Dólar fecha em alta de 0,25% com tensão doméstica política e fiscal

Dólar fecha em alta de 0,25% com tensão doméstica política e fiscal

Moeda norte-americana encerrou o dia cotada a R$ 5,18

AE

Moeda norte-americana encerrou o dia cotada a R$ 5,18

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A cautela prevaleceu no mercado de câmbio doméstico no primeiro pregão de setembro. As tensões políticas e fiscais domésticas - aliadas à queda das commodities por questões regulatórias e dados fracos na China - impediram o real de se beneficiar do enfraquecimento global da moeda dos Estados Unidos, após números ruins do emprego privado nos EUA reforçarem a tese de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) será muito cuidadoso na retirada de estímulos monetários.

Depois de trabalhar majoritariamente em queda pela manhã, o dólar passou a alternar ligeiras altas e baixas ao longo da tarde e se encaminhava para fechar perto da estabilidade. Com uma arrancada nos minutos finais da sessão, porém, acabou encerrando o dia a R$ 5,1849, alta de 0,25% - após correr entre mínima de R$ 5,1424 e máxima de R$ 5,1899.

Teria pesado no humor dos investidores a notícia, apurada pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), de que o Senado pode impor uma derrota ao governo nesta quarta-feira na votação de uma proposta que desmonta as regras que estabelecem parâmetros máximos para gastos de estatais com planos de saúde. Já aprovado na Câmara, o texto pode inviabilizar a privatização dos Correios.

Embora o ambiente externo seja favorável a divisas emergentes, players evitam apostas mais contundentes em uma nova rodada de apreciação do real, devido aos problemas locais. Além da novela dos precatórios e do reajuste do Auxílio Brasil (ex-Bolsa Família) - ainda sem um desenlace apesar do envio na terça do Orçamento de 2022 ao Congresso -, há temores sobre recrudescimento das tensões político-institucionais, em meio à espera pelas manifestações de 7 de setembro.

Para o head de câmbio da Acqua-Vero Investimentos, Alexandre Netto, a performance modesta do real nesta quarta em relação a outras divisas de emergentes é natural, já que houve uma apreciação muito forte da moeda brasileira nos últimos dias de agosto. "Assim como tinha subido muito rápido, para quase R$ 5,40, o dólar caiu também rapidamente e chegou até R$ 5,11. Isso gera oportunidades para realização de lucros e correções", afirma Netto, para quem o real ainda "tende a uma depreciação", por conta da antecipação do calendário eleitoral, que aumenta a pressão sobre os gastos do governo. "Podemos ter muito investidores montando posições defensivas nos próximos dias, com as manifestações do feriado de 7 de setembro", ressalta.

Pela manhã, o resultado aquém do esperado do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre lançou dúvidas sobre o ritmo de crescimento da economia brasileira, sobretudo diante do agravamento da crise hídrica. O PIB caiu 0,1% no segundo trimestre em relação ao primeiro, desempenho bem inferior à mediana de Projeções Broadcast, de alta de 0,2%. Diversas casas reduziram nesta quarta a estimativa para o PIB e elevaram as expectativas para a inflação, tanto neste ano quando em 2022.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, minimizou o resultado do PIB e reafirmou que a economista brasileira segue recuperação em forma de V. "Hoje saiu um dado (PIB), é praticamente de lado. Como foi -0,05%, arredondou para -0,1%. Se fosse -0,04% era zero", disse, durante lançamento da agenda legislativa da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo.

Em audiência pública na Câmara dos Deputados, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto afirmou que o BC deve revisar "um pouco para baixo" sua previsão para o PIB deste ano. Campos Neto disse, porém, que a inflação está pressionada e que o instrumento do BC para domar a alta de preços é elevar a taxa de juros.

Em que pese a falta de solução para o imbróglio fiscal, o economista-chefe e sócio da JF Trust, Eduardo Velho, afirma que o "discurso ortodoxo" do presidente do BC e o fluxo cambial devem dar suporte ao real. "Estimamos continuidade da queda do dólar, ainda inferior ao suporte rompido de R$ 5,22", afirma Velho.

A economista do Banco Ourinvest Cristiane Quartaroli destaca que, mesmo com o PIB fraco, o presidente do BC manteve o discurso de que precisa seguir firme para conter o avanço da inflação. "O crescimento mais fraco não será impeditivo para novas altas da Selic nos próximos meses", afirma a economista.

Dados do Banco Central mostram que houve entrada de recursos estrangeiro no mês passado. Em agosto (até o dia 27), o fluxo cambial foi positivo em US$ 3,783 bilhões, resultado de entrada líquida de US$ 2,455 bilhões pelo canal financeiro e US$ 1,328 bilhão via comércio exterior.

No exterior, o índice DXY - que mostra a variação do dólar frente a seis divisa fortes - operou em queda durante todo o pregão. A moeda americana também cedia em bloco na comparação com as divisas emergentes, com destaque para o rand sul-africano.

Dados do relatório ADP, de emprego privado nos Estados Unidos, mostraram criação de 374 mil vagas em agosto, bem abaixo do previsto por analistas (600 mil). Esses números aumentam a expectativa para a divulgação, na sexta-feira, do relatório de emprego (payroll) de agosto. O presidente do Fed, Jerome Powell, observou em diversas ocasiões que a recuperação do mercado de trabalho é fundamental para definição do início da redução da compra mensal de títulos.

Para Velho, da JF Trust, os dados do relatório ADP tendem "a reforçar a linha dovish" do Banco Central americano. "O payroll parece não vir tão elevado, reforçando as apostas de que o Fed ainda possa adiar o tapering", afirma Velho, em nota, acrescentando que a "queda expressiva da confiança do consumidor americano também realimenta a expectativa de adiamento da redução de estímulos.

Juros

Os juros futuros fecharam em alta, refletindo a piora dos cenários fiscal, político e inflacionário. A queda do PIB no segundo trimestre, somada ao aumento das chances de risco de racionamento de energia e a probabilidade de um aperto monetário ainda mais forte, traz perspectiva ruim para a economia neste e no próximo ano. A crise hídrica ameaça não só o PIB como também a inflação, e, especialmente após a divulgação da nova tarifa da bandeira vermelha na terça, várias instituições hoje revisaram para pior suas projeções para ambos.

Novas declarações em tom bélico do presidente Jair Bolsonaro nesta quarta-feira, dias antes das manifestações marcadas para 7 de setembro, a volta dos rumores de auxilio emergencial de até R$ 400 e a leitura de que uma solução para a questão dos precatórios via Judiciário subiu no telhado completam o quadro de aversão ao risco que pressionou as taxas.

A do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 6,805%, de 6,759% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 8,49% para 8,52%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 9,97%, de 9,954% na terça.

A JF Trust elevou a previsão de IPCA em 2021 e não descarta uma taxa acima de 9%. Embora o foco do Copom seja 2022, a escalada da inflação deste ano pressiona a inércia para o ano que vem. "Reestimamos nossa previsão do IPCA de 8,27% para 8,62%, após definição do reajuste da bandeira vermelha nível 2, mas sobretudo com as reestimativas da transmissão sobre a inflação de serviços", diz o economista-chefe, Eduardo Velho, para quem a alta das taxas futuras decorre do "orçamento desfigurado" que terá que ser ajustado no Congresso, inflação mais alta em 2021 pelos preços administrados e sem garantia da receita no Auxílio-Brasil.

No radar, ficou ainda a informação de que o gás de cozinha já subiu 7% devido a um ajuste feito pelas distribuidoras do produto. Rumores no setor indicam que a Petrobras também deverá reajustar o preço do combustível, que já acumula 38% de alta no ano.

"Os juros devem ficar altos por vários trimestres, assim como a inflação. Esta será agravada pelo custo da energia elétrica e por alguma alta nos preços dos serviços", afirma o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves.

Guedes reconheceu que uma alta antes pontual e transitória de preços "começa a ameaçar se transformar em aumentos permanentes", mas ressaltou que o Banco Central já está correndo atrás de controlar a inflação via aumento dos juros.

Uma boa dose do pessimismo com os fundamentos vem dos ruídos em Brasília. Os flertes do governo com o cenário de ruptura deixam o investidor desconfortável para posições aplicadas em juros, por mais atrativos que sejam os prêmios da curva. "Com flores não se ganha guerra. Se você fala de armamento... Se você quer paz, se prepare para a guerra", disse Bolsonaro, na quarta em cerimônia da Marinha.

Bolsa

Vindo de dois meses ruins, o Ibovespa iniciou setembro em tom moderadamente positivo, buscando reaproximação do nível de 120 mil pontos, em alinhamento ao dia majoritariamente favorável em Nova York, mesmo com leituras abaixo do esperado para a geração de empregos no setor privado americano em agosto e, no Brasil, a contração de 0,1% no PIB do segundo trimestre, na margem, resultou em revisões de estimativas econômicas por instituições financeiras, para o ano e/ou 2022, entre as quais JPMorgan, Goldman Sachs e Barclays.

Por outro lado, ambos os dados contribuem, respectivamente, para aliviar parte da pressão sobre o Federal Reserve e o BC brasileiro, em momento marcado aqui por tarifa elétrica ainda mais elevada, de "escassez hídrica", que redobra a atenção sobre a inflação.

Assim, de olho no copo meio cheio, o índice de referência da B3 fechou o dia em alta de 0,52%, a 119.395,60 pontos, entre mínima de 118.067,04 pontos e máxima a 119.941,95 pontos, após duas sessões de perdas. Na semana, ainda cede 1,06%, mas retorna nesta quarta a terreno positivo no ano, acumulando leve ganho de 0,32% em 2021. O giro financeiro ficou em R$ 29,9 bilhões na sessão.

Com nova tarifa para o intervalo de setembro a abril refletindo a crise hídrica, as ações do setor elétrico estiveram entre as campeãs desta quarta-feira, com ganhos perto ou acima de 3%, com destaque para Copel PNB (+3,80%), Cesp PNB (+3,50%) e Cemig PN (+3,40%).

No fechamento, Eletrobras PNB e ON mostravam alta, respectivamente, de 2,57% e de 2,79%. O presidente da empresa, Rodrigo Limp, disse nesta quarta que a resolução publicada na terça pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que estabelece os valores de outorga que serão pagos pela estatal no processo de privatização, segue o cronograma previsto, o que para ele é um sinal positivo.

Sobre a capitalização, Limp disse trabalhar com cronograma para fevereiro, embora se tenha também "Plano B". "Alinhamento do governo com o projeto é total", afirmou. Ele observou que se está, no momento, na fase de contratação do sindicato de bancos.

"Os índices de utilities e energia reagiram bem hoje ao aumento de tarifa, o mercado parece ter gostado, para além da questão se veio no nível ou no tempo certo", diz Alexandre Brito, sócio da Finacap Investimentos. "O PIB foi uma surpresa de certa forma, mas o PIB potencial ainda é bem significativo e os resultados das empresas, em boa parte, têm sido excelentes", acrescenta Brito, destacando companhias com 'valuation interessante', como Itaú (PN +0,42%), Vale (ON +0,17%) e Petrobras (ON -0,54%, PN -0,55%).

"Lá fora, há ainda a expectativa para o 'tapering' (retirada de estímulos monetários pelo Fed), bem sinalizado de que será anunciado e poderá começar este ano, de forma que não se espera a aversão vista no 'taper tantrum' (em 2013)", quando houve forte avanço nos rendimentos dos Treasuries, observa o gestor.

Em meio às incertezas, especialmente domésticas, a XP reduziu preço-alvo do Ibovespa no fechamento do ano, de 145 mil para 135 mil pontos. "Em agosto, vimos os mercados no Brasil andarem na contramão do mundo novamente, por conta primordialmente de riscos domésticos, atrelados à trajetória fiscal futura, na medida em que o debate, em preocupações com as eleições, já foram antecipados", apontam em relatório o estrategista-chefe e head de research, Fernando Ferreira, e a estrategista de ações, Jennie Li.

"Acreditamos que o mercado levará mais tempo para 'voltar às médias históricas', dados os riscos, além de uma discussão sobre a sustentabilidade dos altos preços das commodities, que têm impulsionado parte significativa das revisões de resultados nos últimos tempos", acrescentam os estrategistas, fazendo a ressalva de que a relação risco/retorno ainda é "bastante favorável nos preços atuais para as ações brasileiras".

"Descolando do exterior, a Bolsa já vem sofrendo há algum tempo o efeito dos riscos político e fiscal, a própria questão do PIB, abaixo do esperado, e a crise hídrica. Talvez esta leve alta de hoje contribua para nos deixar um pouco mais em sintonia com o resto do mundo", diz Flávio de Oliveira, head de renda variável da Zahl Investimentos.

Na ponta do Ibovespa nesta quarta-feira, destaque para Marfrig (+4,88%), à frente de Americanas ON (+4,11%) e Eneva (+4,02%). Na ponta oposta, Cielo (-3,14%), PetroRio (-2,82%) e Sul América(-2,66%).

 


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