person Entrar

Capa

Notíciasarrow_rightarrow_drop_down

Esportesarrow_rightarrow_drop_down

Arte & Agendaarrow_rightarrow_drop_down

Blogsarrow_rightarrow_drop_down

Jornal com Tecnologia

Viva Bemarrow_rightarrow_drop_down

Verão

Especial

Crises econômicas serão cada vez mais frequentes, aponta especialista

Instabilidades são causadas em parte pelo avanço da tecnologia e postura mais conservadora de investidores

| Foto: Timothy A. Clary / AFP / CP

As falências do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank, nos Estados Unidos, têm causado instabilidade no mercado internacional, com os bancos fazendo uma verdadeira corrida para o sistema econômico mundial não sofrer maiores danos. O SVB, focado em atender startups do ramo tech, entrou em colapso após uma retirada maciça de depósitos, levando os reguladores financeiros a assumirem o controle da entidade. De acordo com o economista e professor da Universidade Feevale, José Antonio Moura, a situação alimenta o debate sobre o fato de as crises econômicas se tornarem cada vez mais frequentes, em razão dos avanços tecnológicos que inevitavelmente causam insegurança. 

Boa parte dos investidores toma uma posição mais conservadora e menos arrojada, contribuindo para uma diminuição no crescimento econômico. "Vamos ter nos acostumar com crises porque tudo está mudando rapidamente", destaca. 

A Corporação Federal de Seguro de Depósitos (FDIC) informou que irá responder por todos os depósitos do SVB, incluindo aqueles que superarem o limite de proteção, de US$ 250 mil. As ações de outro banco, o Credit Suisse, da Suíça, chegaram a cair até 30% nessa quarta-feira, com a ação da organização atingindo um mínimo histórico de 1,55 franco suíço. 

Nessa quinta, um grupo de 11 bancos dos EUA, incluindo os gigantes bancários JPMorgan Chase, Bank of America, Citigroup e Wells Fargo, prometeu injetar US$ 30 bilhões no First Republic Bank, banco regional estadunidense que vinha enfrentando dificuldades desde as recentes quebras do SVB e do Signature Bank.

Imagem: Jean-Michel Cornu, Maria-Cecilia Rezende, Jonathan Walter / AFP / CP

Temor sobre nova crise

O desequilíbrio observado nos bancos levantou um temor sobre uma possível nova crise econômica mundial como a de 2008, na ocasião tendo como pontapé uma bolha imobiliária nos Estados Unidos, quando os valores dos imóveis subiram significativamente e não foram acompanhados por uma elevação na renda da população. Segundo Moura, não é do interesse dos bancos que outras instituições financeiras quebrem, pois eles emprestam dinheiro uns aos outros, inclusive no Brasil. 

A tendência, conforme José Antonio Moura, é que o quadro visto nos bancos não demore a normalizar, pois as instituições financeiras estão se mostrando determinadas a trazerem solidez para o mercado internacional. Ao analisar a economia, contudo, é preciso olhar além das organizações bancárias, levando em consideração fatores como a inflação ao redor do mundo e o orçamento da população, especialmente após o período mais intenso da pandemia de Covid-19. 

Riscos no Brasil 

Nessa quarta, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que está acompanhando com sua equipe a crise no Credit Suisse. Questionado por jornalistas se ele havia entrado em contato com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para falar sobre o assunto, ele sinalizou positivamente.

Moura avalia o sistema bancário brasileiro como um dos mais desenvolvidos a nível mundial. Conforme relata, o Banco Central do país está sempre verificando como está a conjuntura das instituições e qualquer anormalidade será notada por meio de alertas. "O Brasil é um modelo de sistema financeiro no mundo. Acredito que temos gente capacitada e não é só questão de governo, é de quem está no BC", aponta. 

Polêmica envolvendo taxa básica de juros e independência do BC

A taxa básica de juros do Brasil, a Selic, foi mantida em 13,75% este ano e provoca até o momento embate entre a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o Banco Central. Ela é o principal instrumento que o governo federal usa para controlar a inflação, pois em alta desestimula o consumo e deixa o crédito mais caro. O mecanismo, por outro lado, chama atenção de investidores no mercado brasileiro. "Tem que baixar os juros, mas também a economia necessita melhorar para que o BC tome ações compatíveis", argumenta o economista. 

A Selic alta tem sido apontada por Lula como um agravante gerado pela independência do BC. Conforme Moura, para um melhor funcionamento de um país, o ideal é que o Banco Central realmente continue com autonomia. "Embora alguns achem que o governo tenha que controlar o dinheiro, isso não é o ideal. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Federal Reserve (Banco Central de lá) atua sem nenhuma intervenção do presidente Joe Biden. Eles têm que conversar, mas precisa haver o poder de convencimento e tudo sai por uma nota técnica", explica. 

Sede do Banco Central, em Brasília (DF) | Foto: Marcello Casal Jr. / Agência Brasil / CP

Cuidados para os correntistas 

Se os bancos se emprestam dinheiro, grande parte dele é oriundo dos correntistas que depositam suas remunerações. Uma instabilidade em um banco explica o temor das pessoas em sacarem dinheiro rapidamente do SVB, pois elas estavam temendo perder definitivamente os rendimentos. 

É improvável, na análise de Moura, uma situação similar acontecer em grandes instituições financeiras situadas no Brasil, mas em organizações bancárias menores, como os bancos digitais, o risco existe. Muitos têm optado por eles por motivos como praticidade e um menor número de taxas. Se eles forem os escolhidos, é preciso se atentar se estão cadastrados em corretoras sob o guarda-chuva do Banco Central. 

Outro ponto importante é de não reunir todo o dinheiro em um banco só. Caso as pessoas tenham grandes valores em conta, é aconselhável elas irem distribuindo o montante em mais de um banco para se sentirem mais seguras. Além disso, há um limite que pode ficar nas instituições bancárias (R$ 250 mil por CPF).

Lucas Eliel