Preço do diesel nos postos do Brasil quase dobra nos últimos três anos

Preço do diesel nos postos do Brasil quase dobra nos últimos três anos

Combustível teve alta de 125,3% desde que a política de preço de paridade internacional foi implementada, em outubro de 2016

R7

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O preço do óleo diesel aumentou 96% nos postos de combustíveis do país, ou seja, para os consumidores, nos últimos três anos. Segundo dados do Dieese (Departamento Sindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) e da FUP (Federação Única dos Petroleiros), o reajuste nas refinarias foi ainda maior, de 165% no mesmo período.

O valor médio do litro registrado na última semana nos postos, entre os dias 15 e 21 de maio, pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), atingiu R$ 6,943, maior preço da série histórica, desde 2004.

A evolução vem desde outubro de 2016, quando foi instituída a nova política de preços da Petrobras, a PPI. Desde então, a alta chega a 125,3%.

O economista do Dieese Cloviomar Cararine explica que a alta do combustível tem relação justamente com a paridade de preços internacionais. “O primeiro problema é que a Petrobras adota uma política de preços de paridade de importação. O segundo tem relação com escolhas que o governo federal fez de redução da produção nacional de diesel".

O Brasil não é autossuficiente em diesel e, por isso, depende de importação para suprir a demanda interna. Dessa forma, de acordo com Cararine, a saída teria sido investir na produção nacional, o que estava sendo feito até 2014, quando a Lava-Jato começou. “Em 2009 e 2010, o governo brasileiro e a Petrobras decidiram abrir quatro novas refinarias, para fazer com que o país importasse menos diesel. Mas, com a Lava-Jato, as obras foram paralisadas e o Brasil passou a não produzir condições para aumentar a produção nacional do produto”, explica.

Atualmente, são várias as empresas estrangeiras que atuam na importação do diesel no Brasil e existe uma pressão para que a política de paridade de preços internacionais seja praticada em solo nacional.

A partir de outubro de 2016, a principal empresa brasileira adota uma política de preços que equipara o preço dos combustíveis aos praticados internacionalmente e, portanto, o governo brasileiro não mais atua diretamente para aumentar ou abaixar o preço dos produtos.

Na última terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro demitiu o presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, justamente por ele ter se recusado a vender o diesel com desconto aos consumidores. A recusa estava relacionada à possível escassez que isso geraria no mercado interno. Isso porque, no segundo semestre, as novas safras da agricultura serão retiradas e a demanda pelo combustível deve aumentar consideravelmente.

“Deve haver um recorde na produção de alimentos e precisaremos aumentar o consumo do diesel e, como se sabe, o Brasil precisa importar o produto. O Brasil precisará reduzir o preço, mas como a importação é muito grande, não vai conseguir. O cenário preocupa e a situação piora quando troca o comando da Petrobras porque cria uma instabilidade muito grande no mercado e até mesmo dentro da própria empresa”, diz o economista.

Além disso, esse aumento contínuo e elevado do diesel tem efeito importante na inflação. Isso porque o espalhamento é generalizado em diversas áreas e setores, já que “é largamente utilizado nas máquinas e equipamentos do setor rural, tem efeito no transporte de qualquer produto que circule pelo Brasil, e também nos transportes urbanos, porque os ônibus têm sua matriz de consumo atrelada ao diesel”, explica.

Nesta semana, foi divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a prévia da inflação para maio. O índice fechou em alta de 0,59%, maior valor desde 2016 para o mês. “Com 80% dos produtos subindo, sem dúvida estamos vivendo um movimento de espalhamento da inflação”, avalia o economista do Dieese.

Nesse sentido, o governo federal tem tentado dividir a responsabilidade do aumento dos combustíveis com os estados e, atualmente, existe uma disputa judicial sobre o ICMS, principal tributo estadual que incide sobre o diesel, a gasolina e o gás de cozinha. De acordo com o economista do Dieese, reduzir os impostos não resolveria o problema.

“O preço do diesel é formado pela refinaria, o preço do biodiesel, os tributos federais e estaduais, a margem das distribuidoras e dos postos de gasolina. Essa é a composição do preço do diesel. O ICMS, principal imposto estadual, contribuía com 14,6% com o preço do diesel em 2012. Hoje, é 14,2%, um pouco menor”, afirma.

Por isso, o economista argumenta que a alta dos combustíveis não passa pelos impostos estaduais, mas sim pela política de preço de paridade internacional e pela falta de autossuficiência em diesel em solo nacional.


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