Dólar sobe 5,5% em janeiro e tem maior alta desde março de 2020
Moeda norte-americana encerrou o mês cotada em R$ 5,47
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O dólar subiu 5,5% ante o real em janeiro, a maior alta desde março do ano passado, quando a pandemia começou no País e a divisa dos Estados Unidos disparou 16%. A moeda brasileira teve o pior desempenho no mercado internacional neste mês, com a deteriorada situação fiscal do Brasil impedindo recuo maior do dólar, mesmo com fluxo externo forte.
Em outros emergentes, a moeda norte-americana teve valorização menos intensa, subindo 4,5% na Colômbia, 3,1% na África do Sul e 2,5% no México. Na Turquia, caiu 1,8%.
Nesta sexta-feira, houve novo dia de alta, em meio a preocupações com as eleições no Congresso na segunda, possível greve dos caminhoneiros e um ambiente externo avesso ao risco, por conta de temores sobre o alcance dos movimentos especulativos com ações em Nova York, com gestores falando até de ameaça à estabilidade financeira.
Além disso, foi dia de definição do referencial Ptax, usado em contratos cambiais e balanços. O dólar à vista terminou em alta de 0,71%, a R$ 5,4745. O dólar para março, que nesta sexta passou a ser o contrato mais líquido, subiu 0,38%, a R$ 5,4660.
"Os riscos para a piora do cenário no Brasil estão crescendo", avalia o economista-chefe para mercados emergentes da consultoria inglesa Capital Economics, William Jackson. Ele comenta sobre a chance de greve dos caminhoneiros, marcada para a segunda-feira, dia 1º, e a possibilidade de o governo fazer concessões ao setor, para evitar o estrago provocado pela greve de maio de 2018. Ou seja, novo risco para as contas fiscais, que acabaram tendo rombo menor que o esperado em 2020, mas seguem piores que os emergentes.
Além disso, Jackson destaca que há também no dia 1º de fevereiro a eleição para os comandos da Câmara e do Senado, com os candidatos apoiados pelo Planalto com clara chance de vitória. A dúvida é como vão andar as reformas em seguida e se haverá prorrogação do auxílio emergencial. A Capital Economics projeta que o dólar vai seguir forte no Brasil, mesmo com tendência de queda no exterior. Para o fim do ano, a estimativa é que a moeda americana fique em R$ 5,50. Ao fim de 2022, vá a R$ 5,75.
Os economistas do Bradesco também veem o real mais enfraquecido, sobretudo neste começo de 2021. "Diante da perspectiva de menor crescimento e das incertezas fiscais, o real deve se manter pressionado neste início de ano", afirma relatório do banco.
O Bradesco cortou a previsão de crescimento da economia brasileira este ano de 3,9% para 3,6%, por conta do avanço da pandemia. "Enquanto não for descartada a hipótese de um estímulo fiscal amplo em 2021, a moeda tende a se manter bastante descolada dos pares."
Por ora, o Bradesco ainda vê o governo respeitando o teto e adoção de novos estímulos fiscais, se houver, será em nível menor que 2020 e também por prazo mais curto. Com isso, manteve a previsão de dólar a R$ 5,00 ao final do ano.
Juros
O discurso mais hawkish do Banco Central, que fez diversas instituições anteciparem as projeções para aumento da Selic, e a aposta da vitória do governo nas eleições do Congresso fizeram com que a curva de juros tivesse desinclinação forte nesta semana. O diferencial entre as taxas do DI para janeiro de 2022 e janeiro de 2027 passou de 411 pontos-base na sexta-feira passada para 371 pontos nesta sexta - nível esse, aliás, mais baixo do que a média do mês de janeiro (385).
A taxa do Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 caiu de 3,366% a 3,305% (regular estendida). O janeiro 2023 cedeu de 4,931% para 4,83% (regular, na mínima) e 4,835% (estendida). O janeiro 2025 passou de 6,465% a 6,32% (regular, na mínima) e 6,34% (estendida). E o janeiro 2027 recuou de 7,144% a 7,010% (regular e estendida).
A liquidez da sessão, porém, foi baixa nesta sexta, o que intensificou os movimentos, especialmente na hora final de negócios. Foram negociados nesta sexta-feira 559.765 contratos do janeiro 2022, 302.365 do janeiro 2023, 146.585 do janeiro 2025 e 65.230 do janeiro 2027. As médias do mês foram, respectivamente, 634 mil, 439 mil, 160 mil e 83 mil. De todo modo, as tendências do desenho da curva não se alteraram.
Os juros futuros vieram desinclinando gradualmente desde que o Banco Central retirou o forward guidance e manifestou preocupação com a inflação subjacente, no comunicado da decisão da Selic, e expôs o debate a respeito de alta da Selic, na ata divulgada na terça-feira cedo.
A exceção dessa desinclinação gradual desde o Comitê de Política Monetária (Copom) foi a sessão de sexta-feira passada, marcada pelo estresse com as críticas de Rodrigo Pacheco (DEM-MG), candidato do governo ao comando do Senado, ao teto de gastos.
Assim, o mercado acabou absorvendo a declaração de Pacheco e, em meio à aposta da vitória dupla do governo (com Arthur Lira na Câmara dos Deputados), a expectativa é de que a agenda da equipe econômica destrave no Congresso.
Levantamento do jornal O Estado de S. Paulo mostra que o senador pelo DEM de Minas Gerais tem 33 dos 41 votos necessários para vencer e o deputado do Progressistas de Alagoas, 217 dos 257.
Além da questão das reformas, a Capital Economics também cita a preocupação do mercado acerca de um debate em torno de um impeachment de Jair Bolsonaro em caso da vitória de Baleia Rossi (MDB-SP) à Presidência da Câmara.
A consultoria britânica vê o deputado, aliado de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e da esquerda, como "mais receptivo" a iniciar esse processo. O emedebista, contudo, tem somente 126 votos declarados.
Bolsa
O Ibovespa chega ao fim deste primeiro mês de 2021 de forma diversa da que encerrou 2020, quando havia acumulado ganho de 15,90% em novembro e de 9,30% em dezembro, virando o jogo na reta final do ano da pandemia para obter leve alta de 2,92% no período. Neste janeiro de 2021, mês em que o índice renovou no dia 8 o topo histórico, a 125 mil pontos, o Ibovespa se inclinou à realização de lucros a partir da segunda semana, colhendo ao fim perda de 3,32%, com variação negativa de 1,97% no último intervalo de quatro sessões.
O índice veio de perdas de 2,47% e 3,78% nas duas semanas anteriores, após salto de 5,09% na primeira do mês - a série de três recuos semanais foi a pior desde o intervalo entre 31 de agosto e 2 de outubro, quando emendou cinco semanas no vermelho.
Nesta sexta, na reta final, chegou a perder a linha de 115 mil pontos, na mínima da sessão, e dela não conseguiu se distanciar muito no fechamento. Ao final, mostrava queda de 3,21%, a 115.067,55 pontos, menor nível desde 14 de dezembro e, em porcentual, a maior perda deste começo de ano - e também a maior desde 28 de outubro (-4,25%).
O sentimento começou a piorar ainda no início da tarde, acompanhando Nova York, após declarações da Casa Branca sobre a relação EUA-China. À tarde, o índice foi dos 117.650,97, que mostrava ao meio-dia, a 114.973,00 na mínima, às 17h49, saindo de máxima na abertura a 118.879,90 pontos - entre piso e teto, a variação, que se mostrava contida até a virada para a tarde, chegou a 3,9 mil pontos, superando à da quinta, então em viés positivo. O giro nesta sexta foi de R$ 37,8 bilhões.
Aqui, a semana chega ao fim em meio à grande expectativa para a eleição das presidências da Câmara e do Senado, na segunda-feira, bem como para possível paralisação de caminhoneiros, em contexto ainda mais difícil do que o da greve de maio de 2018. Na próxima semana, a atenção se volta também para a temporada de balanços do quarto trimestre, que ganha força com o anúncio dos resultados de grandes instituições financeiras, como Itaú, Bradesco e Santander, entre segunda e quarta-feira.
Para complicar o cenário, o concerto de pequenos investidores contra grandes fundos no "short squeeze" da GameStop visto nesta semana, e que teria inspirado movimento atípico na quinta na ação do IRB, em alta de quase 18%, acrescentou adrenalina nesta beira de fim de semana.
Pela manhã, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) fez alerta de que tentativa combinada de se atuar sobre os preços pode caracterizar ilícito administrativo e penal. Nesta tarde, a B3 manteve IRB ON em leilão, a partir das 16 horas. "Começa a ficar meio sistêmico, um grupo organizado querendo causar caos no mercado financeiro, com danos para fundos - se vier a ficar recorrente, há a possibilidade de contrapartes ficarem sem condições de pagar. É um ponto de atenção que tem causado mal-estar no mercado, fazendo preço", diz Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante.
Assim, o mau humor se disseminou nesta sexta por empresas e setores, com poucas exceções à forte correção, como Braskem (+1,64%) e Marfrig (+0,08%), as únicas ações do Ibovespa a registrar ganhos na sessão. No lado oposto, CSN caiu 8,27%, à frente de IRB (-6,13%) e de Ecorodovias (-6,04%), Entre as blue chips, Petrobras PN e ON perderam respectivamente 3,85% e 4,44%, ambas nas mínimas do dia no encerramento, enquanto Vale ON cedeu 3,46%. Destaque também para o setor de bancos, com quedas entre 1,97% (BB ON) e 3,57% (Itaú PN).
Em outro desdobramento negativo desta sexta-feira, as palavras da porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, de que o presidente Joe Biden permanece "comprometido" com o esforço bipartidário para aprovação de pacote fiscal, foram obscurecidas pela retórica sobre a China, o que contribuiu para piorar o desempenho dos mercados de Nova York, que fecham a semana acumulando perda acima de 3%.
Ela disse que o novo governo americano avalia eventuais ajustes na relação bilateral e deseja estar "em posição de força" quanto a Pequim. A porta-voz afirmou também que as relações estão "sob revisão", o que inclui o acordo comercial fechado pelo então presidente Donald Trump, que contribuía no início do ano passado para melhorar a percepção de risco dos investidores, antes do novo coronavírus assumir a proeminência, ainda no fim daquele mês.