com maior grau de marmoreio (gordura entremeada nas fibras, o que confere sabor e maciez). Ou ainda a produção dry-aged, um processo de maturação a seco da carne. Além, é claro, das novidades na produção de frangos e suínos.

Entre estes estandes há também (cada vez mais) a presença de fabricantes de produtos plant-based (à base de vegetais). São hambúrgueres feitos de beterraba. “Atum” com forma, cheiro e sabor de atum verdadeiro, mas que não vem do mar. E, claro, produtos que remetem às carnes de gado, galinha e porco. A base utilizada varia bastante, mas em geral são utilizados grãos de soja ou feijão. O preparo para consumo também é similar. Podem ser feitos na frigideira ou assados. E a procura pela novidade é grande, claro, fruto da grande curiosidade dos visitantes.

O valor ainda é alto. Uma bandeja com dois hambúrgueres (220g) plant-based custa, em média, quatro euros. Fazendo a conversão para real, temos o custo por quilo na faixa de 95 reais. Quem trabalha na área garante: quando houver escala, os preços cairão.

Este jornalista experimentou. Gosto não se discute, mas o fato é que os produtos de origem vegetal estão cada vez mais próximos em textura e sabor dos “originais”. Para algumas coisas, porém, ainda não há solução. Dificilmente você conseguirá comer uma “carne” vegetal mal passada. Mas recomenda-se não duvidar de que este dia possa chegar em breve, tamanho é o investimento da indústria no sentido de aprimorar o segmento. Prova disso é que a Tyson Foods, empresa norte-americana líder mundial na produção de frango, aposta pesado na subsidiária Beyond Meat (“além da carne”, em tradução livre), que trabalha em produtos de origem vegetal.

Como reação há a defesa veemente da produção animal tradicional, vítima de críticas, nem sempre verdadeiras (a mais recente diz respeito à emissão de gases causadores do efeito estufa, algo rebatido com dados e números pela ciência pelo setor produtivo). Em estandes tradicionais, há cartazes como “tenha orgulho da carne”, de produtores europeus. Ou ainda, no caso brasileiro, um imenso outdoor com a seguinte mensagem: “Carne bovina brasileira: alimentando o mundo de maneira sustentável”.

Brasileiros mundo afora

Formada em comércio exterior pela PUCRS, há nove anos a gaúcha Muriel Camardelli dedica seu trabalho ao grupo italiano Cremonini, que tem sob sua alçada empresas ligadas ao ramo da alimentação (embutidos, enlatados, carnes), além de mais de 100 restaurantes espalhados pelo mundo. Nascida em Porto Alegre e com cinco idiomas na ponta da língua, já morou em países da África e Europa. Hoje divide seu tempo na ponte aérea entre São Paulo e a Itália, atuando na área de representação comercial. Atualmente participa diretamente da compra de carne brasileira para os mercados europeu (incluindo Rússia) e africano, além de levar ao Brasil produtos especiarias e vinagres especiais.

Premiados

Uma iniciativa da SIAL ganha destaque. Uma comissão julgadora avalia as inovações mais interessantes, dando preferência para empresas de pequeno porte, que estão começando. Na edição deste ano os vencedores foram britânicos, que passaram a produzir alimentos com algas marinhas (ainda bastante restritas à culinária oriental). Ricas em cálcio e magnésio, as plantas levam seis meses para ficarem prontas para a “colheita”. Este jornalista experimentou. Lembra espinafre, mas com um toque de mar. O troféu de bronze ficou com argentinos (da empresa Las Marias, que fabrica a erva-mate Taragüi), que desenvolveram um kit para popularizar o chimarrão. A empresa, que completa 100 anos em 2024, criou uma caixa com copo e bomba de plástico, que traz instruções sobre como preparar o mate – tão comum e familiar para gaúchos, argentinos, uruguaios e paraguaios, com suas pequenas variações regionais.


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