Ônibus e lotações em Porto Alegre amargam perdas com reajustes do diesel

Ônibus e lotações em Porto Alegre amargam perdas com reajustes do diesel

Empresas do transporte seletivo estão "vendendo patrimônio" para poderem se manter, diz presidente de associação

Felipe Faleiro

Presidente da ATL também afirma que sistema "está na UTI"

publicidade

Ônibus e lotações em Porto Alegre estão sendo fortemente impactados pelos aumentos nos preços dos combustíveis. No caso do transporte seletivo, porém, este é apenas um dos problemas, que se soma à mudança nos formatos de tarifas aos passageiros por parte da Prefeitura. Nas palavras da representação do setor, há inclusive uma ameaça à sua sobrevivência. “O sistema lotação está na UTI, precisando urgentemente de oxigênio, mas ele não chegou ainda”, desabafa o presidente da Associação dos Transportadores de Passageiros por Lotação de Porto Alegre (ATL), Magnus Isse.

Segundo ele, a situação está fazendo com que algumas empresas estejam vendendo patrimônio para manter o sistema operando. “A carga de óleo diesel, que pagávamos em torno de R$ 15 mil em novembro e dezembro de 2021, hoje custa R$ 35 mil. Algumas peças e acessórios triplicaram de preço. Tudo o que é importante neste país, alimentos, transporte, tudo é movido a óleo diesel, e hoje ele está mais caro do que a gasolina. Não sei como será o futuro”, salienta.

A isenção do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) para a tarifa dos ônibus, aprovada ainda em 2013, o que reduziu a passagem na época, foi um dos que afetou o serviço das lotações. “Estamos há oito anos pagando o ISSQN sem ser necessário. Como somos atrelados ao sistema ônibus, teoricamente deveríamos ser isentos também”, argumenta Isse. A Câmara Municipal aprovou, na semana passada, por unanimidade, projeto de lei que insere um “gatilho” para a tarifa de lotações de acordo com o preço da passagem do ônibus.

A Prefeitura diz também aguardar votação no Legislativo para isentar também as lotações do ISSQN por dois anos, projeto solicitado pela própria ATL e que foi protocolado em abril na Câmara. Hoje, operadores deste transporte pagam 2,5% de imposto municipal. Além disto, há a discussão sobre o aporte de recursos da Administração, que bancam o congelamento da tarifa da Capital, hoje em R$ 4,80 – as transportadoras de ônibus pedem o valor em R$ 6,65.

A ATL pede que o mesmo tipo de aporte seja feito nas lotações. “Há uma morosidade muito grande. Ficamos até seis meses parados, sem trabalhar, na pandemia. Os veículos depreciam e têm prestações altíssimas. Só ganhamos dinheiro do passageiro, então temos que trabalhar. Infelizmente, pela atitude que nossos governantes tomaram, associada a esta inflação violenta do diesel, acabamos chegando nesta situação”, comenta o presidente da associação.

Nos ônibus, o problema dos preços dos combustíveis é semelhante. A Associação Riograndense de Transporte Intermunicipal (RTI) se manifestou por meio de sua assessoria de imprensa. “O diesel foi o insumo que teve o maior custo nos últimos doze meses entre todos os itens do transporte de passageiros, causando um impacto muito grande às empresas que vivem uma crise sem precedentes”, aponta. O órgão diz que avalia com o governo do Estado a melhor forma de enfrentar a situação.

O Estado, por sua vez, deve aderir à nova regra para o cálculo ICMS do diesel, que entra em vigor no próximo dia 1º, e que deverá reduzir o preço de referência do combustível em quase um real, segundo afirma o governo. Em Porto Alegre, a Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP) disse que “a alta dos combustíveis impacta diretamente nos investimentos das empresas na melhoria do transporte coletivo”. Conforme a ATP, eles representam em torno de R$ 1,30 na tarifa técnica dos ônibus na Capital, que é estimada em R$ 5,60, e, de janeiro para cá, o combustível subiu cerca de 23%, afetando diretamente nos custos totais do sistema.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895