Consumo em alta é um dos primeiros reflexos da queda no juro

Consumo em alta é um dos primeiros reflexos da queda no juro

Tendência é de que a economia seja aquecida até o Natal

Karina Reif

Frutas, hortaliças, ovos, café, entre outros itens orgânicos, são comercializados no espaço

publicidade

Começam a ser sentidos os primeiros reflexos do processo de queda da taxa básica de juros. A Intenção de Consumo das Famílias (ICF) atingiu em agosto o maior nível desde 2015, crescendo 1,4% na comparação com julho e chegando a 101,1 pontos. Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que elabora o indicador, o resultado superior a 100 pontos indica otimismo. O Consumo nos Lares Brasileiros, medido pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras), também registrou alta. O aumento foi de 4,24% em julho, na comparação com o mês anterior. 

A tendência é que a economia seja aquecida até o Natal, quando a Selic, que recuou meio ponto, de 13,75% para 13,25% ao ano, já terá sofrido outros cortes, prevê o professor de economia da Escola de Negócios da PUCRS, Gustavo Inacio de Moraes. “Esperamos, até lá, quedas de 0,5 ponto percentual (a cada mês). Uma boa sinalização do ritmo de consumo é o Dia da Criança”, analisou, explicando que, com a taxa básica menor, o crédito fica mais barato, o que incentiva as compras, especialmente as no crédito e as parceladas, hábito já consolidado dos brasileiros.

Pesquisa realizada pela Serasa este ano mostrou 73% dos respondentes adotam o parcelamento como método de compra e pagamento, sendo que 23% o fazem apenas por costume  e 30% para aumentar o poder de consumo. Outros 30% disseram que têm a sensação de que é melhor dividir o pagamento ao longo do tempo. "Esses três números mostram a falta de educação financeira”, afirmou o gerente da Serasa, Thiago Ramos, alertando para o risco do comprometimento da renda.

Contudo, a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada no começo de agosto, identificou diminuição no nível de endividamento das famílias brasileiras. Foi o primeiro recuo em sete meses, 0,4 ponto percentual (p.p.) na comparação com o mês anterior (78,5%).

A CNC avalia que a queda da inadimplência melhore o acesso ao crédito. “A gente espera que, com os programas de renegociação de dívida (Desenrola Brasil, lançado pelo governo federal) e com a redução desses juros de forma mais continuada, haja melhora no cenário para inadimplência e para o endividamento que, de fato, forneçam as condições, via crédito, para esses consumidores poderem consumir. A tendência é que esse indicador de acesso ao crédito melhore até o fim do ano e que a gente tenha uma intenção de consumo crescente”, analisa a economista responsável pela pesquisa, Izis Ferreira.

Contrariando a média da Intenção de Consumo das Famílias nacional, no Rio Grande do Sul, o índice caiu.  A redução de 5,2% pode indicar uma cautela maior dos gaúchos. “A proporção de endividados no RS é uma das mais elevadas entre todas as unidades da federação”, informou Ferreira. Contudo, da proporção de consumidores, por estado, que afirmaram não ter condições de pagar dívidas de meses anteriores em junho, o Rio Grande do Sul está em penúltimo lugar, com 2,2%. Uma das explicações é que os gaúchos, mesmo com a renda comprometida com os pagamentos, estão conseguindo organizar as finanças e ainda têm crédito.   

Desde janeiro de 2022, o indicador de consumo nacional tem apresentado altas mensais. Ferreira aponta outros fatores que podem estar influenciando. A perda de força da inflação é um deles. Mesmo que o IPCA, a inflação oficial, tenha subido ligeiramente de 2,87% no ano em junho para 2,99% em julho, últimos dados disponíveis, o indicador de preços está dentro da meta perseguida pelo Banco Central, já que os 3,25% de "centro de meta" estão levemente acima dos 2,99% apurados, e há também uma tolerância de até 1,5 ponto percentual, o que seria o "teto da meta", definido em 4,75%.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, recentemente falou à imprensa sobre o cálculo que mostra a diferença de 10,26 pontos entre os 13,25% ao ano da taxa de juros Selic e os 2,99% ao ano do IPCA. Ele analisa que o juro real do Brasil segue entre os maiores do mundo e que, portanto, haveria espaço para novas baixas na Selic.

Considerando-se a dinâmica da inflação, especialistas observam que os preços estariam sob relativo controle. Por isso, seria possível promover mais cortes na Selic nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Juros em trajetória de baixa podem significar mais procura por crédito e mais consumo para auxiliar no desenvolvimento econômico. Desde que feito de forma ponderada, avaliam especialistas, o consumo pode impulsionar a economia sem estourar metas de inflação, um dos requisitos para que se possa promover redução da taxa básica.

A dinâmica favorável no mercado de trabalho no âmbito nacional também colabora para o otimismo dos consumidores. Quatro em cada dez entrevistados (42,5%) indicaram que estão mais seguros no emprego em relação ao ano passado. Esse é o percentual mais alto desde março de 2015. “Os consumidores têm apontado maior segurança no emprego. Tanto a segurança no emprego quanto uma melhora da percepção sobre a renda atual têm levado essa intenção de compras a crescer nos últimos meses”, explicou.

Caso o interesse pelas compras siga crescendo, haverá impacto positivo em vários setores. O crédito imobiliário deve favorecer a compra da casa própria, por exemplo. “Com o crédito barateado, estamos esperando uma melhora para o comércio, para a indústria e, sobretudo, para a construção civil”, declarou Moraes.


Comportamento individual também exerce influência

Se o cenário econômico influencia nas escolhas individuais, o inverso também é válido, conforme observa a professora da Escola de Negócios da Fadergs Janine Rocha. Ela, que pesquisa comportamento de consumo, explica que isso ocorre de forma cíclica e o fator cultural, muitas vezes, muda.

“O brasileiro sempre teve a compra da casa própria no radar, por exemplo, mas ano após ano, essa busca tem caído. No primeiro trimestre do ano passado, 44% das pessoas pretendiam ter um imóvel próprio, e esse número caiu para 40% no início deste ano”, informou, atribuindo a mudança a alguns fatores. “A renda familiar sofreu uma redução bastante grande nos últimos anos. Quando eu adquiro um imóvel, eu comprometo os rendimentos mensais”, disse.

A professora ainda identificou que há uma tendência geral por possuir menos e usufruir mais. “Isso quer dizer deixar de comprar e passar a usar”, explicou. Ela entende que o movimento vem junto com a procura de aluguel de imóveis por períodos curtos, locação de roupas, de carros e até de celulares. "Como o preço de venda de alguns ítens é muito alto, quando não se tem condições de comprar, se loca. Isso ainda aparece de forma tímida, mas acredito que ainda vá crescer. O brasileiro ainda se sente confortável e seguro quando tem uma casa própria e um carro próprio, por exemplo”, ponderou. 

Rocha lembrou também que houve uma modificação na permanência das pessoas nas casas dos pais. “Estão demorando mais para sair, ao redor dos 30, e antes isso acontecia com uns 18 ou 19 anos. Hoje estão ficando mais, porque estão se formando, estudando, concluindo a graduação e, às vezes, a pós-graduação”, observou, afirmando que isso impacta também no cenário econômico.

“Os pais estão assumindo as contas domésticas e esses filhos têm maior renda e poder de guardar dinheiro. Então, eles acabam economizando e não gastando. Quando eu guardo dinheiro e o dinheiro não circula, eu estou deixando de circular moeda e a circulação de moeda é importante para a economia, inclusive para a redução de juros”, avaliou.


Azeite gaúcho conquista prêmio internacional

Produzido na Fazenda Serra dos Tapes, de Canguçu, Potenza Frutado venceu em primeiro lugar na categoria “Best International EVOO” do Guía ESAO

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895