Acervo do Museu Nacional continha fóssil mais antigo da América Latina

Acervo do Museu Nacional continha fóssil mais antigo da América Latina

Arcada humana e maior meteorito brasileiro também estavam no local

AFP e Agência Brasil

Incêndio consumiu o prédio que foi sede da família real no Brasil

publicidade

Fundado em 1818, o Museu Nacional é um dos mais antigos do Brasil, uma instituição científica de grande importância, com mais de 20 milhões de peças valiosas. Entre os destaques do acervo estão a coleção egípcia, que começou a ser adquirida pelo imperador Dom Pedro I, a coleção de arte e artefatos greco-romanos da Imperatriz Teresa Cristina, coleções de Paleontologia que incluem o Maxakalisaurus topai, dinossauro proveniente de Minas Gerais e o mais antigo fóssil humano já encontrado no país, batizado de "Luzia".

• Falha em hidrantes colaborou para que fogo se alastrasse, dizem Bombeiros

Também conta com outros tesouros, como o maior meteorito encontrado no Brasil, batizado como "Bendegó" e que pesa 5,3 toneladas. Uma coleção de peças que envolve um período de quase quatro séculos, desde a chegada dos portugueses ao atual território do Brasil, em 1500, até a proclamação da República, em 1889. "Incalculável para o Brasil a perda do acervo do Museu Nacional. Hoje é um dia trágico para a museologia de nosso país. Foram perdidos duzentos anos de trabalho, pesquisa e conhecimento. O valor para nossa história não se pode mensurar, pelos danos ao prédio que abrigou a família real durante o Império. É um dia triste para todos brasileiros", afirmou o presidente Michel Temer em um comunicado.

O vice-diretor do museu, Luiz Fernando Dias Duarte, afirmou sentir um "desânimo profundo" e uma "raiva imensa". "Todo o arquivo histórico, que estava armazenado em um ponto intermediário do edifício, foi totalmente destruído. São 200 anos de história que se foram". Ele acusou as autoridades de falta de atenção e disse que nunca teve um apoio eficiente e urgente para a adequação do palácio, que foi a residência oficial da família real e imperial. "Lutamos há anos, em diferentes governos, para obter recursos para preservar adequadamente tudo o que foi destruído hoje", afirmou.

O ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, admitiu no Twitter que "a tragédia poderia ter sido evitada". "Os problemas do Museu Nacional foram se acumulando ao longo do tempo. Não começaram este ano. Em 2015, por exemplo, foi fechado por falta de recursos para sua manutenção", recordou o ministro, no cargo desde 2017. "A revitalização iria começar agora, com o patrocínio do BNDES. O projeto previa a proteção contra incêndio", destacou, ao recordar que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social assinou em junho um contrato de 21,7 milhões de reais com o museu.

Vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Museu Nacional sofreu cortes de financiamento nos últimos anos e vários espaços foram fechados ao público. O lugar já foi residência oficial da família imperial brasileira. Dom João VI inaugurou em 1818 o museu com o nome de Museu Real, que funcionou primeiramente no Campo de Santana, no centro do Rio.  

Conheça alguns itens do Museu Nacional:

- Um dos mais importantes itens é um fóssil humano, achado em Lagoa Santa, em Minas Gerais, em 1974. Batizado de Luzia, fazia parte da coleção de antropologia. Trata-se do fóssil de uma mulher que morreu entre 20 e 25 anos e seria a habitante mais atinga das Américas.

- Outra preciosidade é o maior meteorito já encontrado no Brasil, chamado de Bendegó e pesa 5,36 toneladas. A pedra é de uma região do sistema solar entre os planetas Marte e Júpiter e tem mais de 4 bilhões de anos. O meteorito foi achado em 1784, no sertão da Bahia, na localidade de Monte Santo. Quando foi encontrado era o segundo maior do mundo. A pedra integra a coleção do Museu Nacional desde 1888.

- Dom Pedro arrematou em 1826 a maior coleção de múmias egípcias da América Latina. São múmias de adultos, crianças e também de animais, como gatos e crocodilos. A maioria das peças veio da região de Tebas.

História

Fundado por Dom João VI em 6 de junho de 1818 sob a denominação de Museu Real, o museu foi inicialmente instalado no Campo de Santana, reunindo o acervo legado da antiga Casa de História Natural, popularmente chamada "Casa dos Pássaros", criada em 1784 pelo Vice-Rei Dom Luís de Vasconcelos e Sousa, além de outras coleções de mineralogia e zoologia. A criação do museu visava a atender aos interesses de promoção do progresso sócio-econômico do país através da difusão da educação, da cultura e da ciência. Ainda no século XIX, notabilizou-se como o mais importante museu do seu gênero na América do Sul.

Foi incorporado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1946. O Museu Nacional abrigava um vasto acervo com mais de 20 milhões de itens, englobando alguns dos mais relevantes registros da história brasileira no campo das ciências naturais e antropológicas, bem como amplos e diversificados conjuntos de itens provenientes de diversas regiões do planeta, ou produzidos por povos e civilizações antigas. Formado ao longo de mais de dois séculos por meio de coletas, escavações, permutas, aquisições e doações, o acervo é subdividido em diversas coleções. É a principal base para as pesquisas desenvolvidas m todas as regiões do país e em outras partes do mundo, incluindo o continente antártico.

Possuia uma das maiores bibliotecas especializadas em ciências naturais do Brasil, com mais de 470 mil volumes e 2,4 mil obras raras. No campo da educação, o museu oferece cursos de extensão, especialização e pós-graduação em diversas áreas do conhecimento, além de exposições temporárias e atividades educacionais. Administra o Horto Botânico, ao lado do Palácio de São Cristóvão, além do campus avançado na cidade de Santa Teresa, no Espírito Santo - a Estação Biológica de Santa Lúcia, mantida em conjunto com o Museu de Biologia Professor Mello Leitão. Um terceiro espaço no município de Saquarema é utilizado como centro de apoio às pesquisas de campo. 



Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895